Mesmo com a volatilidade, as projeções de fechamento são menos dramáticas do que há um ano. A leitura majoritária dos analistas é de que o dólar deve encerrar 2025 entre R$ 5,40 e R$ 5,50 (Ricardo Moraes/Reuters)
Repórter
Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 06h00.
O dólar entra nas últimas semanas de 2025 sob influência de um conjunto de fatores bem diferente daquele que empurrou a moeda para acima de R$ 6 no ano passado. Em 2024, a combinação de aversão global ao risco, aperto monetário nos Estados Unidos e forte saída de capitais do Brasil provocou uma verdadeira "tempestade perfeita no câmbio". Agora, na virada para 2026, a fotografia é outra, ainda que o fluxo de dólares siga impondo pressão adicional sobre o real neste fim de ano.
O principal vetor de saída de dólares neste fim de ano é o movimento extraordinário de antecipação de lucros e dividendos por parte das empresas.
Segundo um levantamento da XP Investimentos, há hoje um incentivo claro para que companhias antecipem a aprovação desses proventos antes do encerramento de 2025 em função da possibilidade de tributação de 10% a partir de 2026.
De acordo com o monitor de fluxo da casa, foram pagos R$ 1,5 bilhão em dividendos até o dia 12 de dezembro. E a previsão é que outros R$ 56,4 bilhões seja desembolsados ao longo deste mês e mais R$ 31,1 bilhões no primeiro trimestre de 2026.
Para Diego Costa, head de câmbio da B&T XP para Norte e Nordeste, ainda que a antecipação de dividendos seja o principal risco de saída de dólares nesta reta final do ano, é pouco esperado que a moeda avance da mesma forma que um ano atrás, quando chegou R$ 6,20.
Na última negociação, na sexta-feira, 12, o dólar acumulava uma depreciação de 12,45% frente ao real em 2025.
O contexto atual, marcado pela taxa básica de juros, a Selic, a 15% ao ano funciona como um forte escudo técnico, segundo Costa, e atrai as operações de carry trade, em que o investidores tomam empréstismos em uma moeda com taxa de juros baixa e investe em outra moeda com taxa de juros mais alta, obtendo lucro nesse diferencial.
"Além disso, temos o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] em um ciclo de fim de aperto monetário [cortando juros], aliviando a pressão sobre moedas emergentes", diz o especialista. Costa adverte, porém, que o anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) antecipou o debate eleitoral, o que aumentou o prêmio exigido pelos investidores para carregar risco Brasil.
Mesmo com a volatilidade, as projeções de fechamento são muito menos dramáticas do que há um ano. A leitura majoritária dos analistas é de que o dólar deve encerrar 2025 entre R$ 5,40 e R$ 5,50.
"Embora alto, este patamar é consideravelmente melhor do que o projetado no final de 2024, quando o Boletim Focus, do Banco Central, apontava para R$ 5,96 no final deste ano", diz Costa
Até a semana passada o Focus confirmava essa tendência de estabilização, com o mercado projetando mediana para o fim de 2025 em R$ 5,40, e para 2026, em R$ 5,50.
A comparação com dezembro de 2024 ajuda a dimensionar a mudança de cenário. Naquele mês, em meio ao temor sobre a política fiscal e a incerteza global, o Brasil registrou uma saída de dólares da ordem de US$ 26 bilhões.
O Banco Central foi obrigado a intervir de maneira intensa, injetando US$ 32,5 bilhões no mercado, sendo US$ 21,5 bilhões apenas em operações à vista. Mesmo assim, a moeda americana encerrou o ano cotada a R$ 6,18.
Agora, até os primeiros cinco dias de dezembro, por exemplo, o economista sênior do Inter, André Valério, destaca que o câmbio contratado mostrava entrada líquida de US$ 4,7 bilhões, um contraste com o mesmo mês do ano passado, quando já havia saídas de US$ 2,6 bilhões na primeira semana.
"Estamos esperando um fechamento em R$5,40, que é substancialmente abaixo do que esperávamos no final do ano passado, em R$5,70. De todo modo, o nosso entendimento do dólar era mais otimista que o do mercado onde muitos participantes apostavam num câmbio próximo de R$6 justamente por conta de vários fatores de risco que estavam atipicamente esticados naquele momento", disse Valério.
A leitura de Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, é semelhante.
"O dólar frequentemente se descola de seus fundamentos. Séries financeiras exibem inércia e persistência temporal — e com o câmbio não é diferente. Por isso, um dólar encerrando o ano na faixa entre R$ 5,30 e R$ 5,40 parece hoje o cenário mais provável", afirmou.
No mercado financeiro, o BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) projeta um quadro adverso para o fluxo cambial de dezembro.
Segundo a relatório da instituição, publicado no dia 3, mesmo após um novembro positivo — marcado por entradas robustas no comércio exterior, que compensaram a saída de US$ 3,1 bilhões no segmento financeiro — dezembro deve registrar um fluxo líquido negativo.
A previsão é de uma saída de US$ 6,9 bilhões, concentrada justamente nos pagamentos de dividendos e juros sobre capital próprio. A expectativa é que, apesar da resiliência do comércio exterior, o canal financeiro permaneça sob pressão até o fim do mês.
A leitura internacional reforça o pano de fundo para 2026. O UBS vê o dólar global entrando em um ciclo de fraqueza prolongado, especialmente no primeiro semestre do próximo ano, apoiado nos cortes de juros do Federal Reserve e no acúmulo de déficits fiscal e em conta corrente nos EUA.
O banco projeta que o dólar terá desempenho inferior ao de todas as moedas do G10 até o fim de 2026, favorecendo especialmente o euro e o dólar australiano. Essa tendência global, quando combinada ao diferencial elevado de juros no Brasil, cria condições para que o real permaneça relativamente forte, desde que ruídos domésticos não anulem esse suporte externo.
Internamente, porém, há obstáculos importantes. A aproximação das eleições e a percepção de maior fragilidade fiscal continuam sendo fatores determinantes para o câmbio.
Valério lembra que o investidor estrangeiro tradicionalmente acessa o Brasil via mercado de renda fixa, especialmente por meio das NTN-F, as notas do Tesouro Nacional, e que a demanda por esses títulos tende a se estabilizar apenas com uma sinalização clara de contenção da dívida pública, hoje a mais alta entre as grandes economias latino-americanas.
A análise de William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, reforça o peso do cenário político. Ele destaca que boa parte da valorização do real em 2025 esteve ligada à queda do dólar global, impulsionada por medidas de risco adotadas pela administração de Donald Trump e pela expectativa de juros mais baixos nos EUA.
Para ele, o Brasil surfou um movimento internacional de enfraquecimento do dólar, que também beneficiou moedas como o euro, o franco suíço e a libra. Ele ressalta, no entanto, que os fundamentos domésticos, especialmente inflação elevada, risco fiscal e um cenário eleitoral binário podem limitar a apreciação do real ao longo de 2026.
"Ninguém sabe dizer muito bem o que pode acontecer e o que tende a impactar o câmbio", finaliza o especialista.