Hernan Kazah, da Kaszek: A primeira onda de inovação em fintech ocorreu no lado B2C e agora veremos mais no lado B2B e de infraestrutura (Kaszek/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 2 de janeiro de 2024 às 08h03.
Após um período de seca e dificuldade com a captação de recursos, o mercado de venture capital trabalha com a mudança de cenário para 2024. Um otimismo que pode ser comparado ao que se vê no mercado de capitais, com o rally das últimas semanas e o Ibovespa atingindo recordes.
Pesquisa recente da Latitud mostrou que investidores e fundadores de startup projetam maior liquidez nos próximos 12 meses. Os investidores são os mais otimistas, 88,9% trabalham com um cenário positivo. Entre os fundadores, o percentual chegou a 77,8%.
Os novos ventos devem ser acompanhados de um diferente perfil de fundadores e por uma nova safra de startups em busca de recursos.
“Em 16 anos, essa é a melhor safra de empreendedor que eu já vi na minha vida. Por quê? É gente mais experiente, de segunda a terceira viagem, que já fez, já deu errado e está fazendo de novo. O pipe é muito bom”, afirma Edson Rigonatti, sócio-fundador da Stella.
Uma das primeiras no país, a gestora concentra os seus investimentos em startups em estágio inicial e série A, atuantes em mercados de plataformas SaaS, marketplace e empresas de consumo. Os cheques variam entre R$ 10 milhões para rodadas seed a R$ 30 milhões em casos de série A.
Segundo o gestor, as novas startups apresentam um modelo mais maduro de negócio, seja por uma identidade própria, seja pelas novas demandas do mercado e dos fundos de investimento. “Historicamente as melhores safras VCs são as pós-crise. Então, 2004, 2011, nós achamos que também em 2024”, diz.
Passada a farra da entrada de capital e de queima de caixa entre os anos de 2020 e 2021, os fundos procuram por empresas que pensem a rentabilidade a partir do dia zero.
“Não existe mais uma tolerância para “um unit economics que depois nós resolvemos”, crescer a qualquer custo e depois chegar ao indicador com o ganho de escala”, afirma Maria Tereza Azevedo, líder de Investimentos para Latam do SoftBank.
O fundo japonês Softbank entrou na América Latina em 2019 e lançou dois fundos para a região com um total de US$ 8 bilhões. Entre as investidas, estão nomes como Nubank, QuintoAndar, MadeiraMadeira, Loft, Gympass, Loggi, Kavak e Rappi.
Neste novo ciclo, deve se dedicar ao seu core de origem, aportes em empresas de crescimento - o famoso growth. No início da operação por aqui, acabou entrando em startups em estágio inicial, como uma forma de ajudar no desenvolvimento do ecossistema. Essa ação ficará concentrada em fundos que são investidos do próprio Softbank, como Kaszek, Upload Ventures e Valor Capital.
Com um fundo de US$ 975 milhões captado no começo deste ano e ainda intocado, o fundo argentino Kaszek está em busca de startups com uma cabine de controle azeitada e que dialoguem com setores com alta capacidade de expansão.
“Eu acredito que as fintechs continuarão sendo uma área muito relevante”, afirma Hernan Kazah, cofundador da gestora ao lado de Nicolas Szekasy. “E, dentro das fintechs, provavelmente haverá mais negócios B2B e infraestrutura. A primeira onda de inovação em fintech ocorreu no lado B2C e agora veremos mais no lado B2B e de infraestrutura”.
Nas contas do executivo, o fundo deve investir em cerca de 45 startups, do estágio inicial ao avançado, ao longo dos próximos três anos, a partir de 2024. Do total obtido, US$ 540 milhões serão destinados às novatas e US$ 435 milhões para aquelas com uma caminhada mais longa.
Na nova safra de investimentos, Kazah vê espaço também para startups em setores de educação e saúde, duas áreas em que os países latinoamericanos ainda enfrentam muitos desafios.
Além disso, inovações em soluções de proteção ao meio ambiente e tecnologia climática para combater o aquecimento global estão no radar da gestora.
“99% da solução do problema será com tecnologia, coisas como fontes alternativas de energia, novas tecnologias para processar resíduos, gerar menos resíduos e para limpar o ar”, afirma.
A Astella também comunga da tese em torno de startups de “techfin”, aqueles que ficam em torno do dinheiro, com soluções de cobrança, gestão de caixa e meios de pagamento. “O gostinho dessa safra é a logística de última milha e tem um monte de coisa de techfin”, afirma Rigonatti.
Não poderia ficar de fora da lista das gestoras as aplicações de inteligência artificial generativa, o assunto do momento em todos os fóruns e discussões de mercado. Ainda incipientes, os usos podem, no médio prazo, ocupar o papel que a tecnologia desempenha hoje e se tornar mandatório, como uma base a partir da qual as startups entregam os seus produtos.
“Estamos muito entusiasmados com algumas oportunidades no mercado de SaaS e também vemos muitas aplicações interessantes para IA que podem ser aplicadas em diferentes setores e verticais”, afirma Fernanda Azevedo, do Softbank.
Com uma perspectiva mais macro e que compreende a América Latina, a executiva diz que startups de "nearshoring” também podem avançar no mercado, diante dos ciclos das commodities e demandas por uma transição energética rápida. “Esses são novos setores em que estamos muito conscientes de que haverá grandes oportunidades”.