Como os morcegos são imunes ao coronavírus
Diferentemente dos humanos, morcegos se adaptam ao vírus e ambos evoluem juntos, segundo novo estudo da Universidade de Saskatchewan
Tamires Vitorio
Publicado em 7 de maio de 2020 às 12h04.
Última atualização em 7 de maio de 2020 às 13h21.
Do Sars à covid-19, desde os primeiros surtos das variações dos coronavírus , os morcegos têm sido vistos como fonte da doença. Pesquisadores apontam que, no caso da covid-19 (Sars-CoV-2), o vírus pode ter passado do morcego para outra espécie antes de chegar nos seres humanos.
Mas, diferentemente de pessoas, os morcegos podem carregar o coronavírus por aí e, mesmo assim, continuar imunes a ele. Segundo uma pesquisa publicada no periódico científico Scientific Reports, feita pela Universidade de Saskatchewan (USask), do Canadá, isso acontece porque as células do animal se adaptam às do vírus. Outro estudo, feito em abril pelo Museu de Chicago, apontou que os coronavírus e os morcegos têm evoluído juntos ao longo dos anos.
Quando expostas ao Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio, que surgiu em 2012, também causada por um coronavírus) as células do morcego se adaptaram e mantiveram suas respostas antivirais. Uma vez dentro do animal, o vírus sofreu mutações rápidas. Cientistas da USask descobriram, em 2017, que ele pode permanecer em hibernação em um morcego por até quatro meses.
"Os morcegos não se livram do vírus e não ficam doentes", explicou o microbiologista Vikram Misra. "Em vez de matar as células do morcego, como o vírus faz com as células humanas, o coronavírus Mers entra em uma relação séria com o hospedeiro, mantido pelo sistema de super imunidade do morcego. O mesmo pode acontecer com o Sars-CoV-2."
A pesquisa também sugere que mudanças na vida dos animais, como a exposição deles em mercados vivos (comuns na China, onde começou a covid-19), a outras doenças e prováveis perdas de habitats podem ter contribuído na transmissão para outras espécies. "Quando um morcego passa por estresses em seu sistema imunológico, isso altera o balanço dele e permite que o vírus se multiplique", diz o microbiologista. É nesse momento que pode ocorrer o salto do vírus para outras espécies de animais.
De acordo com o cientista Darryl Falzarano, coautor do estudo, isso pode ajudar a entender como o vírus passou de espécie para espécie. Falzarano também foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do primeiro tratamento para a Mers-CoV.
Até o momento, a covid-19 já infectou mais de 3,5 milhões de pessoas no mundo todo.
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