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Com novas restrições em SP, chefs e donos de bares voltam a se desesperar

Com o apoio de figuras como Jefferson e Janaina Rueda, da Casa do Porco, empresários do setor protestaram hoje em frente ao Palácio dos Bandeirantes

Jefferson e Janaina Rueda, da Casa do Porco: revolta (Instagram/Reprodução)

Jefferson e Janaina Rueda, da Casa do Porco: revolta (Instagram/Reprodução)

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Daniel Salles

Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 15h04.

Última atualização em 22 de janeiro de 2021 às 14h02.

Nesta sexta (22), o governo estadual fechou ainda mais o cerco contra bares e restaurantes. A partir de segunda (25), todos os estabelecimentos do gênero, e qualquer outro que não é considerado essencial, como shoppings centers, estão proibidos de receber clientes entre 20h e 6h. Vale para todos os dias da semana. Mais: no feriado do dia 25, e também nos finais de semana do dia 31 de janeiro e de 6 de fevereiro, devem manter as portas fechadas e atender apenas por meio do delivery ou para retirada.

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Revoltados, donos de bares e restaurantes protestaram hoje em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Batendo panelas, repetiram as seguintes palavras de ordem: "Governador, assim não dá, nós só queremos trabalhar". "Menu de hoje: culpar bares e restaurantes acompanhado de festas clandestinas e desemprego", dizia um dos cartazes.

Convocado pelas redes sociais, o protesto ganhou o apoio de chefs conhecidos, como Jefferson e Janaína Rueda, que comandam a Casa do Porco e o Bar da Dona Onça, entre outros negócios. “Precisamos de ajuda. Cadê as suspensões de impostos?”, escreveu Janaina em sua conta no Instagram. “Fechar aos sábados e domingos? Seguimos protocolos de segurança, e com certeza as festas clandestinas, as praias, vão bomba nos finais de semana, né? (...) Acorda! Não faz sentido isso!”.

No final do ano, o governo do estado já havia engessado bastante o funcionamento do setor na capital, ao proibir a venda de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes e lojas de conveniência após as 20h. Uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo chegou a derrubar a medida, ressuscitada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por decisão do ministro Luiz Fux, o presidente da corte.

Naquela época, empresários do ramo já se manifestaram de forma veemente contra a postura do governador João Doria. “Já não bastasse a discussão tão insana em relação aos horários agora temos mais essa ‘insanidade’”, escreveu, em sua conta no Instagram, o restaurateur Edrey Momo, dono da Tasca da Esquina e da Padaria da Esquina, entre outros empreendimentos festejados. “A ‘lei seca’ do nosso governador terá provavelmente o mesmo efeito da lei seca dos anos 20 nos EUA. Efeito contrário ao que se propõe. Teremos mais festas clandestinas, mais reuniões em casas, mais comércio ilegal de bebidas e obviamente mais contágio”.

Momo foi além em seu desabafo, que viralizou: “O trabalho de um governo ou de qualquer legislador é entender a aplicabilidade da lei antes de criá-la. As consequências serão óbvias: prejudica o comércio legal, que segue protocolos de segurança e recolhimento de impostos e beneficia o ilegal, o clandestino e a informalidade. Acreditar que as pessoas nessa época vão deixar de beber e de confraternizar depois de um ano tão difícil é querer que o Papai Noel desça pela chaminé”.

Concluiu o post da seguinte maneira: “O papel de um estadista é algo como o discurso de Angela Merkel pedindo conscientização em relação ao distanciamento, frequência de lugares e o ‘ficar em casa’. Conscientizar é mais importante que punir. Sei que os puritanos irão gritar que tem os negacionistas que precisam de leis mas como diria Salvador Allende – ‘não basta que todos sejam iguais perante a lei, é preciso que a lei seja igual perante a todos’”.

Chef Jefferson Rueda, da Casa do Porco (Mauro Holanda/Divulgação)

Para os bares, na prática, as regras equivaleram a uma senhora facada – angariar clientes antes das 20 horas não é tarefa fácil. Para os restaurantes sobraram dúvidas a respeito de como implementar o que passou a vigorar. Na época, em um restaurante próximo da Rua Augusta, no centro de São Paulo, a reportagem testemunhou o desespero dos garçons para tirar todas as garrafas de cerveja de todas as mesas quando o relógio ainda marcava 19h45. Não admitiram nem que copos com a bebida fossem mantidos à vista. “Vocês precisam virar”, determinou um garçom a um despreocupado cliente.

Já o Charles Edward, no Itaim, que se apresenta como o melhor bar de paquera de São Paulo, escreveu no mesmo dia na conta da casa no Instagram: “Cheguem cedo pois infelizmente fomos limitados a vender bebida alcoólica apenas até as 20h. Mas você pode comprar garrafa de vinho, destilado ou combo de cerveja até esse horário e continuar consumindo até as 22h”. A manobra era permitida?

Em Belo Horizonte, a venda de bebidas alcoólicas em restaurantes e bares chegou a ser proibida o dia todo. Em sua conta no Instagram, o chef Leo Paixão, médico de formação que ganhou fama à frente do Glouton e do programa Mestre do Sabor, da TV Globo, do qual é um dos jurados, protestou.

“Somos o setor mais castigado pela nossa prefeitura. Neste momento em que caminhamos para a lei seca, já sofremos uma série restrições, dentre as mais severas: horário de funcionamento reduzido; espaçamento aumentado e limite de 4 ocupantes por mesa. Justo, pela segurança dos clientes”, começou. “Vamos fazer uma continha. No Glouton tínhamos 110 lugares , hoje tenho 60. Fazia giro 2, hoje faço giro 1.2. Só aí tive uma diminuição de 60% nas vendas. Como 1/3 de nossa venda é de bebida, com a nova medida, nosso encolhimento passa a 75%. Ou seja, temos a possibilidade de vender 25% do que vendíamos antes. Garçons vivem quase só dos 10% deste valor. Imagina como fica”.

“Quanto aos bares, a conta é mais nefasta”, continuou ele, dono também do Nicolau Bar da Esquina. “Infelizmente é inviável funcionar sem bebidas. Assim, a partir da semana que vem fecho, novamente, o Nicolau Bar da Esquina por tempo indeterminado. A abertura do Mina Jazz Bar, que seria 12/12, fica adiada pra algum dia, talvez. Diante do aumento das internações e dos casos de covid, é compreensível que a prefeitura tenha que tomar alguma atitude.”.

Post do restaurateur Edrey Momo: novas restrições comparadas à lei seca americana dos anos 1920 (Instagram/Reprodução)

A conclusão do post, no qual critica o prefeito reeleito Alexandre Kalil, do PSD: “Centro da cidade cheio, ônibus lotados, comércio rodando à mil, véspera de natal. Seria minimamente razoável a prefeitura impor restrições a toda a economia. Contudo, existe um setor mais fraco e desorganizado. Do qual muitos não respeitaram as medidas. Não os julgo, estão tentando sobreviver ao tsunami. Ao invés de fiscalizar e aplicar as medidas cabíveis, a prefeitura optou por punir a todos: certos e errados. Um jato de mangueira em quem está afogando. E o pior: é impossível saber se essa medida surtirá efeito nos casos de covid. Tenho minhas dúvidas (sic)”.

“E assim o setor mais punido da economia leva mais um golpe impiedoso da prefeitura, como se fôssemos os culpados por tudo. Muitos de nós não se levantarão após mais esta queda. Desemprego e miséria resultará desta decisão. A nós, só nos resta torcer e esperar que um lapso de bom senso guie a mente deste prefeito para que não destrua nossa preciosa gastronomia belorizontina”.

Ao que a chef Katia Barbosa, dona do Aconchego Carioca, no Rio de Janeiro, e também jurada do Mestre do Sabor, comentou: “Após ler o seu relato desconcertante e verdadeiro, precisei de alguns minutos pra digerir toda essa loucura! Lei seca é uma loucura, ainda sigo na firme determinação que uma campanha real, verdadeira de conscientização desde o começo da pandemia teria ajudado mais! E também uma fiscalização e multa com quem extrapola o limite também ajudaria. Mas sempre é mais fácil o justo pagar pelo pecador! (sic)”.

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