Sydney Stanbeck: Head Global de Tendencias do Pinterest (Pinterest/Divulgação)
Repórter
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 06h21.
Em 2026, o conforto, a autenticidade e uma visão otimista serão os principais caminhos para lidar com o excesso de estímulos do cotidiano e das redes sociais. É o que aponta o Pinterest Predicts, o relatório anual da plataforma com projeções de comportamento e consumo para o ano seguinte.
Embora esses insights mostrem como as pessoas devem se expressar pela moda, decoração e beleza, além das preferências gastronômicas, os dados sobre os próximos meses podem ajudar a empreendedores customizar seus produtos e serviços especialmente para a Geração Z e o público feminino — os principais usuários da plataforma.
A navegação por temas, estilos e ideias no Pinterest permite observar com agilidade quais formatos, cores, conceitos e soluções ganham destaque em nichos específicos. Essa dinâmica atua como uma espécie de pesquisa de mercado visual constante, útil para mapear padrões de consumo, identificar demandas recorrentes e reconhecer áreas com potencial ainda pouco explorado.
O que vai definir 2026? As 21 tendências do Pinterest para o anoSegundo o relatório do Pinterest, as pessoas se apoiarão em 21 previsões que focam na exploração pessoal de três formas principais:
Em entrevista à EXAME, Sydney Stanback, Head Global de Tendências e Insights do Pinterest, explica que a valorização da própria identidade ganhou impulso pelas instabilidades econômicas e sociais ao redor do mundo, assim como o excesso de informações na internet, que alimentam a ansiedade.
"Nosso estudo mostra que apenas 30% das pessoas dizem se sentir cautelosamente otimistas em relação ao futuro, e não conseguem planejar nada para além dos próximos dois anos. Nesse contexto, a identidade se torna uma âncora, algo que as pessoas conseguem controlar, experimentar e no qual podem se sentir autênticas em meio a tantas variáveis externas".
Por outro lado, a executiva reconhece que, para os usuários das redes sociais, acompanhar tantas tendências em ritmo acelerado pode ter contribuído para essa mudança de atitude.
"Há um cansaço em relação a um ciclo de tendências cada vez mais rápido. Entre 2018 e 2023, as tendências cresceram 4,4 vezes mais rápido e se tornaram mais voláteis. Para lidar com isso, as pessoas deixam de tratá-las como mandatos e passam a filtrar o que se encaixa em seus valores, identidades e estilos de vida", afirma Sydney.
Para ela, as empresas que querem acompanhar os comportamentos e afinidades dos jovens nos próximos 12 meses precisam compreender as causas das novas formas de "autoexpressão".
"A pergunta central deixa de ser 'o que está bombando agora?' para se tornar 'o que realmente faz sentido para mim?'. É exatamente isso que vemos no nosso pilar “Curadoria e expressão individual”, em que as pessoas usam as tendências como matéria‑prima para suas personalidades, seja em makes propositalmente descombinadas, em acessórios como rendas e broches, em toques de decoração Afrodecor ou em um estilo que evoca poetas e o glamour dos anos 80".
Nos últimos ciclos de análise da plataforma, houve um aumento significativo no interesse por conteúdos nostálgicos. Essa preferência tem relação direta com a busca por estabilidade emocional. Entre os dados apontados, 52% dos entrevistados dizem que voltaram a assistir programas e filmes antigos. Segundo o levantamento, 4 em cada 10 relatam cozinhar ou consumir alimentos tradicionais ligados à memória afetiva.
Essa nostalgia, no entanto, não representa um simples retorno ao passado. De acordo com o Pinterest, ela evolui para o que chamam de “reapropriação” – uma forma de fundir passado e presente como preparação para um futuro cada vez mais imprevisível.
Diante deste cenário, Sydney Stanback afirma que muitas empresas têm a oportunidade de surfar nessa onda para conquistar a liderança na disputa pela preferência dos consumidores.
"Em um mundo imprevisível, revisitar referências da infância ou de outras épocas cria uma sensação de familiaridade e conforto. Para as empresas, o ponto-chave não é simplesmente repetir o passado, mas ressignificá‑lo", pontua a Head de Tendências do Pinterest.
E reforça: "Marcas que combinam nostalgia com inclusão, sustentabilidade e funcionalidade moderna conseguem acessar esse desejo por emoções antigas sem parecer ultrapassadas, seja levando o charme analógico de 'Entre postais' para experiências ou traduzindo o conforto de 'Lar lúdico' para espaços físicos e peças de decoração para as casas. Vemos isso claramente também em tendências como 'Infância retrô', 'Jujuba joia' e 'Repolho hype', que misturam memórias afetivas com releituras contemporâneas".
O ritmo frenético da vida urbana e a overdose de conteúdos nas redes sociais não apenas transformaram a identidade pessoal como tendência, como também estimulam o chamado "Otimismo realista". Para Sydney, esse movimento não consiste em um "pessimismo disfarçado", mas apenas em uma forma diferente de olhar para o tempo. Segundo ela, é uma mudança de comportamento que deve dar a muitos empreendedores outras diretrizes.
"Em vez de planejamentos de longo prazo, as pessoas estão se concentrando em melhorias concretas e de curto prazo: pequenos upgrades em casa, mudanças no guarda‑roupa, viagens que pareçam significativas ou rituais de autocuidado que caibam na rotina. É uma atenção maior ao presente, mas não de um jeito raso, de gratificação instantânea", explica. "As tendências de 'Otimismo realista' traduzem isso em estéticas, destinos de viagem, beleza e moda que funcionam como válvulas de escape emocionais e, ao mesmo tempo, como ferramentas de restauração, como 'Vibe glacial', 'Terra mística' e 'Férias com emoção'".
Há muito tempo o Pinterest evoluiu de rede social de inspirações visuais para um ambiente de compras online. Com mais de 600 milhões de usuários mensais, a plataforma se destaca pelo seu potencial de estimular desejos e decisões, por meio de suas ferramentas de pesquisa.
Segundo um levantamento da Adobe, cerca de 39% dos consumidores usam o Pinterest como “mecanismo de busca”, e 36% dizem começar suas buscas na plataforma em vez do Google, o que evidencia sua relevância na descoberta de produtos, soluções e ideias, além de oportunidades para as empresas se aproximarem de novos públicos.
Essa expansão tem ocorrido no mundo inteiro, inclusive no Brasil, ressalta Rogério Nicolai, diretor de Negócios do Pinterest no país.
"Hoje, o Pinterest é tanto uma vitrine de inspiração quanto um ponto de partida para as compras. Isso significa que conseguimos enxergar o momento exato em que uma ideia ainda é apenas um rascunho – uma busca, um Pin salvo – e o momento em que ela se transforma em intenção real de compra. Nossos insights conectam esses dois pontos e ajudam as marcas a entender não só o que está em alta e o que estará em alta no futuro, mas também quando e como essas tendências se convertem em demanda real".
O executivo esclarece que a confiabilidade do Pinterest está atrelada ao elevado grau de assertividade das previsões dos relatórios.
"Conseguimos antecipar comportamentos com um alto nível de precisão: 90% das tendências que previmos em Pinterest Predicts 2025 realmente aconteceram e, olhando para os últimos seis anos, 88% de nossas previsões se concretizaram. Isso permite que marcas — de pequenos negócios a grandes varejistas — planejem coleções, sortimentos, conteúdo e comunicação com antecedência, apostando em tendências mais duradouras, menos voláteis e diretamente conectadas à intenção de compra".
Ele também detalha os resultados concretos para as marcas que decidiram apostar nos insights deste ano: "A Avon, que neste ano lançou uma linha completa de produtos pautada em uma de nossas previsões de tendência, que era o universo da cereja. Outro exemplo bem interessante foi o caso da Zunis, um e-commerce de itens de casa e decoração que apostou na tendência “Decorgumelos”, que previmos para 2023. A marca explorou uma coleção de produtos, como luminárias e vasos, com formato de cogumelos e viu resultados muito positivos ao trabalhar essa estratégia no site e na comunicação. No final, eles estavam tão preparados para a demanda que acabaram na lista de fornecedores do Big Brother Brasil (BBB24) para o Quarto Gnomo".
Além de darem uma espiada no que os jovens estão consumindo, os empreendedores também se abriram para outras soluções do Pinterest em suas operações. O estudo da Adobe mostra que, aproximadamente 24% dos donos de negócios já usam a rede social como ferramenta de marketing; entre eles, 76% usam para gerar tráfego para site e 57% para fortalecer marca, indicando uso estratégico para crescimento de pequenos empreendedores.
Segundo o diretor de Negócios do Pinterest, as tendências para o próximo ano trazem brechas para empresas fazem investimentos em novos produtos e públicos, especialmente aquelas ligadas aos setores de entretenimento, lifestyle e serviços.
"As tendências de 2026 falam muito mais de como as pessoas querem viver do que apenas o que elas querem comprar. Quando olhamos para pilares como conforto emocional, escapismo e autoexpressão, vemos oportunidades claras para entretenimento, lifestyle e serviços. Tendências como “Terra mística” (viagens contemplativas e esotéricas), “Férias com emoção” (turismo de aventura e experiências radicais) ou “Ópera aesthetic” (festas dramáticas e teatrais) apontam diretamente para novos formatos de eventos, roteiros, vivências imersivas e serviços personalizados", explica. "Além disso, vemos que o escapismo é um movimento positivo para as pessoas, assim como reconexão com a natureza e autocuidado. Isso abre espaço para bem‑estar, hospedagem, gastronomia, experiências culturais e entretenimento que conversem com essa busca por refúgio".
Mesmo assim, Rogério Nicolai afirma que as tendências levantadas no relatório podem ser valiosas também para todos os segmentos econômicos, desde que se abram para a criatividade e inovação.
"O que temos observado é que, apesar das nossas tendências se relacionarem a verticais específicas, elas são um reflexo do movimento cultural atual, e podem ser aplicadas em todos os tipos de negócios que queiram se destacar e sair na frente com as nossas previsões".
Para ele, a trend de “Curadoria e expressão pessoal" significa para as empresas a chance de convidar os consumidores para experiências mais personalizadas.
"Quase metade dos entrevistados globalmente diz que só participa de tendências que se encaixam com suas identidades e desejos. Isso muda a lógica: em vez de uma estética pronta, as marcas precisam oferecer “plataformas” de expressão pessoal - produtos, serviços e ambientes que as pessoas possam combinar, customizar e reinterpretar como preferirem".
Empresas de moda e beleza podem ser as mais contempladas pelo apego à personalização. "Quando observamos tendências como 'Arte da essência' (mistura de fragrâncias), 'Beleza sem regras' (maquiagem propositalmente assimétrica e imperfeita) ou 'Broches mil' (acessórios maximalistas, sem gênero), vemos claramente uma demanda por estações de customização, atendimento consultivo, serviços sob medida, coleções cápsula que incentivem o consumidor a remixar. A oportunidade é sair de um portfólio rígido para um ecossistema de produtos e serviços que convidam à experimentação".
E acrescenta: "Mas é uma personalização diferente daquela que vimos na primeira onda do digital. Não se trata apenas de 'recomendar o produto certo', e sim de permitir que as pessoas co‑criem a tendência. Nosso estudo mostra que quase 25% de consumidores da Geração Z e Millennials que engajam com tendências evitam a fadiga justamente colocando seu próprio toque nelas".