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Startup Mommy Tech ajuda mulheres no desafio de ser mãe e ter emprego

Empresa que há dois anos ficou em primeiro lugar no Programa Ideiaz Powered by InovAtiva já promoveu a recolocação profissional de 640 mamães

Renata Lino, fundadora da Mommy Tech (Bússola/Divulgação)

Renata Lino, fundadora da Mommy Tech (Bússola/Divulgação)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 11 de maio de 2023 às 17h48.

Última atualização em 6 de novembro de 2023 às 17h43.

Todo ano, no Brasil, uma mesma coisa acontece no calendário de maio. Duas comemorações são separadas por, no mínimo, uma semana e, no máximo, 13 dias: o Dia do Trabalho e o Dia das Mães. Fora da métrica repetitiva da folhinha, contudo, nada poderia ser mais distante do que essas duas coisas, ser mãe e ter trabalho – remunerado e com igualdade salarial.

Depois de dar à luz um bebê, metade das brasileiras acaba desempregada nos dois primeiros anos a partir do retorno da licença-maternidade, segundo uma pesquisa da FGV. Para mulheres com nível educacional mais baixo, a saída do mercado vem ainda mais precocemente: 51% delas são dispensadas em até 12 meses.

E quando isso acontece duas vezes? Com a programadora e profissional de marketing Renata Lino aconteceu. A primeira foi quando ela teve o filho mais velho, há sete anos. Na empresa em que trabalhava, a gravidez adiou uma promoção a gerente. Quando retornou da licença, acabou demitida pelo antigo par, um homem, que fora promovido no seu lugar.

Passado um tempo, ela conseguiu uma recolocação numa grande companhia. Aí veio a gravidez inesperada do caçula, há dois anos. “Achei que um raio não poderia cair duas vezes no mesmo lugar, mas caiu”, conta ela. Foi um raio um pouco diferente, mas igualmente sinistro. No meio da licença, ela foi chamada na empresa e avisada de que, quando retornasse, não teria mais seu cargo de gestão nem sua equipe. “Eu amo gerir pessoas e isso mexeu comigo. Preferi sair”, lembra.

Foi então que ela começou a pensar na possibilidade de empreender, olhando justamente para isso: para a empregabilidade das mães e para a manutenção delas no mercado de trabalho. Assim, no final de 2021, nasceu a Mommy Tech, empresa que opera como um banco de talentos para mães e oferece mentoria para que elas aperfeiçoem o currículo e o LinkedIn, além de cursos de programação. E ainda faz a intermediação com empresas que buscam essa interseccionalidade para compor seu quadro de diversidade. Acredite, essas empresas existem, ainda que sejam poucas.

A Mommy Tech foi graduada no InovAtiva de Impacto, aceleradora de startups focada em negócios inovadores com potencial de causar impacto socioambiental positivo, e ficou em primeiro lugar no Programa Ideiaz Powered by InovAtiva, na categoria Projeto de Impacto.

“Quando entrei na aceleração, eu tinha um teste de negócio com dez amigas que tinham filhos pequenos. Saí com 2 mil mães cadastradas na Mommy Tech”, lembra Renata. Hoje a empresa tem 20 mil mães em sua base. Já recolocou direta ou indiretamente no mercado 640 delas e deu mentoria para mais de 900.

Detalhe muito importante: as mães não pagam nada para entrar na plataforma nem pela mentoria. Só precisam pagar se quiserem fazer o curso de programação em Phyton que a Mommy Tech oferece sob demanda.

Todo modelo de remuneração vem das empresas, que podem virar assinantes para receber regularmente cinco currículos por mês com determinado perfil desejado ou contratar um job para preenchimento de vagas específicas. A primeira venda, recorda-se Renata, foi para a Verallia, que é líder europeia na fabricação de embalagens de vidro e possui três fábricas no Brasil e um escritório em São Paulo – eu não disse que essas empresas existem?

As vantagens de contratar uma mãe são muitas, diz Renata. “Ela já chega com MBA em soft skills”, garante. Mas não é só isso. Pensamento crítico e analítico, foco, empatia e concentração também se destacam. “Sem falar que uma mãe que é bem acolhida por uma empresa num momento de vulnerabilidade terá sempre um elevado grau de lealdade”, conta ela.

Renata mostra com orgulho um texto que recebeu via LinkedIn de uma mãe que conseguiu mudar de emprego com ajuda da Mommy Tech. A mensagem veio de uma funcionária pública e mestranda em biologia que estava em busca de uma alternativa de trabalho remoto ou híbrido. Vale reproduzir um trecho aqui: “Você me deu um conselho na mentoria: aliar o meu conhecimento em pesquisa com a área de dados. Deu certo. Gostaria de te agradecer. Hoje recebi a notícia de que fui aprovada no processo seletivo para analista de dados em uma empresa multinacional de controle biológico! Sou mais uma mamãe recolocada!”

Sem opções como essa, muitas mulheres simplesmente decidem abandonar a carreira, mesmo que temporariamente. Em artigo publicado nesta Bússola em janeiro último, Dhafyni Mendes, pesquisadora sobre carreiras femininas e cofundadora da TodasGroup, escreveu sobre uma pesquisa da McKinsey que mostrou que, com a pandemia, uma em cada três mulheres com filhos na primeira infância estava pensando em dar um “downgrade” na carreira ou pedir demissão.

“O mercado precisa urgentemente olhar para as mães”, diz Renata. O próximo passo da Mommy Tech, segundo ela, será pensar em modelos B2G, com o objetivo de mudar políticas públicas de apoio à maternidade. Vejam que dilema: a população brasileira está envelhecendo e isso traz a reboque desafios de produtividade para a economia e de solvência para o INSS. Se as mães forem obrigadas a deixar o mercado, o colapso virá muito antes do que podemos imaginar. Talvez antes do próximo Dia do Trabalho.

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Como epílogo deste texto, gostaria de desejar a todas as mães um feliz dia neste próximo domingo. Especialmente a uma professora de música que, num distante 2 de agosto de 1972, acordou bem cedo, preparou tudo, deixou o filho na creche e tomou dois ônibus rumo a uma escola estadual de Osasco, onde lecionava. No dia seguinte, pronta para repetir essa rotina, ouviu do marido um pedido para que excepcionalmente ficasse em casa. Ela se recusou. Disse que não podia deixar os alunos ao léu. Ele insistiu. Contrariada, ela aceitou. Horas depois, sentada ao piano e tocando uma sonata de Mozart, sua bolsa estourou.

Era eu disposto a nascer. Ela ligou para o escritório do marido, meu pai, mas ele estava numa reunião fora. Então arrumou sua malinha e foi a pé do pequeno apartamento na Avenida Brigadeiro Luís Antônio até a Pro Matre, ali pertinho. Hoje, com 87 anos, dona Lydia não lembra mais disso. Ainda toca Mozart, porém sem tanta frequência nem a mesma virtuose. Por ironia do destino, ouve muito pouco, após uma vida inteira dedicada à música. Mas ainda irradia uma quantidade inacreditável de amor.

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