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Maior corretora cripto dos EUA, Coinbase diz que Brasil é "mercado prioritário"

Em entrevista exclusiva à EXAME, diretor-regional da exchange para a América falou sobre planos da empresa para o mercado brasileiro

Coinbase é a maior corretora de criptomoedas dos Estados Unidos (NurPhoto/Getty Images)

Coinbase é a maior corretora de criptomoedas dos Estados Unidos (NurPhoto/Getty Images)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 09h01.

A Coinbase é a maior corretora de criptomoedas dos Estados Unidos, mas não atua apenas no país. Recentemente, a exchange desembarcou no Brasil e passou a oferecer seus serviços para clientes brasileiros. E, em uma entrevista exclusiva à EXAME, Fabio Plein, diretor regional para Américas da Coinbase, revelou detalhes dos planos da empresa para esse novo mercado.

Plein destaca que a chegada da Coinbase no Brasil faz parte de um plano mais amplo, e ambicioso: "Hoje, a Coinbase tem 100 milhões de usuários, mas também tem uma missão clara que é aumentar a liberdade econômica para 1 bilhão de pessoas no mundo por meio de cripto. Hoje, estimamos que 400 milhões de pessoas são usuários de cripto".

Por isso, ele explica que o sucesso desse objetivo depende da presença da corretora em grandes mercados, incluindo o Brasil. No caso do mercado brasileiro, ele destaca "o tamanho da população, com uma população jovem, acostumada a abraçar novas tecnologias e serviços financeiros, o que tem um papel fundamental".

"O Brasil é um mercado prioritário para a Coinbase. É um país com índice de adoção de cripto bem alto, sempre no top 10 e com uma adoção forte. É também uma economia com histórico de flutuação, ciclos inflacionários, e esses são problemas que cripto ajuda a resolver", ressalta.

Coinbase no Brasil

Ao lançar sua operação no Brasil no primeiro semestre deste ano, Plein afirma que a Coinbase buscou trazer "a mesma experiência pro usuário brasileiro que o usuário nos Estados Unidos tem. Houve uma particularidade de lançar a operação em um momento de mercado na lateralidade, então focamos em garantir uma melhora da experiência, do produto".

Mesmo com esse momento inicial desfavorável, o diretor destaca que a operação "já teve um crescimento bem significativo, e estamos ainda mais otimistas para o ano que vem com esse momento de mercado de retomada, mas ainda inicial. Isso costuma levar a uma retomada de interesse e curiosidade, então estou super otimista".

Plein avalia ainda que o mercado brasileiro dá sinais de que possui um "potencial imenso de crescimento", em especial para segmentos como o de stablecoins, criptomoedas pareadas a outros ativos, como o dólar. Citando uma pesquisa recente divulgada pela Coinbase sobre o tema, ele afirma que "mesmo stablecoins, que já são um dos principais tipos de ativos digitais no Brasil, ainda são um tipo de ativo muito nichado".

Os dados da pesquisa - que mostram que apenas 15% das pessoas abertas a investir em cripto nos próximos 12 meses têm algum tipo de conhecimento sobre stablecoins - mostram " o tamanho da oportunidade que existe na frente para cripto". "Com as pessoas entendendo, conhecendo essa tecnologia, há um espaço grande de crescimento".

Ele acredita que os investidores brasileiros seguem buscando boas soluções para ter uma parte dos seus portfólios em dólar, e que as stablecoins acabam trazendo benefícios atrativos, como facilidade de acesso, ligação à tecnologia blockchain e transações 24 horas, sete dias da semana.

No caso da USDC, stablecoin ligada à Coinbase, a corretora também oferece um rendimento de 5% do valor comprado em stablecoins, algo que, no investimento direto a dólar, "só um investidor mais sofisticado teria acesso
Tamanho da oportunidade para o setor como um todo".

Para o próximo ano, além da expansão de usuários, Plein revela que a Coinbase pretende intensificar o contato com a comunidade de desenvolvedores brasileiros ligados a cripto, com foco no Base, blockchain de segunda camada lançado pela corretora neste ano. Para isso, ele promete atividades e participações em eventos, com um esforço "para que o Brasil vire um polo de desenvolvimento do Base. Vai ser uma frente bem importante".

Por outro lado, a corretora de criptomoedas acabou chegando no Brasil ao mesmo tempo que a Binance, a maior exchange do mundo, enfrenta diversos problemas regulatórios. Apesar de não entrar em detalhes sobre o caso, Plein acredita que o recente acordo firmado com o governo dos Estados Unidos "reforça a nossa estratégia de longo prazo de ser um player que cumpre a regulação, com segurança e confiabilidade na plataforma".

"Nos últimos dez anos, muitas vezes foi frustrante ver alguns competidores tendo uma abordagem diferente, oferecendo produtos que não entendíamos como legais. Houve uma evolução de como os reguladores têm atuado para criar um nível de competição mais similar e para que a indústria como um todo aumente as suas práticas contra lavagem de dinheiro, cumprimento de sanções, práticas que a gente já tem implementando".

Para ele, o caso é uma "oportunidade é ao reforçar essa estratégia, que ela faz sentido sim e em um momento com um mercado com clientes que entendem mais a importância de ter esse diferencial".

Regulação

Outro ponto de destaque do Brasil, segundo o executivo, é o atual cenário regulatório para a indústria de criptomoedas. "A gente tem aqui no Brasil reguladores que fazem um trabalho muito favorável para a indústria de serviços financeiros e que abraçaram cripto como uma tecnologia para melhorar a eficiência e melhorar o nível de serviço no Brasil".

"Vemos com bons olhos o trabalho do Banco Central, que trabalha com uma regulação de engajamento, a ideia de que a tecnologia é nova e portanto demanda um debate com a sociedade para criar regras que protejam os usuários mas sem evitar a inovação e a melhora dos serviços", explica.

Essa "mentalidade pró-inovação" deve se manter em 2024, quando o Banco Central avançará na etapa infralegal de regulamentação, criando regras específicas para empresas do mercado de criptomoedas. Plein explica que a Coinbase busca "contribuir com a experiência na indústria e experiência global" e que "dúvidas específicas [sobre a regulação] vão ser mais detalhadas conforme o processo avança".

Um dos pontos centrais da regulamentação do setor é a chamada segregação patrimonial - a exigência de separação de fundos de clientes e de corretoras -, que acabou ficando de fora do Marco Legal das Criptomoedas mas voltou a ser discutida no Congresso. Sobre o tema, Plein diz que a prioridade da Coinbase é "proteger os ativos dos usuários".

"Os ativos têm que estar atrelado em uma exchange e facilmente identificáveis, sempre disponíveis para o usuário, em qualquer circunstância. Agora, como vai ser a segregação depende ainda, por isso a importância do diálogo. Tem vários ângulos, e dependendo da visão pode proteger o usuário ou só criar barreiras anticompetitivas, com restrições para players globais", argumenta.

Por isso, ele defende que a regulamentação tenha como princípio "ser algo que proteja os consumidores, mas mantendo as características básicas da indústria, que é descentralizada, busca a eficiência. A segurança tem que ser garantida, mas não precisa ser igual a como funciona nas finanças tradicionais".

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