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Bruno Abreu: do mundo do software para os campos de futebol

Como a cultura de qualidade, inerente ao desenvolvimento de software, se relaciona com o processo de formação de uma seleção para a Copa do Mundo

Não há garantia de sucesso nem Copa do Mundo nem no mundo dos softwares (Adidas/Divulgação)

Não há garantia de sucesso nem Copa do Mundo nem no mundo dos softwares (Adidas/Divulgação)

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Publicado em 28 de outubro de 2022 às 13h00.

Última atualização em 28 de outubro de 2022 às 13h09.

A Copa do Mundo está entre os maiores eventos esportivos do planeta, e um dos motivos para o torneio ser tão aclamado é a sua periodicidade. Isso porque a espera entre uma edição e outra torna a competição ainda mais empolgante para os espectadores. Proporcionalmente, o intervalo de tempo aumenta a exigência do público, que anseia para que sua seleção tenha o melhor desempenho possível.

Para as seleções, a Copa é um ciclo. Ao fim do evento, iniciam-se as preparações para o torneio seguinte. Durante quatro anos, os países passam por um processo de maturação, que envolve avaliações e testes, definição de objetivos e alinhamento interno das equipes.

Não basta escalar jogadores de renome, é preciso apresentar um bom desempenho e conquistar resultados. A grande questão, no entanto, é que isso não se consegue do dia para a noite.

Qualidade como estratégia

O processo começa de cima para baixo. Primeiramente, as confederações de cada país devem escolher um treinador para o time, que exercerá o papel de líder e ficará responsável por planejar a escalação e disseminar a estratégia para o elenco, extraindo o máximo de desempenho de todos. Os jogadores precisam saber as atribuições e reflexos de suas posições, para que consigam construir as jogadas e chegar ao gol.

É possível verificar que, dentro e fora de campo, estabelecer e seguir uma Cultura de Qualidade é determinante para o foco de um time e seus objetivos. É ela que, através de valores, normas e condutas, estabelece consciências e práticas, influenciando diretamente no funcionamento da equipe. Da mesma forma, essa metodologia é aplicada no setor de tecnologia, em que as etapas no desenvolvimento de software são pensadas e executadas de forma a garantir uma qualidade crescente no pré e pós-lançamento do produto digital.

Em ambos os casos, observa-se a fundamental importância dos líderes, seja um técnico de futebol, seja um gestor de uma operação. Um líder precisa orientar e se certificar de que todos na operação saibam o objetivo principal, os procedimentos escolhidos e, principalmente, sua relevância para aquela entrega.

Tanto no futebol quanto na área de TI, constituir uma Cultura de Qualidade pode transformar uma boa equipe em um time vencedor. Ter grandes talentos no elenco de uma seleção ajuda, assim como é importante para uma empresa ter bons QAs (Quality Assurance), responsáveis por assegurar a eficácia em todas as etapas de elaboração de um software. Porém, um craque não joga sozinho, muito menos entra apenas ao final do jogo.

E, para as duas partes, o consumidor está cada vez mais exigente. No futebol, os torcedores têm altas expectativas e cobram que seus times joguem bem, vencendo as partidas. Em produtos digitais, os usuários querem aproveitar a experiência de uma tecnologia prática, funcional e de boa usabilidade em sites e apps.

Recentes descobertas

O ano de 2014 foi traumático para a seleção brasileira. Após ser eliminada dentro de sua casa, levando a maior goleada da história de uma semifinal de Copa do Mundo, foi preciso reavaliar a maneira como as coisas estavam sendo conduzidas. Com isso, a atenção se voltou para o modelo europeu de gestão, que prioriza o jogo coletivo e se preocupa em cultivar e investir na mesma base de jogadores. A principal referência, sem sombra de dúvidas, foi a seleção da Alemanha, que estava com o mesmo técnico desde 2006, chegando entre as quatro melhores equipes da competição por dois anos consecutivos até se sagrar a grande campeã de 2014. Ou seja, havia uma busca constante pelo aprimoramento no DNA do time alemão.

No campo da tecnologia, o processo de maturação teve início há pouco tempo. No entanto, a mudança partiu de uma motivação diferente. A pandemia de covid-19 digitalizou diversos negócios de maneira acelerada, o que refletiu muito no aumento do mercado de produtos digitais. O consumidor passou a fazer muitas coisas que não fazia antes pelo smartphone ou computador, e os setores online cresceram como nunca visto antes. Assim, fatores como funcionalidade e usabilidade ficaram mais evidentes, tornando-se critérios imprescindíveis.

Afinal, um site pouco funcional e instável, ou um app lento e cheio de bugs, representam só algumas das diversas frustrações digitais que podem levar o usuário ao concorrente. Então, muitos gestores perceberam que era preciso “recalcular a rota” dentro de suas empresas, priorizando o conforto digital e, acima de tudo, a qualidade do software.

A importância dos testes

Não existe qualidade sem teste. A seleção brasileira que irá disputar a Copa do Qatar é muito diferente da que competiu na Rússia em 2018. E por que? Pois nos quatro anos de preparação foram feitos inúmeros testes e avaliações. Assim, observou-se que alguns atletas que tiveram bom desempenho na última competição não conseguiram mais entregar a mesma performance, enquanto outros foram evoluindo e garantindo o seu espaço dentro do time. Essa prática trouxe a melhor versão da equipe para o ano de 2022, que chega como uma das favoritas para conquistar o mundial.

No entanto, imagine se a estratégia do técnico fosse deixar para avaliar os jogadores às vésperas da Copa. Ou ainda, que o time todo pouco treinasse e apostasse apenas na jogada daquele craque. Da mesma forma, antes de lançar um produto, uma operação de TI precisa contar com investimento em testes preventivos e a disseminação do propósito da qualidade em todas as etapas do ciclo de desenvolvimento do software.

Testes não podem ser negligenciados ou vistos apenas como ferramentas corretivas no pós-deploy, assim como profissionais de qualidade, que são grandes protagonistas na propagação de conhecimento, não devem ser dispensados nas etapas iniciais. Foco preventivo e adoção constante de soluções e práticas de aprimoramento podem ser a chave para evitar retrabalho, custos, desgaste da equipe e frustração do usuário.

Não existe uma garantia de que o Brasil será campeão da próxima Copa. Do mesmo modo, não há como ter certeza que um software não apresentará  problemas. Contudo, é justamente  o cuidado com todas as partes do processo que possibilita bons resultados, mitigando os riscos e tornando a experiência das pessoas mais satisfatória.

*Bruno Abreu é sócio fundador e CEO da Sofist

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