Como uma startup pode virar um unicórnio com pouco dinheiro
Edson Rigonatti, sócio-fundador da Astella Investimentos, conta quais são as quatro condições para que os empreendedores construam empresas de sucesso sem depender de capital externo
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de novembro de 2023 às 07h59.
Mitológico, na releitura contemporânea do mundo de negócio o unicórnio representa a startup que alcança um valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares. No mundo, há apenas 12000 empresas que entraram para o seleto grupo. No Brasil, o clube é mais exclusivo: 17, segundo a lista mais recente da CB Insights, excluindo empresas tecnologia que abriram capital, caso doNubank.
Ou seja, assim como contam as narrativas mitológicas, é um animal raro. Das 1000 startups que recebem investimentos no pré-seed, apenas uma, na média, chega ao patamar.“A jornada de empreendedor é igual a jornada de quem tenta subir o monte Everest”, afirma Edson Rigonatti.
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O executivo é sócio-fundador da Astella Investimentos, uma das principais gestoras do país e com atuação em plataformas SaaS, marketplace e empresas de consumo. No portfólio construído ao longo dos últimos 16 anos, a empresa já investiu mais de 800 milhões de reais e tem entre os cases a plataforma de gestão Omie e a RD Station, vendida para a TOTVS em 2021.
Na lista de desafios dos empreendedores, estão:
- Ter um time qualificado para a construção do projeto
- Desenvolver produtos com alta demanda
- Capacidade de gestão da organização
- Captação de recursos
Os dados mostram que construir um unicórnio tem demandado um capital em torno de 269 milhões de dólares. “A beleza é que tem gente que consegue fazer isso com US$ 4 milhões e tem gente que precisa de 3 bilhões de dólares para chegar lá”, disse Rigonatti.
Em tempos de recursos mais limitados no mercado de venture capital e com os fundos mais atentos à rentabilidade dos negócios, o gestor compartilhou com uma plateia de empreendedores no Case, evento de inovação promovido pela Abstartups, em São Paulo, os caminhos para alcançar o sucesso sem demandar tanto capital.
“Na jornada do unicórnio, quanto mais dinheiro a empreendedor capta, menos tem no final da jornada. A média de equity (participação) dos fundadores no IPO ou venda do unicórnio, é de 5% da empresa. Por que captar muito dinheiro se é possível criar uma grande empresa com pouco ou quase nada de dinheiro?”, afirma.
Quais são os quatro passos para chegar lá
Segundo o gestor, o caminho para a construção de um unicórnio ou de uma startup de sucesso com pouco dinheiro passa por um compromisso dos empreendedores com quatro condições.
- A primeira é resolver as demandas e dores do negócio com softwares, não com pessoas. “As empresas que ficam colocando gente para resolver o problema de customer success, de vendas e de operação acabam sendo ineficientes e precisando de mais dinheiro”, afirma.Pelos cálculos de Rigonatti, uma empresa que faz uma gestão eficiente de recursos humanos gera uma receita de R$ 125.000 por funcionário na fase seed, valor que pode servir de parâmetro para os fundadores na gestão dos negócios.
- A segunda é a condição de criar um produto que se destaque e entregue altas margens brutas desde o primeiro dia de operação. O gestor lembra de cases bem-sucedidos como o do WhatsApp, app que nasceu com a cobrança de US$ 1 para uso e antes de ser comprado pelo Facebook só tinha recebido US$ 8 milhões em investimentos.
- De nada ainda, porém, se esses dois esforços não estiverem associados à criação de canais proprietários para a distribuição dos produtos e serviços. Muitas empresas hoje dependem de plataformas como o Google e outras redes para conquistar clientes e fechar as vendas, o que pode dificultar a expansão e a escala. Além disso, qualquer mudança nessas ferramentas tem o potencial de colocar o negócio em risco.
“Para criar uma empresa grande que cresça rápido e que não precise de dinheiro de fora, eu preciso ter total controle da geração de demanda. Eu preciso ter um jeito de criar a demanda, de gerar lead, algo que eu possa controlar. Custa caro, mas ela estará sob a minha gestão e eu não dependerei de um algoritmo”, diz.
- O último compromisso na lista do gestor pode ser traduzido por um velho ditado: dinheiro não compra tudo. Isto é, não é a captação que vai salvar o negócio, e sim a capacidade da empresa de criar, gerir e atrair clientes para os seus produtos.
“O dinheiro do investidor de venture capital só ajuda quando eu preciso chegar na adequação do produto no mercado e tenho que contratar gente para montar o produto e desenvolver estratégia de go-to-market ou quando preciso escalar a adequação do produto no mercado”.