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ETF, halving, juros nos EUA: o que deve mexer com o preço do bitcoin em 2024?

Cenários positivos do ponto de vista macroeconômico e no mercado cripto criam ambiente favorável para a criptomoeda

Bitcoin valorizou mais de 150% em 2023 (Reprodução/Reprodução)

Bitcoin valorizou mais de 150% em 2023 (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 1 de janeiro de 2024 às 11h21.

Última atualização em 1 de janeiro de 2024 às 12h42.

O bitcoin valorizou mais de 150% em 2023, recuperando uma parte considerável das perdas de 2022 e encerrando o último ano acima dos US$ 40 mil. Depois de um desempenho como esse, é natural que os investidores se perguntem se a criptomoeda vai continuar subindo em 2024 ou se o movimento pode estar chegando ao fim e, até, se revertendo.

Entretanto, especialistas e investidores parecem otimistas até o momento. Relatórios e análises divulgadas no fim do último ano convergem para a opinião de que o bitcoin não apenas continuará subindo ao longo de 2024 como também tem o potencial para bater o seu último recorde histórico de preços, na casa dos US$ 69 mil.

Por trás desse otimismo está a combinação de perspectivas favoráveis tanto para o cenário macroeconômico global — e em especial o dos Estados Unidos — quanto para eventos específicos do mercado de criptomoedas. Juntos, eles poderão ter a capacidade de impulsionar ainda mais o ativo, o que por sua vez tende a se refletir em todo o mercado cripto.

Estados Unidos no radar

Em relação à macroeconomia mundial, o foco dos investidores de criptomoedas é o mesmo do de outros setores: os Estados Unidos. O país iniciou em 2022 um ciclo agressivo de alta de juros para lidar com a maior inflação que o país registrava em mais de 30 anos. Por isso, o Federal Reserve foi obrigado a adotar uma postura rígida e com elevações significativas a cada reunião de política monetária.

Os juros altos acabam tendo uma ampla repercussão negativa para a economia americana e, por consequência, mundial. Além de desacelerarem a economia e até gerarem recessões, as taxas maiores também tornam a renda fixa do país mais atraente, "desviando" capital e investimentos de ativos mais arriscados, incluindo as criptomoedas.

Em 2022, muitos investidores e analistas acreditavam que o Fed não seria capaz de realizar o chamado "soft landing", ou pouso suave, em que é possível subir os juros, controlar a inflação e evitar uma recessão. Entretanto, esse cenário se tornou mais provável em 2023. Em sua última reunião, em dezembro, as autoridades do Fed não apenas suspenderam as altas de juros como também sinalizaram que os cortes podem começar em breve.

Em relatório recente, analistas do Itaú Unibanco destacaram que a economia mundial tende a ter um "crescimento resiliente" em 2024, mesmo que levemente menor que o de 2023, graças aos "sinais de desinflação mais rápida", abrindo margem para cortes nas taxas de juros já neste ano.

No caso dos Estados Unidos, "a atividade segue resiliente, mas a sinalização dos membros do Fed e a inflação mais baixa na margem abrem espaço para corte de juros em março". Já na União Europeia, "a inflação em queda e atividade fraca abrem espaço para cortes de juros mais cedo, em abril". E a expectativa é que a China também cresça mais neste ano que no anterior, com a previsão de novos estímulos.

Com isso, o cenário em 2024 tende a ser mais positivo que o esperado inicialmente. E a perspectiva dos cortes de juros abre margem para um retorno de capital e investimentos em ativos mais arriscados, incluindo o bitcoin e outras criptomoedas.

Ao mesmo tempo, os riscos de uma piora na economia global e uma reversão na projeção de cortes ainda existem, o que pode ameaçar a continuidade da alta do bitcoin. Marianna Costa, economista-chefe do TC, explica que "o ano de 2024 deve ser marcado por leve desaceleração da economia mundial, acompanhada de uma dinâmica desinflacionária".

Segundo a economista, "os riscos geopolíticos devem permanecer no radar, entre eles os conflitos bélicos no Oriente Médio e na Ásia, como as eleições nos Estados Unidos", fatores que podem reverter o momento atual da economia global e gerar mais incerteza e aversão ao risco. Por isso, apesar do quadro positivo, não há como descartar que a situação se reverta e piore ao longo do ano.

ETF e halving

No setor de criptoativos, as projeções atuais também são otimistas. No caso do bitcoin - a maior criptomoeda do mercado e cuja alta tende a se alastrar para outros ativos - dois elementos principais se uniram à perspectiva de corte de juros e impulsionam o otimismo dos investidores.

O primeiro é a possível aprovação de fundos negociados em bolsa (ETFs) de preço à vista do bitcoin nos Estados Unidos. No momento, a liberação pela SEC é dada como certa e esperada já para os dias 8, 9 ou 10 de janeiro. Com isso, diversas gestoras poderão lançar em poucos dias os seus próprios fundos, incluindo a BlackRock, a maior do mundo e com cerca de R$ 25 trilhões em ativos sob gestão.

A expectativa é que o lançamento dos ETFs aumente a demanda por bitcoin e também crie um forte fluxo de entrada de capital, em especial de investidores institucionais. Essa projeção foi a maior responsável pela forte alta da criptomoeda no final de 2023.

Já o segundo elemento é um evento tradicional para o bitcoin: o halving. Ocorrendo a cada quatro anos, ele é caracterizado pela redução pela metade na quantidade de unidades da criptomoeda liberadas ao mercado como recompensa para mineradores. Tradicionalmente, os meses subsequentes ao halving são de alta para a criptomoeda.

Alguns analistas apontam que a redução implica em uma oferta menor da criptomoeda, enquanto a demanda tem crescido ano a ano, gerando a alta. Outros apontam que o halving é, atualmente, mais um evento de narrativa, mas que acaba gerando valorização pela especulação e expectativa dos investidores. Independentemente da avaliação correta, o evento tende a impactar positivamente.

Não à toa, a combinação do cenário macroeconômico com esses dois fatores já fez com que analistas afirmassem que o bitcoin poderá chegar até à casa dos US$ 100 mil em 2024. Entretanto, ainda é cedo para cravar com certeza essa possibilidade.

Além dos riscos internacionais, será preciso observar se os ETFs serão populares entre investidores e se o halving efetivamente terá algum impacto no comportamento do mercado e, consequentemente, nos preços.

Fernando Pereira, gerente de conteúdo da Bitget, avalia que, no momento, há uma "condição favorável para o bitcoin continuar decolando e repetir as fortes valorizações de 2023 em 2024".

"Em 2024 provavelmente presenciaremos algo muito esperado no Bitcoin, o aumento de demanda institucional pela moeda. Se em 2021, com o auxílio de taxas de juros baixíssimas e uma economia inflacionada, conseguimos atingir patamares de preço próximos de US$ 69 mil, é perfeitamente plausível pensarmos em patamares bem maiores que este se considerarmos investimentos de grandes players, como por exemplo, custodiantes dos ETFs que estão por vir", ressalta.

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