Com Real Digital, Brasil se une a grupo seleto de países com moeda digital; veja a lista
Atualmente, 11 nações possuem versões virtuais de suas moedas em funcionamento, e 18 realizam testes piloto como o brasileiro
Repórter do Future of Money
Publicado em 9 de março de 2023 às 08h49.
Última atualização em 30 de maio de 2023 às 10h42.
O Brasil iniciou em março a fase de teste piloto do Real Digital, um processo que deve se estender pelo resto do ano e ser concluído em 2024, abrindo as portas para um futuro lançamento do projeto para o público. Com isso, o país se juntou a um grupo seleto de nações que já lançaram ou também estão testando suas moedas digitais de bancos centrais ( CBDCs, na sigla em inglês).
Dados reunidos pela organização Atlantic Council apontam que, em dezembro de 2022, apenas 11 dos 114 países que atualmente estudam CBDCs conseguiram implementar suas iniciativas com sucesso. Além disso, 18 estão neste momento na fase piloto, importante para garantir a segurança, casos de uso e a infraestrutura por trás das moedas digitais.
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Agora, o Brasil se tornou o 30º país a integrar esse grupo seleto, que representa menos de 30% de todas as nações do globo. Além disso, dependendo do momento em 2024 que o Real Digital for lançado, ele poderá ser, por alguns meses, a maior economia do mundo a conseguir implementar com sucesso uma versão digital da sua moeda fiduciária.
O projeto brasileiro também possui outros pioneirismos. Ele é o mais avançado na América Latina até o momento, e deve ser o primeiro bem-sucedido da região. Além disso, o foco de uso da CBDC não é para realização de transações instantâneas no varejo - principal aplicação das moedas digitais atualmente em circulação -, já que o Pix resolveu essa área. Por isso, o projeto focará em áreas como programabilidade e uso no mercado financeiro..
Os dados do Atlantic Council apontam ainda que mais da metade dos projetos de CBDCs ainda estão nas fases de desenvolvimento (30%) e pesquisa (27%), enquanto 13% foram paralisados e dois, no Senegal e no Equador, foram cancelados. Confira os países que já possuem ou estão testando suas próprias moedas digitais!
Nigéria
A Nigéria é, atualmente, o país com maior economia e população que possui uma moeda digital em circulação, a eNaira. Entretanto, o Real Digital poderá, em 2024, desbancar o país dessa posição. A CBDC nigeriana foi lançada em outubro de 2021 e é a primeira, e única, do tipo em circulação na África. Atualmente, ela é usada principalmente em negociações de varejo, ou seja, transações do dia a dia e compras.
O objetivo do país com a moeda digital é aumentar a integração dos nigerianos ao sistema financeiro do país e a democratização do sistema bancário. Entretanto, a eNaira acabou envolvida em polêmicas recentemente. Em 2023, algumas semanas antes da eleição presidencial, o banco central da Nigéria decidiu limitar os saques de dinheiro vivo pela população.
A ideia era não apenas incentivar a adoção da moeda digital, mas também dificultar a prática de subornos e corrupção no país, tradicionalmente feitas em dinheiro vivo. A população, porém, não recebeu bem a medida e o país enfrenta problemas econômicos devido à transição surpresa. Na semana passada, a Suprema Corte da Nigéria proibiu o governo de limitar a circulação de dinheiro vivo no país. Mesmo assim, a eNaira segue sendo um caso bem-sucedido de implementação de CBDC.
Bahamas
As Bahamas, um arquipélago de ilhas próximo dos Estados Unidos, foram o primeiro país do mundo a lançar com sucesso uma versão digital da sua moeda para a população. O lançamento ocorreu em outubro de 2022, mais de dois anos antes do início da fase de testes do Real Digital no Brasil. Atualmente, toda a população já pode usar a CBDC, e o BC do país planeja integrá-la ao sistema bancário.
A moeda digital recebeu o nome de Sand Dollar, ou Dólar de Areia, já que a moeda oficial do país é o dólar bahamense. Assim como o projeto nigeriano, a criação da moeda digital teve como objetivo aumentar a inclusão financeira no país e também facilitar as operações do governo contra lavagem de dinheiro e outras operações ilícitas, já que as CBDCs possuem uma rastreabilidade maior.
Jamaica
A Jamaica começou a trabalhar em uma moeda digital em maio de 2021, com um lançamento gradual do projeto para o público a partir de maio de 2022. A CBDC jamaicana recebeu o nome de Jamaican Digital Exchange, ou JAM-DEX. A ideia é que a o projeto ajude a reduzir os custos de armazenamento e gestão de dinheiro vivo no país, com projeção de economia de US$ 7 milhões por ano.
Um diferencial da JAM-DEX é que ela não é armazenada em contas bancárias, mas sim em carteiras digitais criadas por provedores do serviço, mas ela pode ser convertida por notas ou moedas. Em seu site, o banco central jamaicano defende que as CBDCs não vão substituir o dinheiro físico ou os cartões de crédito e débito, mas sim servir como uma nova opção para compras e pagamentos.
Caribe Oriental
Um pouco antes da Jamaica, em março de 2022, oito países insulares do Caribe se juntaram ao grupo de nações com CBDCs em funcionamento. O Banco Central do Caribe Oriental lançou com sucesso naquele mês a rede que permitiu o funcionamento da DCash, uma versão virtual do dólar do Caribe Oriental. A moeda é usada por Anguilla, Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, Monserrate, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves e São Vicente e Granadinas.
Diferentemente do Real Digital, o foco da DCash são os pagamentos e compras no varejo. Em novembro de 2022, a autarquia do grupo de países não apenas decidiu continuar usando a moeda digital como também concordou em adicionar novas funcionalidades, como opções de pagamentos ao governo e integração com carteiras digitais de provedores externos. Mesmo assim, o projeto teve seus desafios: sua rede chegou a ficar fora do ar de janeiro a março de 2022, mas agora segue em operação.
Projetos piloto
De acordo com o Atlantic Council, outros 18 países estão na fase de teste piloto de suas CBDCs, a mesma do Real Digital atualmente: África do Sul, Índia, Rússia, China, Hong Kong, Irã, Suécia, Ucrânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Cazaquistão, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Gana e Tailândia.
Alguns países desse grupo já concluíram seus testes e agora estão analisando os resultados para avaliar se a adoção de uma moeda digital traria benefícios reais para as suas economias, é o caso da Suécia, África do Sul e Emirados Árabes Unidos. Outro país que concluiu seus testes foi a Coreia do Sul, mas o banco central do país disse que encontrou falhas no funcionamento do blockchain usado e o presidente da autarquia mostrou ceticismo quanto à adoção de uma CBDC, citando colapsos recentes no mercado de criptoativos.
Ao mesmo tempo, o Brasil e seu Real Digital se juntarão a grupo de países que ainda está realizando os testes com suas CBDCs, incluindo Gana, Arábia Saudita, Rússia, Cazaquistão, Ucrânia, Irã, Malásia, Austrália, Hong Kong e Japão. Desse grupo, a Índia e a China se tornaram os maiores casos de uso de moedas digitais. Devido ao tamanho de suas populações, a adoção, mesmo na fase de testes, já leva a recordes mundiais.
Atualmente, a Índia lançou dois pilotos diferentes da sua Rúpia Digital. A primeira, limitada a nove bancos, foi desenvolvida para operações de atacado, uma ideia semelhante à brasileira. Outra, foi disponibilizada para a população das cidades de Mumbai, Nova Délhi, Bengaluru e Bhubaneswar, com foco em operações de varejo, semelhante ao Pix. A meta do país é lançar a CBDC para todo o público ao fim de 2023.
No caso da China, o lançamento do Yuan Digital acompanhou uma forte repressão do país a criptomoedas, indicando um esforço para direcionar o uso para sua própria CBDC. A ideia é que o e-CNY possa ser usado tanto em operações domésticas quanto internacionais, e o projeto piloto já atingiu 260 milhões de usuários, um recorde mundial de adoção de moeda digital.
Mesmo com os avanços do Real Digital e outras CBDCs, essa adoção não tem sido uniforme. Na União Europeia, por exemplo, o desenvolvimento do euro digital tem sido mais lento, com cada país da zona do euro contribuindo para o projeto, que deve abarcar tanto o varejo quanto o atacado. A meta é lançar um piloto em 2023.
Nos Estados Unidos, a criação do dólar digital também tem sido mais vagarosa. Relatórios recentes do Federal Reserve destacaram vantagens das CBDCs, como prevenção a crimes e proteção de investidores, mas nenhuma previsão de piloto foi compartilhada. Já no Reino Unido, o Banco da Inglaterra admitiu que ainda não possui a tecnologia necessária para lançar uma Libra Digital, um cenário bem diferente do caso brasileiro.
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