Criptomoedas tiveram avanços apesar do ano difícil em 2022 (Jirapong Manustrong/Getty Images)
O ano de 2022 vai ficar marcado como um período desafiador para o mundo das criptomoedas, que precisou enfrentar uma série de crises. De um cenário macroeconômico desfavorável à falência da segunda maior corretora de criptoativos do mundo, o mercado operou em baixa ou estabilidade na maioria dos meses.
Mesmo assim, o setor também teve algumas notícias positivas. A principal foi que, mesmo com um cenário adverso, a adesão por investidores e empresas continuou a crescer no Brasil e no mundo. E o Brasil também se tornou um dos primeiros países a adotar uma regulamentação específica para os criptoativos.
Por isso, a EXAME reuniu os principais acontecimentos no mundo das criptomoedas ao longo de 2022, confira!
O início de 2022 foi marcado também pelo começo de um período tradicionalmente ruim para o setor, o chamado inverno cripto. O termo é uma forma de se referenciar ao tradicional bear market, ou mercado de urso, que ocorre quando o setor financeiro enfrenta um período de baixo investimento e ações em queda.
No caso das criptomoedas, assim como em diversos setores tradicionais, esse quadro foi desencadeado pela série de altas de juros em grandes economias para combater níveis recordes de inflação, com destaque para os Estados Unidos. Só o bitcoin, maior cripto do mundo, caiu mais de 60% em um ano.
Apesar da primeira alta de juros nos EUA ter ocorrido apenas em março de 2022, a expectativa do início desse movimento já derrubou os criptoativos alguns meses antes. Conforme esse ciclo de alta se estendeu pelo ano, os ativos foram respondendo positiva ou negativamente a novidades, incluindo com longos períodos de estabilidade.
Um dos eventos mais aguardados pelos investidores finalmente ocorreu em 2022: a atualização da rede Ethereum, um dos principais blockchain do mercado cripto. Apelidada de “The Merge”, ela permitiu, em setembro de 2022, a passagem do mecanismo de consenso da rede para a prova de participação (proof-of-stake, em inglês), substituindo a prova de trabalho (proof-of-work).
A atualização trouxe uma série de mudanças para a Ethereum e sua criptomoeda, o ether. O consumo de energia na geração do ativo caiu em mais de 90%, mas surgiram uma série de críticas sobre uma aparente concentração maior no blockchain. Além disso, o criptoativo se tornou deflacionário pela primeira vez.
Com isso, o “The Merge” alterou significativamente o funcionamento da Ethereum e sua lógica de funcionamento. E o blockchain não foi o único que mudou em 2022. A Cardano também foi atualizada com o Vasil, que aumentou a segurança e a velocidade da rede.
Um dos grandes choques que atingiu o setor de criptomoedas neste ano foi o colapso do blockchain Terra, que levou consigo seu token nativo, a Luna, e sua stablecoin, a UST. Tudo começou quando a Luna teve fortes quedas na sua cotação devido ao cenário econômico negativo.
Como a paridade da UST com o dólar era garantida pela criptomoeda, a sua queda fez com que a cotação fosse perdida, e então deu início a um movimento em massa de retirada de investimentos no ecossistema Terra. Em maio, a Luna caiu mais de 99%.
Como consequência, milhares de investidores tiveram prejuízos financeiros, empresas ligadas ao ecossistema quebraram e o seu fundador, Do Kwon, está foragido desde então, acusado de ter enganado o público.
Apesar dos tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em ingês) terem tido um ano difícil em termos de valor de mercado, o segmento ainda conseguiu registrar marcos importantes em termos de tamanho e adesão.
Alguns dos principais avanços estão ligados à Yuga Labs. A empresa comprou neste ano os direitos sobre a coleção Cryptopunks e viu esses NFTs baterem recordes de preços junto com sua coleção original, a Bored Ape Yacht Club (BAYC).
A BAYC também se tornou a coleção mais cara do mundo conforme foi se popularizando e ganhando adeptos entre os famosos. O cantor Justin Bieber, o jogador de futebol Neymar e a atriz Gwyneth Paltrow foram algumas das celebridades que entraram na onda, impulsionando os NFTs.
Poucos eventos pegaram o mercado de criptomoedas de surpresa como a falência da FTX. Até novembro de 2022, ela era a segunda maior exchange do mercado, mas em poucos dias seu fundador, Sam Bankman-Fried, viu seu império ruir, culminando na falência da empresa.
A crise começou quando informações financeiras de outra empresa de Bankman-Fried, a Alameda Research, levantaram questionamentos sobre a saúde financeira da FTX, junto com temores de mal uso de fundos de clientes.Em poucas horas, uma onda de pedidos de retirada não conseguiram ser atendidos pela exchange, que congelou saques e, pouco depois, faliu.
No meio do caminho, ainda houve uma discussão entre o agora ex-CEO da FTX e seu rival, o CEO da Binance Changpeng Zhao, que depois se ofereceu para comprar a concorrente mas desistiu. Agora, Bankman-Fried está preso e já foi processado nos EUA, enquanto a FTX é investigada e tenta, ao menos, pagar suas dívidas bilionárias.
Ainda em 2022, o Brasil se juntou ao pequeno grupo de países que possui uma regulamentação específica para as criptomoedas. O projeto de lei sobre o tema foi aprovado no Senado em abril e na Câmara em novembro, recebendo em dezembro a sanção presidencial para entrar em vigor em 180 dias.
Ele estabelece uma definição para o que é uma criptomoedas, medidas de proteção de consumidores e permitirá a atuação de órgãos reguladores, pontos bem-vistos no mercado. Entretanto, foi criticado por deixar de lado a discussão sobre segregação patrimonial.
A Copa do Mundo do Qatar acabou sendo uma oportunidade para estreitar os laços entre o mundo dos esportes e das criptomoedas. A relação ganhou novidades que foram de patrocínios, incluindo o da exchange Crypto.com no torneio, à adesão cada vez maior de times aos chamados fan tokens.
Os criptoativos específicos de clubes são considerados uma forma de estreitar os laços entre fãs e times, e também permitem ações exclusivas como recebimento de lucros com transações ou voto para algumas decisões. Times como o Grêmio entraram na onda em 2022.
Houve, além disso, uma explosão de NFTs de clubes, atletas e eventos. E o futebol não foi o único esporte que se aproximou mais do setor. Da Fórmula 1 ao basquete, diversas empresas anunciaram patrocínios e parcerias com equipes e atletas.
O mundo das criptomoedas também presenciou uma série de falências de 2022. Uma das maiores foi a da Celsius, uma plataforma de negociação que quebrou em julho deste ano, congelando ativos dos clientes e levando a perdas bilionárias.
O quadro econômico negativo, piorado com o caso Terra, afetou também outra gigante do setor, o fundo de investimentos Three Arrows Capital, que faliu no mesmo mês que a Celsius. Outras empresas da área de empréstimos com criptoativos também quebraram nesse período, caso da Voyager.
Houve, ainda, algumas que conseguiram sobreviver por alguns meses mas acabaram sendo vítimas de outra grande falência, a da FTX. Foi o caso da BlockFi, que quebrou em novembro de 2022. Há, ainda, a crise da Genesis, uma das maiores empresas do segmento, que congelou saques e iniciou um processo de reestruturação.
Um dos principais acontecimentos mundiais em 2022 foi o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. E as criptomoedas não ficaram de fora desse evento, que trouxe desdobramentos em uma série de áreas. Os criptoativos, por exemplo, foram usados para arrecadar bilhões em projetos de assistência humanitária.
Ao mesmo tempo, os ucranianos aumentaram o uso de ativos digitais como forma de burlar bloqueios russos. Entretanto, os próprios russos encontraram nas criptomoedas uma forma de contornar as fortes sanções impostas pelos países ocidentais, se mantendo relevantes na economia global.
O Brasil despontou em 2022 como um dos principais mercados para as criptomoedas em todo o mundo. Além dos avanços de regulamentação, dados da Receita Federal indicaram um crescimento e recordes nos números de CPFs e CNPJs que declararam ter os ativos digitais, mesmo com um ano ruim para o mercado.
Com isso, o país já é o sétimo maior em termos de adesão da população aos criptoativos, segundo um relatório. E a expectativa é que essa proximidade se intensifique no próximo ano, tanto pela nova segurança jurídica quanto pelo interesse crescente da população sobre o tema.
O ano também mostrou que o setor ainda precisa lidar com uma ameaça importante: os ataques hackers. Dois casos importantes para o segmento em 2022 foram o da Axie Infitiny, um dos principais jogos baseado em blockchain do mercado, e da Wormhole, uma plataforma de finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês).
No primeiro caso, a empresa ainda conseguiu recuperar parte das criptomoedas roubadas graças aos métodos de rastreamento próprios da tecnologia blockchain. Ao mesmo tempo, muitos desses casos foram chamados em algum momento de “maior ataque hacker” da história do setor.
A atualização constante do “maior ataque” neste ano mostra um outro lado do setor: conforme a adesão e número de usuários aumenta, cresce também o volume financeiro movimentado, e portanto a quantia que pode ser roubada nesses ataques.
Um marco importante para as criptomoedas em 2022 foi a expansão da adesão por parte de grandes empresas, não apenas dos criptoativos mas também do metaverso e da própria tecnologia blockchain em si. Empresas como Visa, JPMorgan, Warner, Starbucks, Apple e Mastercard foram algumas das que anunciaram projetos na área.
Com isso, 44 das 100 maiores empresas do mundo já usam a tecnologia blockchain em algum nível em 2022. Mesmo assim, houve notícias negativas. A Tesla, uma das primeiras a adotar as criptomoedas, vendeu parte das suas reservas em meio ao mercado ruim, mas segue apostando no segmento.
Ao mesmo tempo, o BTG Pactual, maior banco de investimentos da América Latina, entrou de vez no mundo dos criptoativos com o lançamento de uma exchange própria, a Mynt, que já lançou a opção de saques e permite investimentos em uma série de ativos, incluindo o bitcoin e o ether.
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