Lucas Leite, Bruno Pereira e Gabriela Lea, da Unbox: “Já vimos marca quebrar porque cresceu rápido demais. A gente quer ser o parceiro que evita esse colapso” (Unbox/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 08h00.
Se tem uma coisa que brasileiro anda comprando sem pensar duas vezes é suplemento, skincare e maquiagem com apelo natural.
Marcas nascidas no Instagram viraram febre — mas crescer nesse setor não é tão simples quanto parece.
Mesmo com vendas em alta, falta uma peça-chave para muita dessas marcas: dinheiro.
“A maioria quebra não por falta de cliente, mas por não conseguir financiar o próprio crescimento”, afirma Bruno Pereira, fundador da Unbox, plataforma de e-commerce especializada em marcas D2C de wellness, cosméticos e lifestyle.
Para atacar esse gargalo, a Unbox acaba de levantar 15 milhões de reais com a SRM Ventures, fundo de investimento da SRM Asset. O plano é virar, além de plataforma de vendas, também a fintech das marcas de beleza e bem-estar que mais crescem no Brasil.
“A gente acompanha o histórico de vendas dos clientes. Então conseguimos oferecer crédito direto, de forma segura e automática. O parcelamento é pago com as próprias vendas do cliente”, diz Bruno.
Com a nova rodada, a empresa quer triplicar de tamanho até 2026, oferecendo uma jornada completa: loja, checkout, logística, marketing — e agora, capital de giro.
A Unbox nasceu em 2020, mas a história começa bem antes — num depósito de materiais de construção em Ribeirão Preto.
Foi ali que Bruno Pereira passou a infância ajudando os pais empreendedores. Mais tarde, se formou em administração e trabalhou cinco anos no mercado financeiro.
A virada veio quando os pais pediram ajuda para criar uma loja virtual da família.
“Fiquei impressionado com a dificuldade de montar uma operação digital. Era tudo fragmentado. Menos de 4% das empresas tinham site no Brasil”, afirma.
Da frustração, surgiu a ideia: criar uma plataforma que entregasse tudo pronto — loja, checkout, pagamentos, automação e suporte.
Em fevereiro de 2020, a primeira loja entrou no ar — uma marca de chocolate sem açúcar.
Três semanas depois, a pandemia estourou e disparou a demanda por vendas online.
“Tinha fila de empresas querendo entrar, mas ainda estávamos em MVP. Fomos liberando aos poucos e aprendendo na marra”, conta Bruno.
Hoje, são mais de 15 mil marcas vendendo pela plataforma, com destaque para casos como Pudim Beauty, Dobro e Nude. Muitas cresceram mais de 200 vezes no faturamento online em menos de dois anos. “A gente não vende só tecnologia. Vendemos um ecossistema que ajuda a escalar”, diz.
Vender mais não é sinônimo de crescer — pelo menos não no ritmo que o mercado exige.
“O gargalo das marcas que vendem direto para o consumidor sempre foi capital de giro. Elas vendem mais, mas precisam antecipar produção, comprar insumos, investir em mídia”, afirma Bruno.
Foi com esse diagnóstico que a Unbox começou a testar um produto financeiro dentro da própria plataforma.
A lógica é simples: a empresa já tem os dados das vendas, já processa os pagamentos e já entende o comportamento do cliente. Com isso, consegue oferecer crédito direto — e automático.
“A gente criou um modelo em que o cliente paga a parcela do financiamento com uma parte da própria venda. É tudo integrado, sem boleto, sem inadimplência, sem estresse”, diz.
A análise de crédito é baseada no histórico real dos últimos três meses de operação.
A estrutura foi desenvolvida em parceria com a SRM Ventures, fundo com 500 milhões de reais focado em fintechs embutidas.
“Nosso modelo é ajudar empresas como a Unbox a criarem suas próprias soluções financeiras. Eles têm o canal, os dados, e agora o capital”, explica André Szapiro, head da SRM Ventures.
Ao contrário do mercado americano, onde a Shopify se tornou sinônimo de e-commerce para pequenas marcas, o Brasil ainda é território aberto.
Plataformas como Nuvemshop e Tray disputam o varejo pequeno, enquanto a Vtex foca em grandes corporações com estrutura robusta — e custo alto.
A Unbox aposta em ocupar esse espaço do meio: marcas independentes, digitais, com forte presença nas redes sociais, mas que não têm equipe técnica para integrar ferramentas ou pagar consultorias.
“A gente entrega tudo pronto: loja, pagamento, logística e até marketing. Sem precisar de agência, desenvolvedor ou plugin”, afirma Bruno.
O foco está em marcas com faturamento a partir de 50.000 reais por mês, especialmente nos segmentos de bem-estar, suplementos e cosméticos — nichos onde a recorrência e a fidelização são chave.
“A gente acredita que esses são os setores que estão puxando o novo consumo no Brasil”, diz.
Funcionalidades como venda por assinatura e programa de fidelidade vêm nativos na plataforma — algo incomum em concorrentes. “Se você vende suplemento, precisa estar na rotina do cliente. E ninguém entrega isso direito sem gambiarra”, reforça Bruno.
Com o novo aporte, a meta da Unbox é triplicar de tamanho até 2026 — com crescimento sustentável, mas acelerado. O crédito entra como pilar estratégico para isso.
“Já vimos marca quebrar porque cresceu rápido demais. A gente quer ser o parceiro que evita esse colapso”, diz Bruno.
A startup já é rentável e chegou ao breakeven em 2024. Agora, o foco é acelerar com segurança. “Foram anos estudando o mercado, entendendo o ciclo das marcas. Hoje, sabemos o que trava cada fase do crescimento — e como destravar”, afirma.
O crédito, nesse contexto, funciona como alavanca. A cada venda, uma fatia é retida automaticamente para pagar a parcela do financiamento, criando um ciclo de crédito saudável e escalável. “É um modelo novo no Brasil, mas muito usado lá fora. A diferença é que aqui é integrado desde a origem”, diz Bruno.
No curto prazo, o objetivo é testar o novo produto com a base atual.
No médio, expandir para novas marcas e categorias — sempre mantendo o foco no direct-to-consumer. “A gente quer que essas marcas cresçam com independência, sem ter que abrir mão do que construiu para captar recurso”, conclui.