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COP30 em Belém foi o grande destaque do ano, primeira conferência climática no Brasil e no coração da Amazônia (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 17h30.
Última atualização em 22 de dezembro de 2025 às 17h42.
Sem sombra de dúvidas, 2025 foi intenso na agenda ambiental. Foi o ano em que o Brasil assumiu o protagonismo global da crise climática com a COP30 em Belém em meio a todos holofotes, pressões e contradições internas.
Dez anos após o histórico Acordo de Paris, o país sediou a conferência climática no coração da Amazônia, e teve que provar ao mundo (e a si mesmo) que estava à altura do desafio.
O resultado? Um ano turbulento, repleto de vitórias e tropeços que mostraram tanto a capacidade quanto os limites da liderança brasileira.
Mas o palco estava armado desde o início. Em janeiro, enquanto o Fórum Econômico Mundial de Davos apontava o clima extremo como o principal risco global de longo prazo, Donald Trump tomava posse da presidência dos Estados Unidos e, no seu primeiro ato, retirava o país do Acordo de Paris pela segunda vez.
Com a maior economia do mundo e segundo maior emissor global fora da mesa, o contexto geopolítico era desafiador e complexo. As tensões entre EUA e China escalaram rapidamente, com Trump autorizando tarifas de até 145% sobre produtos chineses em abril.
O embate reverberou diretamente na transição energética global: equipamentos de energia renovável ficaram mais caros, investimentos em projetos verdes travaram, cadeias de suprimento foram reconfiguradas.
Para o Brasil, que planejava acelerar sua descarbonização rumo à COP30, analistas caracterizaram o momento: "era como tentar correr uma maratona com os pés amarrados".
Enquanto isso, a China sinalizava querer preencher o vácuo deixado pelos americanos, anunciando mega projetos em renováveis. A transição energética virava refém de uma "guerra comercial".
Foi nesse cenário que o presidente Lula anunciou, em janeiro, o embaixador André Corrêa do Lago como presidente da COP30, com Ana Toni como CEO. A dupla carregaria nas costas a responsabilidade de entregar a conferência mais importante da década, em um momento em que o mundo se questionava sobre a credibilidade dos compromissos climáticos.
No primeiro semestre, a maior contradição brasileira do ano começou a se desenhar. Em junho, um leilão para exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas vendeu 19 dos 47 blocos oferecidos, movimentando R$ 600 milhões.
Ambientalistas alertaram sobre os impactos em regiões de alta vulnerabilidade ecológica e o fato acabou se tornando um prenúncio do que viria em outubro com a liberação da licença de perfuração pela Petrobras.
Na época, a resposta do governo foi pragmática: não havia plano concreto para substituir a dependência do petróleo, e a pressão política e econômica era enorme. O Brasil queria mostrar liderança, mas com os "pés no chão", ao mesmo tempo que a presidência brasileira da COP lutava por um "mapa do caminho" para o fim dos combustíveis fósseis.
Em agosto, Lula também sancionou o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental, mas com 63 vetos e em uma tentativa de equilibrar desenvolvimento e proteção. O Congresso, como se provaria dias após a COP30, não aceitou a decisão e votou pela queda dos vetos, levantando uma nova contradição na agenda climática brasileira.
"O Congresso enterrou a proteção ambiental", reagiram organizações. Era como se o país desse um passo à frente na cena internacional e dois para trás em casa, colocando em xeque as próprias conquistas.
Os eventos climáticos extremos não deram trégua. Dos incêndios florestais em Los Angeles no início do ano a enchentes e chuvas fortes no Brasil, o retrato era um lembrete cruel de que a crise climática estava acelerando mais rápido que as soluções.
No país, os números confirmavam a gravidade da inação e reforçavam a urgência da adaptação: até julho, eventos extremos já haviam custado mais de R$ 730 bilhões em prejuízos.
Um estudo da Agência Nacional de Águas alertava que tragédias como a que devastou o Rio Grande do Sul em 2024 deveriam se tornar cinco vezes mais frequentes.
Em julho, a humanidade entrou em "cheque especial" com o planeta em apenas sete meses, marcando o Dia da Sobrecarga da Terra ainda mais cedo neste 2025.
A Organização Meteorológica Mundial confirmaria, em novembro, que 2025 seria o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado, com temperatura média global 1,42°C acima dos níveis pré-industriais.
Em setembro, cientistas anunciaram que sete dos nove limites planetários haviam sido ultrapassados, incluindo agora a acidificação dos oceanos.
As emissões globais de CO₂ bateram novo recorde, mesmo com a expansão acelerada de energias renováveis no mundo liderada pela China.
Este foi o ano em que o mundo reconheceu pela primeira vez a intersecção entre mudanças climáticas, biodiversidade e economia circular e trouxe com bastante foco as florestas e a bioeconomia como peças-chave para uma COP30 bem-sucedida.
Em fevereiro, a segunda parte da COP16 de biodiversidade terminou com a criação do Fundo Cali para financiar a preservação, mesmo ainda sem garantias de recursos suficientes.
Março trouxe sinais de que a economia circular e a bioeconomia ganhariam protagonismo: o Brasil definiu cinco setores prioritários para acelerar a transição e um estudo pioneiro indicou que o Cerrado poderia gerar US$ 100 bilhões ao PIB com agricultura regenerativa até 2050.
Abril foi marcado por vitórias jurídicas históricas. A Organização Marítima Internacional aprovou, confrontando os EUA de Trump, um imposto de pelo menos US$ 100 por tonelada de CO₂ emitida por navios poluentes.
Na mesma semana, o Tribunal Internacional de Justiça da ONU declarou que os acordos climáticos são obrigatórios por lei, uma decisão que fortalecia a diplomacia climática brasileira às vésperas da COP30.
Ao mesmo tempo, a Aegea venceu o leilão bilionário de saneamento no Pará e expôs os maiores problemas de infraestrutura de Belém.
Em maio, o Brasil lançou em Bonn o "Roadmap: de Baku a Belém", um roteiro para garantir que o financiamento climático chegasse até a COP30. Além disso, anunciou um plano ambicioso para reduzir em 70% as emissões do setor de transportes.
Junho foi marcado pelo recorde histórico do Fundo Amazônia: R$ 1,2 bilhão aprovados no primeiro semestre. De dois países doadores, saltou para nove. Até o fim do ano, aprovou cerca de R$ 2 bilhões e se posicionou com o maior volume anual desde sua criação.
A Mombak se tornou a primeira empresa a receber investimentos do Fundo Clima: R$ 100 milhões para projetos de reflorestamento e créditos de carbono.
Julho trouxe conquistas importantes: o Brasil se tornou o primeiro país a emitir créditos de carbono por agricultura regenerativa nas Américas, certificados pela Verra.
A Lei Nacional de Proibição de Testes de Cosméticos em Animais foi sancionada. O país também incluiu de forma pioneira a educação oceânica no currículo escolar.
Agosto ampliou o reconhecimento internacional do patrimônio natural brasileiro: os Lençóis Maranhenses se tornaram o 25º patrimônio da humanidade da Unesco. Em Genebra, as negociações sobre um tratado global contra poluição por plásticos terminaram sem acordo.
Em setembro, o Brasil lançou o Fundo para Florestas Tropicais durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, consolidando sua narrativa de liderança com foco na preservação ambiental da Amazônia e em um ensaio para novos aportes na COP30.
Outubro também entregou os números que o Brasil precisava mostrar ao mundo. A Amazônia registrou uma queda de 11% no desmatamento e a terceira menor taxa desde 1988, enquanto o Cerrado acompanhou a tendência, com redução de 11,5%.
Novembro finalmente chegou, e com ele, a tão esperada COP30. Belém se transformou no epicentro da diplomacia climática global, recebendo líderes de 195 países em uma conferência que redefiniu o papel do setor privado e da sociedade civil na agenda do clima.
Foi a "COP das pessoas, das florestas" e acima de tudo, com o mote da implementação, e um grande pé na ciência: pela primeira vez uma COP teve um espaço que reuniu os maiores cientistas do mundo.
O acordo final, batizado de Pacote Belém, aprovou 29 documentos de forma unânime, com destaque para a Decisão do Mutirão Global.
A proposta brasileira de criação de dois roteiros paralelos (um para combate ao desmatamento e outro para fim dos combustíveis fósseis) foi saudada como "avanço sem precedentes", mesmo tendo ficado de fora do texto final da COP e ainda que a ambição climática tenha ficado "perigosamente distante" do necessário para limitar o aquecimento a 1,5ºC.
Dias antes da COP, o governo havia acelerado a criação da Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono, com Cristina Reis à frente, sinalizando que a regulamentação seria prioridade e finalmente entraria no radar político.
Em Belém, o Brasil também lançou o quarto leilão do Ecoinvest, focado em bioeconomia e Amazônia.
Ao fim da conferência, analistas consideraram que a diplomacia brasileira funcionou e "fez o que pode dentro do que era possível" e de um processo complexo da ONU que exige [grifar]o consenso de todos os países.
No total, o número de NDcs ou metas climáticas nacionais entregues subiu para 122 -- representando cerca de 63% dos países.
O ano encerrou com avanços importantes. Em dezembro, após dois anos de impasses, o Brasil aprovou o Plano Clima, estabelecendo estratégias nacionais de mitigação e adaptação para reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2030.
O país ampliou em 158% a restauração de ecossistemas, com a Mata Atlântica liderando e um plano com 234 ações para proteger a biodiversidade até 2030 foi lançado.
No setor privado, a B3 se tornou a quinta empresa brasileira a adotar voluntariamente o relatório financeiro de sustentabilidade baseado nos padrões internacionais IFRS S1 e S2, antes da obrigatoriedade de 2027, se somando a outras como Vale, Renner e Natura.
Outro destaque foi para o reconhecimento do Brasil em premiações internacionais: seis iniciativas brasileiras ganharam o prêmio climático da Bloomberg Philanthropies e a startup re.green levou o Earthshot Prize, conhecido como o prêmio ambiental mais prestigiado do mundo.
Na visão de especialistas, o Brasil provou que consegue reduzir o desmatamento, mobilizar financiamento internacional e criar mecanismos inovadores, além de articular consensos diplomáticos e entregar uma COP histórica.
Mas também mostrou que esse protagonismo vem com um preço: a necessidade de equilibrar interesses econômicos com compromissos ambientais, de lidar com um Congresso resistente, de explicar ao mundo por que libera petróleo enquanto prega transição energética.
A implementação de várias políticas também foi empurrada para o ano seguinte. O leilão de baterias que era uma das grandes expectativas do setor de energia foi adiado para abril de 2026 e projetos bilionários em data centers sustentáveis foram postergados com a prorrogação da legislação do Redata.
Além do árduo trabalho dentro de casa, o Brasil também terá que lutar pelos "mapas do caminho do fim de combustíveis fósseis e desmatamento" até entregar o bastão da presidência na COP31, na Turquia, em novembro.
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