Esporte

Após 16 anos, Corinthians volta a vencer — e a Zona Leste de SP explode

Primeiro título nacional do Timão desde 2017 foi comemorado nas ruas da Zona Leste de São Paulo

Tetracampeonato: corinthiano comemora a conquista do título na região da Artur Alvim (Paloma Lazzaro/Exame)

Tetracampeonato: corinthiano comemora a conquista do título na região da Artur Alvim (Paloma Lazzaro/Exame)

Paloma Lazzaro
Paloma Lazzaro

Estagiária de jornalismo

Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 15h45.

Uma cacofonia de motores de motocicletas, fogos de artifício e cantos da torcida anunciaram na Artur Alvim que o Corinthians saiu de um jejum de 16 anos e conquistou o tetracampeonato na Copa do Brasil.

Desde o meio da tarde deste domingo, 21, os trens da Linha 3 Vermelha se enchiam de corinthianos. Boa parte deles descia na estação Artur Alvim do metrô. Para muitos, o destino fazia sentido por conta da quantidade de bares.

Na saída da estação de metrô, vendedores ambulantes expunham camisas, bonés, faixas, fogos de artifício e sinalizadores.

Entre eles estava Francisca, que vai à Alvim em todos os dias de "jogo grande". Ela já vende faixas comemorando o tetracampeonato antes mesmo do jogo começar, pois tinha certeza de que o Corinthians levaria a taça. "Quando o Corinthians vence, compram meu estoque inteiro", diz.

Faixas do tetracampeonato: Francisca já vendia as faixas duas horas antes do início do jogo (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Os bares e os ambulantes da Alvim

Mais adiante, na Avenida Sport Club Corinthians Paulista, número 1960, o Bar do Tadeu era comandado por Marinalva no dia de decisão no Maracanã. "Aqui deveria estar mais cheio, mas os meninos foram para o Rio assistir ao jogo", afirma.

Ela trabalha há 28 anos no local, e conta que "no começo era todo mundo são paulino" na área. "Eu sempre fui Corinthians, e acho que todo mundo se convenceu e agora só tem corinthiano aqui na região", diz.

Bar do Tadeu: tradicionalmente corintiano, o bar é coberto por pôsteres das vitórias do Timão (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

O bar contava com duas televisões, uma ao fundo e outra para a rua. Clientes recorrentes pegavam a cerveja diretamente da geladeira e avisavam Marinalva.

Segundo a funcionária, o Bar do Tadeu sempre lota, independentemente de haver jogo ou não, mas que em dia de decisão a Alvim inteira fica cheia. O público do bar vem de vários lugares além da Zona Leste, com destaque para a Zona Sul e para a cidade de Taboão da Serra.

Nas ruas, carrinhos vendendo bebidas e espetinhos ocupavam os locais onde a multidão não é atendida pela sequência de bares, com suas televisões viradas para o público, sintonizadas na TV Globo.

Bar no porta-malas: ambulantes ajudam a suprir a demanda dos bares na Artur Alvim (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

"Os ambulantes vêm aqui na Alvim para vender, porque em Itaquera eles começaram a nos expulsar", diz Wiliam, dono de uma das diversas churrasqueiras na Rua Luís Aires.

A conexão entre Corinthians e a Zona Leste

O Corinthians pode não ter sido fundado na Zona Leste, mas foi lá que se instalou. Apesar das origens no Bom Retiro, no centro de São Paulo, apenas a sede da Gaviões da Fiel permanece lá.

A sede administrativa, no Parque São Jorge, no distrito do Tatuapé, e a Arena Corinthians, no coração de Itaquera, fizeram da ZL a "casa" do Timão.

A Artur Alvim, apesar de não ter o status oficial do bairro vizinho, oferece um número e variedade de bares e adegas que não há nas redondezas do estádio, e atrai boa parte do público à região. Diversos desses estabelecimentos são relativamente novos, como a Adega D'Skina e a banca ao lado, ambas com menos de um ano de funcionamento e já tematizadas com o brasão do Corinthians

A Prefeitura afirma, segundo o site Metropoles, que os distritos de Itaquera, Parque do Carmo, José Bonifácio, Cidade Líder e Artur Alvim nos últimos 10 anos tiveram um aumento de 28% em número de empresas. De 46,7 mil, em 2014, para 60 mil, em 2024.

Em 2025 a região completou 339 anos. Desde 2023, mais de R$ 2 bilhões em investimentos públicos têm auxiliado no crescimento econômico dos distritos, segundo o grupo Desenvolve Itaquera, beneficiando diretamente os mais de 600 mil moradores e impulsionando o comércio local.

Parte desse impulsionamento é relacionado à construção da Arena Corinthians entre 2011 e 2014.

Na época, a Prefeitura iniciou uma política em que empreendedores receberiam até 60% do valor investido na construção do estádio na forma de Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs). A medida era parte da lei de incentivo ao desenvolvimento da Zona Leste (da Lei 13.833/2004).

Há controvérsias quanto ao efeito da obra na região, afinal, parte significativa da população ainda trabalha no centro expandido de São Paulo. Porém, em dias de jogo, o influxo de torcedores à região é massivo. Em 2025 o estádio chegou a 400 partidas disputadas, sendo 352 com a presença do público, que juntas reuniram 12.592.765 torcedores.

Nas quadras fechadas por torcedores no domingo, o público se estendia das fachadas dos estabelecimentos até os canteiros ao lado da Radial Leste.

Os poucos carros que tentaram passar pelas ruas tomadas pela multidão andavam em velocidade lenta, escoltados por torcedores peguntando "você é Corinthians?". A resposta, geralmente, era "sim".

Ruas fechadas: os poucos carros que tentam passar são recebidos por corintianos entoando as músicas de torcida (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Nathan foi do Itaim Paulista, 30 minutos de distância da Alvim, para assistir ao jogo com seus amigos. "Quando é final, venho. É onde junta a galera toda. Eu acho que é o ponto de São Paulo que tem mais corinthiano. Aqui é a nata, a Zona Leste é onde o Corinthians reside, por isso que tem esse fluxo aqui sempre. É o reduto", diz.

Ele conta que durante o jogo da quarta-feira lá estava menos cheio, pois muitos torcedores foram à Neo Química Arena. No domingo, porém, a maioria não tinha conseguido ingressos para a final no Maracanã, então escolheu vibrar pelo Timão nas ruas.

Bruno, morador da Penha, também na Zona Leste, estava na Alvim pela segunda vez. A primeira foi na final do Paulistão de 2025, em jogo clássico entre Corinthians e Palmeiras, do qual o Timão saiu campeão jogando em casa. "Estava tão lotado que mal dava para andar aqui", conta.

O jogo contra o Vasco

Assim que o jogo começou, os cantos da torcida se intensificaram. Os fogos, que vieram em rajada assim que o apito anunciou o início do jogo, se acalmaram — isso é, até o primeiro gol do Corinthians.

Fogos de artifício: som dos projéteis marca a comemoração do título do Corinthians (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Aos 19 minutos do primeiro tempo, Matheusinho lançou com precisão, Yuri Alberto dominou com categoria e tocou na saída de Léo Jardim para abrir o placar. O gol incendiou o jogo, e o céu da Alvim, esfumaçado pelos fogos e sinalizadores.

Bandeira e fogos: torcida vibra com primeiro gol do Coritnhians contra o Vasco (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Empurrado pela torcida no Maracanã, o Vasco cresceu, passou a controlar a posse e encontrou o empate aos 41 minutos. Após erro no meio-campo, Andrés Gómez avançou pela direita e cruzou para Nuno Moreira cabecear firme, deixando tudo igual antes do intervalo.

Em São Paulo, na Zona Leste, o gol do Vasco foi recebido com revolta e apreensão, que elevaram as tensões da torcida pelas ruas. Durante o intervalo, corinthianos aproveitaram o momento de descompressão e a pausa nos fogos para comprar bebidas e comida.

A etapa final começou com pressão vascaína. O Corinthians se defendia, resistia e esperava o momento certo. Ele veio aos 17 minutos.

Breno Bidon iniciou uma bela jogada, Yuri Alberto arrancou pela direita e rolou para Memphis Depay, livre, empurrar para o gol vazio.

Segundo gol: Artur Alvim fica iluminada por sinalizadores após segundo gol do Corinthians (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Nesse momento, o céu, já escuro, foi iluminado pelo vermelho dos sinalizadores. A torcida vibrou ainda mais que no primeiro gol, agora sabendo que a vitória estava próxima. Em meio a choros e abraços, os corinthianos na Artur Alvim já entraram em clima de festa, focados em agourar qualquer tentativa vascaína de empate.

Durante os últimos minutos já começava a festa na Zona Leste. Os fogos eram incessantes, torcedores subiam em carros, telhados e outros torcedores para comemorar, os cantos da Fiel vinham com mais potência e o hino do Corinthians foi entoado como um mantra.

Jejum de 16 anos: torcedor comemora o título corintiano de cima de uma van (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Os trens da Linha Vermelha passam buzinando em celebração, acompanhados pelo ronco de motores de motos e buzinas de carros e caminhões.

"É o melhor dia da minha vida. O que importa hoje até o fim do ano é só meu Corinthians", diz Rael.

Com a taça, o Corinthians volta a vencer a Copa do Brasil após o título de 2009, quando ainda tinha Ronaldo Fenômeno no ataque. O título também é o primeiro a nível nacional do Timão desde 2017, quando conquistou o Brasileirão.

Volta da Alvim: torcedores lotam o metrô ao fim da comemoração do tetracampeonato (Foto: Paloma Lazzaro / Exame) (Paloma Lazzaro/Exame)

Além da glória esportiva, o clube assegura vaga direta na fase de grupos da Libertadores de 2026. Mas, na Alvim, o que valia para o "bando de loucos" era o agora: cerveja gelada, sinalizador aceso e o grito de “é campeão” ecoando até o último trem.

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