O que explica a queda no número de desbancarizados no país
O sucesso das contas digitais e as facilidades oferecidas pelos superapps dos bancos, entre outros fatores, levaram mais gente a ingressar no sistema financeiro, o que é uma ótima notícia
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Auxílio emergencial, facilidade em abrir contas em bancos digitais e Pix ajudam a explicar salto de bancarização no país (Hirurg/Getty Images)
Publicado em 27 de janeiro de 2023, 07h30.
É de imaginar que muitos brasileiros guardavam dinheiro debaixo do colchão – e muitos continuam. De acordo com o Banco Central, 22,7 milhões de pessoas ingressaram no sistema financeiro do país desde que começou a pandemia. O que isso significa? Que toda essa multidão passou, enfim, a ter algum tipo de conta corrente ou poupança e, segundo especialistas, isso é ótimo para o país.
Pouco antes do início da quarentena, em 2019, o Brasil tinha 165,6 milhões de bancarizados. Hoje, já são 188,3 milhões – um salto de quase 14%. Para chegar a esses dados, o órgão só considera os relacionamentos ativos dos clientes com o sistema financeiro. E leva em conta apenas o total de CPFs, independentemente do número de bancos com os quais cada pessoa tem vínculo. Hoje em dia, estima-se, os desbancarizados correspondem a 16% da população adulta.
Em 2020, a quantidade de contas atreladas a CPFs subiu 8,66% e essa alta é creditada, principalmente, ao pagamento do chamado coronavoucher – o auxílio emergencial criado para diminuir o impacto da Covid-19 na vida dos brasileiros mais economicamente vulneráveis. Para conseguir pagar o benefício, o governo federal abriu conta para todos os beneficiários (os informais que não estavam em nenhuma base de dados oficial precisaram recorrer a órgãos federais para informar seus dados). Tudo isso contribuiu, sobretudo, com a bancarização das classes C, D e E.
PIX também é responsável pela redução de desbancarizados
Há outros fatores, no entanto, que explicam a queda cada vez maior do número de desbancarizados. Um deles é o Pix, que tem ajudado a reduzir o dinheiro vivo em circulação. De acordo com o Banco Central, esse meio de pagamento atingiu a marca de 536 milhões de cadastros (corresponde ao total de chaves criadas até agora). Mais de 129 milhões de pessoas físicas utilizam a ferramenta, que virou mais um incentivo para a turma desbancarizada ingressar no sistema financeiro.
A digitalização dos bancos também teve papel crucial nesse salto de contas bancárias – é graças a ela que todo mundo pode abrir uma conta remotamente, hoje em dia, e em poucos instantes – e do sucesso dos superapps desenvolvidos por essas instituições. Atualmente, eles permitem realizar quase todo tipo de transação e é por isso que muita gente nem se lembra da última vez que pisou numa agência bancária.
“As contas digitais resolvem um dos grandes problemas dos desbancarizados: ir até as agências bancárias, o que demanda tempo e dinheiro”, afirma Maurício de Almeida Prado, diretor-executivo da consultoria Plano CDE. “E oferecem uma solução sem custo de mensalidade e sem custo de transação graças ao Pix”. A concorrência entre os bancos também aumentou, melhorando a qualidade dos serviços oferecidos para a população.
Há mais vantagens. “Pessoas bancarizadas podem começar a fazer pagamentos com mais segurança, deixando de andar com dinheiro em espécie, e podem acessar produtos e serviços como crédito e seguros”, lembra Almeida Prado.
Ele alerta, no entanto, para o fato de que a bancarização não é sinônimo de inclusão financeira. “Para que essa última ocorra, os bancos devem ajudar seus novos clientes a compreender as regras e as condições atreladas aos produtos”, recomenda. “É importante que todo novato aprenda a usar e aproveitar os benefícios de uma conta formal. Caso se enrole, pode ficar traumatizado e não usar a conta nunca mais”.
Qual é o principal entrave para o número de bancarizados crescer a um ritmo ainda mais veloz? “A principal barreira para a maior bancarização está no baixo letramento digital de parte da população, sobretudo a mais idosa e mais vulnerável”, resume o diretor-executivo da Plano CDE.
A queda no número de desbancarizados também é uma ótima notícia para a economia. “A formalização das transações possibilita aos bancos a compreensão do histórico dos clientes e a ampliação do acesso ao crédito formal”, diz Almeida Prado. “Esse crédito, quando bem aplicado, tem potencial de ampliar pequenos negócios e, consequentemente, o nosso PIB”.
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