Após o jogo em Itaquera, quais os planos da NFL para o Brasil? Executivo global revela
Liga de futebol americano vê o país como o mercado número um na América do Sul, diz Peter O'Reilly
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 22 de setembro de 2024 às 20h42.
Última atualização em 23 de setembro de 2024 às 16h01.
A National Football League (NFL) , maior liga de futebol americano e a mais rica do mundo – superando gigantes como a Major League Baseball (MLB), a National Basketball Association (NBA) e a Premier League –, está cada vez mais empenhada em expandir sua presença no Brasil, considerado o principal mercado da América do Sul. A afirmação foi feita por Peter O'Reilly, executivo internacional da NFL, em entrevista exclusiva à EXAME.
A liga tem observado o crescimento e a paixão dos fãs brasileiros nos últimos anos, especialmente com a transmissão de jogos pela televisão e eventos como watch parties. Segundo o Ibope Repucom, o país tem a segunda maior base internacional de fãs, atrás apenas do México, com 41 milhões de pessoas, número que cresceu 310% desde 2014.
"Essa base de fãs, aliada a parcerias sólidas, tornou o Brasil o destino natural para a expansão da NFL", afirma O'Reilly, referindo-se à primeira partida da liga na América do Sul , realizada no último dia 6, na Arena Corinthians, em São Paulo. O confronto marcou o kickoff da temporada 2024/25 e a vitória doPhiladelphia Eagles sobre o Green Bay Packers.
Os ingressos, que custaram entre R$ 285,00 e R$ 2.520,00, esgotaram-se em poucas horas. Cerca de 47 mil pessoas compareceram ao estádio para assistir ao jogo, que movimentou mais de R$ 300 milhões na capital paulista, de acordo com levantamento da Embratur, com dados da ForwardKeys.
Segundo O'Reilly, a estratégia da NFL no Brasil não se limita a eventos pontuais. Além do jogo inaugural, a liga está comprometida em engajar os fãs brasileiros ao longo de todo o ano, replicando a fórmula de sucesso dos Estados Unidos. Por lá, desenvolveu a capacidade de transformar eventos fora da temporada, como o draft e o scouting combine, em grandes espetáculos e fenômenos nas redes sociais, mantendo-se sempre próxima à sua audiência.
Poucos dias antes da estreia na América do Sul, a NFL nomeou o mexicano Luis Martínez como seu primeiro gerente geral no Brasil. O executivo, que atuava como diretor de marketing e vendas no México, será responsável por liderar os negócios e a expansão da liga no país, incluindo o primeiro escritório, que será aberto ainda este ano em São Paulo, conforme informou O'Reilly à reportagem.
O objetivo principal é aprofundar o relacionamento com os fãs brasileiros e aumentar as oportunidades de engajamento com a marca NFL no Brasil. Como? Acompanhe a entrevista.
Por que a NFL escolheu o Brasil para o primeiro jogo na América do Sul?
Por que o Brasil? Eu diria que são 41 milhões de razões. Esse é o número de fãs da NFL no país, e há muito tempo estamos engajando de diferentes maneiras, ainda que sem um jogo ao vivo no Brasil. Distribuímos nossos jogos pela televisão e realizamos eventos menores, como watch parties, e ao longo dos anos, vimos o crescimento e a paixão dos fãs brasileiros da NFL.
Nos últimos anos, à medida que surgiram mais oportunidades de realizar jogos da temporada regular da NFL fora dos EUA, o Brasil sempre esteve no topo da lista. Com a segunda maior base de fãs da liga fora dos Estados Unidos, atrás apenas do México, o Brasil se destacou como próximo destino.
Para que um evento como este funcione, é essencial uma base de fãs apaixonada e grandes parceiros. Felizmente, encontramos ambos aqui no Brasil. Esses foram os principais fatores que motivaram nossa escolha.
Em termos de receita, o Brasil é um mercado relevante para a NFL?
Sim, o Brasil é muito importante para o futuro da NFL, e nosso compromisso com o país é de longo prazo.Não se trata apenas de realizar um jogo, mas de aproveitar a oportunidade para, ao longo de todo o ano, servir melhor os fãs e fortalecer nossa presença no mercado. Parte disso inclui a abertura de um escritório em São Paulo e a contratação de Luis Martinez como nosso primeiro gerente geral (GM) no Brasil.
Embora a receita e os empreendimentos comerciais sejam importantes, nossa prioridade agora é servir melhor os fãs brasileiros e criar um engajamento mais profundo. Temos observado um crescente interesse de patrocinadores e empresas de mídia pela NFL, o que reforça o potencial do mercado brasileiro, que é o número um na América do Sul para nós.
Esse é também um mercado relevante para nossas equipes, para os nossos 32 clubes. Tivemos os Eagles e os Packers por aqui, mas outras equipes de grande relevância, como o Miami Dolphins e o New England Patriots, já possuem direitos de marketing no Brasil. Esperamos que mais times sigam esse caminho no futuro, o que reforça ainda mais a importância do mercado brasileiro para a NFL.
Quantas marcas estiveram envolvidas no jogo em São Paulo?
Não posso fornecer números específicos de receita, mas acredito que tivemos mais de 14 marcas ativas em torno do jogo . Entre as grandes marcas globais com direitos no Brasil estão Budweiser, Marriott, Accenture, Visa, entre outras. Também contamos com parceiros locais de destaque, como Ambev, Perdigão e Fit Combustíveis. Essa combinação de parceiros globais e locais reforça a importância do Brasil, ativando suas marcas e criando uma forte conexão com a NFL e o público brasileiro.
Além disso, nossos parceiros de mídia desempenharam um papel importante, assim como o setor de varejo e produtos de consumo, com as lojas de varejo abertas em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde os fãs podem adquirir camisas e equipamentos da NFL. Esse impulso é real e acreditamos que a participação de marcas e parceiros só tende a crescer.
A NBA também tem feito um trabalho interessante no Brasil, que é o seu terceiro maior mercado. A NFL se inspira na liga de basquete?
Sim, aprendemos com todos. Temos um enorme respeito por outras grandes propriedades esportivas globais. Observamos o que a Fórmula 1 fez, o que os eventos globais de futebol alcançam e, claro, as Olimpíadas. Estamos orgulhosos de que o flag football, tanto para mulheres quanto para homens, agora faz parte dos Jogos Olímpicos, o que reflete nossa parceria próxima com o evento.
Há muitos esportes e ligas que realizam um excelente trabalho, e tentamos trazer o toque único da NFL para essas iniciativas. Acreditamos que nosso esporte e nossos jogos têm uma energia e uma empolgação únicas, o que os torna especiais. Aprendemos uns com os outros, sem dúvida, e temos muitos amigos em outras ligas.
A NBA no Brasil conta com eventos, escolas de basquete, lojas e até um parque temático em Gramado. Como a NFL planeja manter os fãs brasileiros engajados?
É uma excelente pergunta. Acreditamos que o primeiro passo é tornar o jogo o mais acessível possível através da mídia. Tivemos o grande jogo inaugural, mas também contamos com um importante parceiro de TV aberta, além da ESPN e da Cazé TV, que vão transmitir toda a temporada.
Outro aspecto importante são as lojas de varejo e as experiências que estamos proporcionando. Queremos, acima de tudo, conectar com os jovens fãs. Nesse sentido, haverá cada vez mais oportunidades de flag football e ativações em escolas e comunidades por todo o Brasil. Recentemente, realizamos um torneio para meninos e meninas, e isso só tende a crescer.Trata-se de oferecer um produto consistente e duradouro, o que não é fácil para uma liga. Seja por meio da mídia, de produtos e experiências, ou da presença em comunidades, é fundamental se comprometer a longo prazo. Não adianta realizar um grande evento e não voltar. Se queremos que este mercado continue a crescer, precisamos estar presentes em todas as áreas da vida dos nossos fãs, engajando-os de forma consistente.
Diria que estou muito empolgado com o que está por vir. O jogo foi um marco, mas também apenas o começo. Queremos que isso sirva de base para construir algo ainda maior no futuro. Gostaria de agradecer a todos os fãs brasileiros, aos nossos parceiros e a todos que tornaram isso possível. Esperamos que se envolvam conosco durante toda a temporada e além.