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Ucrânia critica proposta de corredor humanitário apenas para Rússia

Corredores somente para território russo geraram críticas do governo ucraniano e europeus, antes de uma nova rodada de negociação que deve acontecer nesta segunda-feira

Crianças olham pela janela de um vagão enquanto um trem se prepara para partir de uma estação em Lviv, no oeste da Ucrânia, para a cidade de Uzhhorod, perto da fronteira com a Eslováquia (AFP/AFP)

Crianças olham pela janela de um vagão enquanto um trem se prepara para partir de uma estação em Lviv, no oeste da Ucrânia, para a cidade de Uzhhorod, perto da fronteira com a Eslováquia (AFP/AFP)

Drc

Da redação, com agências

Publicado em 7 de março de 2022 às 06h47.

Última atualização em 7 de março de 2022 às 14h38.

O Ministério de Defesa da Rússia anunciou a abertura nesta segunda-feira, 7, de corredores humanitários e a interrupção de ataques para permitir a retirada de civis de algumas das cidades mais afetadas pela guerra na Ucrânia.

Os corredores são somente rotas de fuga para Rússia e Belarus, e não para o oeste da própria Ucrânia. A medida gerou críticas de países europeus e do governo ucraniano, que chamou a proposta de "completamente imoral".

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O conflito na Ucrânia chega nesta segunda-feira a seu 12º dia. Uma terceira rodada de negociação entre as partes também começou nesta manhã, em Belarus. 

Moscou afirmou que a decisão de abrir os novos corredores atende um "pedido pessoal" do presidente francês, Emmanuel Macron, ao colega russo, Vladimir Putin. Os dois conversaram no domingo pela quarta vez desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.

"As forças russas, com fins humanitários, declaram um 'regime de silêncio' a partir das 10h (4h de Brasília) de 7 de março e a abertura de corredores humanitários", informou o ministério russo da Defesa em um comunicado.

Os corredores humanitários são para a capital Kiev e as cidades de Kharkiv, Mariupol e Sumy, algumas das mais afetadas pelos ataques.

A nota não diz quando o cessar-fogo termina, nem se vale para os arredores das cidades citadas. A Ucrânia acusa a Rússia de ter continuado ataques a áreas civis nos arredores de Kiev e outras cidades na segunda-feira (veja mais detalhes abaixo).

Moscou informou às Nações Unidas (ONU) e outro organismos internacionais sobre os corredores e pediu à Ucrânia que "cumpra estritamente todas as condições" para a retirada, segundo o comunicado.

"Esperamos ações concretas das autoridades de Kiev, assim como das autoridades das cidades antes mencionadas", acrescenta a nota.

Duas rodadas de negociações para cessar o conflito já foram feitas na semana passada, sem avanços significativos. 

Antes da reunião desta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que entre as exigências da Rússia para o fim da guerra estão a desmilitarização da Ucrânia, um dos pontos mais sensíveis, além de uma alteração na Constituição que impediria ucranianos de entrar na Otan (a aliança militar do Atlântico Norte, que inclui EUA e europeus) ou em outros "blocos", sem detalhes sobre se isso significaria também a União Europeia.

O governo de Vladimir Putin pede ainda que a Ucrânia reconheça a Crimeia anexada em 2014 como território russo e a independência dos territórios separatistas Donetsk e Lugansk, ao leste.

Críticas

Em resposta ao anúncio russo sobre os corredores humanitários, um porta-voz do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse pela manhã que a medida era “completamente imoral” ao oferecer somente opções de evacuação para a Rússia, segundo reportou a agência Reuters.

"São cidadãos ucranianos, eles deveriam ter o direito de ir para território ucraniano."

Zelensky também acusou Putin de estar tentando usar os refugiados ucranianos para fazer propaganda interna.

"Este é um dos problemas que está causando o colapso dos corredores humanitários. Eles [os russos] parecem concordar com eles, mas eles próprios querem fornecer ajuda humanitária para uma foto na TV e querem que os corredores levem em sua direção", disse.

A União Europeia também criticou a solução de evacuação somente para a Rússia, e James Cleverly, ministro representante do Reino Unido em assuntos europeus, disse que a proposta russa é "muito além do cínico".

1,5 milhão de refugiados

A opção de saída oferecida pelo governo russo é de ida a Moscou para quem está em Kharkiv (ao leste), e para o aliado Belarus para quem está em Kiev (ao norte da Ucrânia). Também devem ser oferecidos voos de Kiev diretamente a Moscou.

Antes dos corredores, a Rússia já havia sido destino organicamente de mais de 50 mil refugiados ucranianos, segundo as Nações Unidas.

Um dos motivos é a proximidade do país com as regiões do leste ucraniano, o que o tornou uma rota de fuga mais próxima, e o fato de muitos ucranianos serem russos étnicos, terem parentes na Rússia ou falarem russo. Ainda assim, o campeão de refugiados é a Polônia, na fronteira oeste, que recebeu mais de 1 milhão de pessoas.

Ao todo, a guerra na Ucrânia provocou a fuga de mais de 1,5 milhão de pessoas, a maior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra. Muitos civis ainda permanecem bloqueados em cidades alvos de ataque.

Acordo de cessar-fogo fracassa na Ucrânia

Antes do cessar-fogo desta segunda-feira, o fim de semana teve questionamentos acerca dos corredores humanitários na cidade de Mariupol, uma das mais afetadas pelos bombardeios e onde a Cruz Vermelha estima que há mais de 200 mil pessoas tentando fugir.

Duas tentativas de retirar civis fracassaram no meio do caminho, deixando civis expostos. Segundo a Ucrânia, a Rússia não cumpriu o cessar-fogo prometido na última rodada de negociações. Moscou acusa a Ucrânia de ter quebrado as condições.

Perto da capital Kiev, também ocorreu um ataque a civis tentando evacuar Irpin, um subúrbio da região, neste domingo, 6. Imagens de jornalistas que estavam no local mostram o grupo sendo atacado a céu aberto enquanto centenas de civis se reuniam para atravessar uma ponte para sair da cidade.

Ao menos oito pessoas foram mortas, incluindo membros de uma única família e crianças. "Eu quero enfatizar que estes eram residentes pacíficos", disse o prefeito da cidade, Alexandar Markushin.

O governo ucraniano acusa a Rússia de ter ainda continuado bombardeios nesta segunda-feira com alvos civis e direcionado ataques a áreas residenciais. Um dos ataques foi à cidade de Mykolaiv, a quase 500 quilômetros ao sul da capital Kiev.

O exército russo planeja para os próximos dias novos ataques a Kiev e arredores, e um dos objetivos são alvos de comunicação da Ucrânia, incluindo para bloquear o acesso a outras fontes de informação, segundo relatórios de inteligência.

(Com AFP)

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