rua 25 de março são paulo (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 14 de setembro de 2022 às 19h49.
Última atualização em 15 de setembro de 2022 às 13h14.
Quase 25 milhões de eleitores brasileiros não sabem em quem vão votar ou não definiram o voto para presidente, segundo a mais recente pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA. A maior parcela desses indecisos - pouco mais de 11,3 milhões - está no Sudeste, o maior colégio eleitoral do país, com 66 milhões de pessoas aptas a votar em 2022. Para efeito de comparação, é como se praticamente toda a cidade de São Paulo, a maior metrópole do país, ainda não soubesse qual número apertar no dia 2 de outubro.
Em uma eleição presidencial marcada pela definição antecipada entre dois candidatos, é justamente entre os indecisos que as campanhas precisam focar seus esforços. E com esse contingente de eleitores indefinidos, o Sudeste se tornou uma obsessão entre os candidatos. É, ao menos, o que diz suas agendas: no primeiro mês de campanha, Ciro (PDT), e Simone Tebet (MDB) chegaram a passar 20 dias na região, segundo levantamento feito por EXAME. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve agenda oficial em pelo menos 17 dias, e Jair Bolsonaro (PL), 11. Em outras regiões, os presidenciáveis passaram dois ou três dias.
A obsessão não é por menos. Entre os indecisos, a classe C se destaca por não ser "fiel" a nenhum dos candidatos que lideram as pesquisas. Formada por 109 milhões brasileiros, 48 milhões dos quais habitam o Sudeste, está nesta faixa de renda a oportunidade de crescimento dos candidatos.
“O eleitorado de pessoas indecisas é mais feminino e do Sudeste. Quase metade dessas pessoas avaliam o governo como ruim ou péssimo, ou seja, não é um eleitorado a favor do governo. Uma outra característica é que é um eleitor da classe C. É possível ver que as campanhas incorporaram esse grupo no foco para tentar chamar a atenção”, diz Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto especializado em opinião pública.
Para além do números absoluto de eleitores - concentrando 42% dos 156 milhões de votos - a região Sudeste tem outra particularidade: a heterogeneidade da população. Essa diferença do perfil do eleitorado entre os estados - e até mesmo dentro deles - faz com que o candidato precise de um discurso mais plural para atrair os indecisos. E isso reverbera também em outras regiões, que pensam de forma mais semelhante com parte do Sudeste, como explica o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest Pesquisa.
"O triângulo mineiro e o interior de São Paulo têm uma ligação com o agro, e uma correlação com o Centro-Oeste. Nas grandes áreas urbanas há uma população de classe média que se assemelha com o Sul do país. O Jequitinhonha, em Minas, tem proximidade com o Nordeste. Tem ainda a maior parcela da população, que é a classe C, que está nas médias cidades de toda a região", diz Nunes.
André César, cientista político da Hold Assessoria Legislativa, ressalta a antecipação das agendas de campanha no Sudeste. “Não me lembro nas eleições, a partir de 1989, dessa proeminência da região logo na saída de uma campanha presidencial. É importante destacar que a base política de Lula é em São Paulo, e a do Bolsonaro é no Rio de Janeiro. Até na agenda dos principais candidatos o grande terreno é o Sudeste”, diz
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O Sudeste concentra 44% da classe C do país. Nesta parcela de eleitores, Lula tem 54% das intenções de voto no cenário estimulado, e Bolsonaro, 27%, como mostram os dados da sondagem EXAME/IDEIA. “Na classe C do Sudeste tem um eleitor que está desapontado com o governo, que votou em Bolsonaro em 2018, mas que o presidente pode conquistar para uma reeleição", diz Cila Schulman, vice-presidente do IDEIA.
Apesar de heterogêneo, um assunto une todos os 66 milhões de eleitores do Sudeste: a economia. Para o especialista em marketing político Marcelo Vitorino, sairá vencedor da região aquele presidenciável que conseguir se comunicar melhor com o eleitor nesse tema mais sensível.
“Para vencer no Sudeste a pauta de desenvolvimento econômico é muito importante. Os eleitores querem saber como vão fazer para produzir mais, não querem assistencialismo, e estão preocupados com a inflação. A pauta é diferente de outras regiões. No momento, eu não vejo os candidatos se encaminhando para esse eixo. Minha dúvida é se seria uma estratégia para depois fazer isso ou se ela está errada mesmo”, diz.
O geógrafo francês e professor da Universidade de São Paulo (USP), Hervé Théry, mapeou em diversos trabalhos nos últimos anos o perfil do eleitor brasileiro, olhando sobretudo para como as pessoas de cada região e condição econômica tendem a votar, utilizando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No caso do Sudeste, Théry avalia, trata-se de uma população que se beneficiou muito dos "anos bons da economia brasileira". "São muitas pessoas que saíram da miséria e se viram ameaçadas de perder esse status", afirma.
"O Sul e o Sudeste do Brasil têm o grosso da população. Seria equivalente a um país europeu. É mais escolarizado e rico. Em São Paulo, especificamente, tem uma população muito conservadora. Também é muito atenta a questões de corrupção. É um assunto mais relevante do que em outros estados. É um eleitorado mais feminino que em outras regiões", diz.
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O Rio de Janeiro compartilha com São Paulo um eleitorado mais conservador, avalia a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart. Ela destaca, porém, que os fluminenses são mais sensíveis a questões ligadas à violência.
“O discurso de segurança pública, de punitivismo, tem uma aderência maior do eleitorado do Rio de Janeiro. Isso ocorre porque as pessoas estão inseridas em um universo em que a arma está na rua”, afirma. “Temos de olhar o crescimento de mulheres conservadoras. O candidato que conseguir falar com este público, pode conseguir mais votos.”
Já o estado de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, é considerado um reflexo do Brasil por causa de sua geografia e por fazer fronteira com o Nordeste e com o Centro-Oeste. Desde 2010, os candidatos que venceram no estado garantiram o direito de ocupar o Palácio do Planalto.
O Brasil tem 82 milhões de eleitoras aptas a votar em todo o país. Deste total, 15,6 milhões de brasileiras - ou 19% delas - ainda não sabem em quem votar para presidente. Entre os homens, 10,3 milhões estão indecisos. Ou seja, convencê-las pode fazer total diferença em um pleito concorrido. E o Sudeste concentra 35 milhões dessas eleitoras.
"As mulheres sempre foram um segmento com uma abstenção maior em relação aos homens. Nesta eleição, elas formam o grupo de mais indecisos. E, obviamente, as campanhas estão na rua para buscar esse voto. São números que podem dar vantagem tanto ao Lula quanto ao Bolsonaro", afirma Felipe Nunes, diretor da Quaest Pesquisa.
A última pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA de intenção de voto revela uma virada do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Sudeste. Bolsonaro tem 46% das intenções de voto, contra 34% do petista, entre os moradores da região em uma simulação de primeiro turno.
Vale destacar que como se trata de um recorte, com amostra menor, a margem de erro é de seis pontos percentuais. De qualquer forma, mostra uma tendência de crescimento do atual presidente. Foi a primeira vez em mais de um ano que o candidato à reeleição ultrapassou Lula. A distância entre os dois se mantinha estável, sempre dentro do limite da margem de erro, que é de três pontos percentuais.
Nos números gerais, Lula tem 44% das intenções de voto, e Bolsonaro, 36%. Ciro aparece com 9%, e Simone Tebet tem 4%. Para a pesquisa, foram ouvidas 1.500 pessoas entre os dias 19 e 24 de agosto. A sondagem foi registrada no TSE com o número BR-02405/2022. Veja o relatório completo.