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Ucrânia rejeita proposta da Rússia de se render em Mariupol

A Ucrânia rejeitou o ultimato russo para entregar a cidade portuária cercada de Mariupol, enquanto na capital Kiev um bombardeio matou pelo menos seis pessoas

Cena após bombardeio em Kiev no fim de semana: cerco à capital segue sendo prioridade russa, na avaliação do Reino Unido (Matthew Hatcher/SOPA Images/LightRocket via Getty Images/Getty Images)

Cena após bombardeio em Kiev no fim de semana: cerco à capital segue sendo prioridade russa, na avaliação do Reino Unido (Matthew Hatcher/SOPA Images/LightRocket via Getty Images/Getty Images)

Drc

Da redação, com agências

Publicado em 21 de março de 2022 às 06h46.

Última atualização em 21 de março de 2022 às 14h33.

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  • A Ucrânia rejeitou se render na cidade portuária de Mariupol;
  • A rendição era exigência da Rússia para abrir novo corredor humanitário na cidade;
  • Um vazamento de amônia ocorreu após ataque a fábrica de fertilizantes;
  • A capital Kiev teve um shopping bombardeado, e um toque de recolher de 35 horas foi anunciado;
  • Líderes europeus e Joe Biden conversaram nesta segunda-feira;
  • Há pressão para sanções europeias diretas ao setor energético russo;
  • A China negou que tenha enviado munição à Rússia;
  • O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia disse hoje que a China tem "papel importante" nas negociações de paz.

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Sem rendição em Mariupol

A Ucrânia rejeitou a proposta da Rússia de depor suas armas na manhã da segunda-feira, 21, em troca de uma passagem segura para fora da cidade de Mariupol, ao sul, uma das mais atacadas desde o início do conflito.

A exigência russa veio horas depois de autoridades ucranianas afirmarem que forças de Moscou bombardearem no domingo uma escola de artes que abrigava cerca de 400 pessoas.

As forças russas permitiriam dois corredores hoje para fora da cidade costeira, disse o coronel russo Mikhail Mizintsev, caso houvesse rendição até às 5h desta segunda-feira (horário de Moscou).

A proposta foi negada, afirmou a vice-premiê da Ucrânia, Irina Vereshchuk.

"Não se pode falar em rendição, deposição de armas. Já informamos o lado russo sobre isso", disse ela ao canal de notícias Ukrainian Pravda. "Escrevi: 'Em vez de perder tempo com oito páginas de cartas, basta abrir o corredor humanitário'".

Informes de pessoas no local apontam que a cidade está sendo bombardeada nesta manhã, segundo a rede de televisão americana CNN.

Fora de Mariupol, oito corredores humanitários nas frentes de batalha foram acordados para hoje.

A guerra na Ucrânia chegou hoje a 26 dias desde seu início, em 24 de fevereiro. O número de refugiados supera 3,4 milhões, mas ao todo, 10 milhões de pessoas tiveram de deixar suas casas dentro do país, segundo a ONU.

Tentativas anteriores para permitir que os moradores evacuassem Mariupol e outras cidades falharam ou foram apenas parcialmente bem-sucedidas, com os bombardeios continuando enquanto os civis tentavam fugir. Ambos os lados acusam o outro de ter minado as tentativas de evacuação.

Mariupol é estratégica por ser um ponto de ligação entre a Crimeia, anexada em 2014 e hoje parte do território russo, e as regiões separatistas de Donbas, que têm apoio russo. A maior parte da população também fala russo e tem ligações com a Rússia na região.

Em uma mensagem de vídeo, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky citou o bombardeio da escola em Mariupol. "As forças russas vieram nos exterminar, matar", disse.

Este foi o mais recente ataque potencialmente devastador contra um refúgio para civis. Na semana passada, um teatro - onde, segundo as autoridades, havia mil deslocados - foi atacado e centenas de pessoas continuam desaparecidas.

Soldado ucraniano em destroços do shopping bombardeado nesta segunda-feira, 21: ao menos oito mortos (ARIS MESSINIS/AFP)

Bombardeio de shopping em Kiev

Duas novas mortes foram confirmadas após bombardeio de um shopping na madrugada desta segunda-feira na capital Kiev. O total de mortos subiu para oito pessoas.

O local foi atingido por uma bomba potente que reduziu a pó os veículos estacionados e deixou uma cratera aberta de vários metros de comprimento diante do prédio de 10 andares.

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A cidade de Kiev decretou nesta manhã toque de recolher de 35 horas, isto é, até a manhã da próxima quarta-feira, 23.

Também hoje, o Ministério da Defesa do Reino Unido divulgou nota afirmando que Kiev "continua sendo o objetivo militar principal da Rússia e eles provavelmente vão priorizar a tentativa de cercar a cidade ao longo das próximas semanas". 

Vazamento de amônia

Autoridades afirmaram mais cedo aos residentes do vilarejo de Novoselytsya que procurassem abrigo diante de um vazamento de amônia após bombardeio a uma fábrica de fertilizantes na madrugada desta segunda-feira.

Nas horas após o incidente, autoridades afirmaram que o vazamento foi controlado e equipes de resgate estavam concertando o tanque danificado. Um funcionário ficou ferido.

Segundo comunicação no Telegram das autoridades de Sumy, cidade próxima, o vazamento poderia potencialmente chegar a uma área de 2,5 quilômetros, devido ao fato de a amônia, que é tóxica se respirada por humanos, se espalhar rapidamente pelo ar.

Biden vai à Polônia

A Casa Branca anunciou no domingo que o presidente americano, Joe Biden, viajará na sexta-feira à Polônia para uma reunião com o colega polonês Andrzej Duda. A Polônia tem sido um dos principais atores no conflito ao ser destino de mais de 2 milhões de refugiados.

"O presidente abordará como os Estados Unidos respondem junto com nossos aliados e sócios à crise humanitária e de direitos humanos criada pela guerra injustificável e não provocada da Rússia contra a Ucrânia", afirmou a secretária de imprensa do governo americano, Jen Psaki, em um comunicado.

A visita à Polônia acontecerá após uma escala na Bélgica para uma reunião com os líderes da Otan, do G7 e da União Europeia.

Reunião entre EUA e europeus

Nesta segunda-feira, Biden e líderes de alguns dos principais países da União Europeia também iniciaram uma videoconferência ao meio-dia como preparativo para essas reuniões.

Participam o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o premiê britânico, Boris Johnson e o premiê italiano, Mario Draghi.

Gabrielius Landsbergis, ministro das Relações Exteriores da Lituânia, antes de reunião em Bruxelas nesta segunda-feira, 21: pressão para que UE imponha sanções no setor energético (Valeria Mongelli/Bloomberg/Getty Images)

Há pressão dos EUA e de países do leste europeu, como Lituânia, Estônia e República Tcheca, para que haja mais sanções diretas ao setor energético russo. Os EUA proibiram neste mês importações de petróleo e derivados russos, na sanção mais dura imposta até agora.

A resistência europeia a tomar esse tipo de medida é afetar o fornecimento de energia na UE, onde 40% do gás natural vem da Rússia.

Paralelamente, ministros das relações exteriores da União Europeia se reúnem hoje em Bruxelas, na Bélgica. O chefe da política externa da UE, Josep Borrell, confirmou que ministros "vão discutir" sanções ao setor energético. 

Enquanto isso, a caça às bruxas no setor financeiro continua. A França anunciou no domingo que apreendeu 920 milhões de dólares em bens de oligarcas russos em seu território. A guerra russa gerou uma onda sem precedentes de sanções ocidentais contra Putin, seu entorno e empresas russas.

China nega envio de armas

O embaixador chinês nos EUA, Qin Gang, disse no domingo que a China não está enviando armas à Rússia.

Ao canal americano CBS, afirmou que "há desinformação sobre a China estar fornecendo assistência militar à Rússia. Nós rejeitamos isso", disse. O diplomata afirmou que a China está "enviando comida, remédios", e "não armas e munição para nenhum dos lados", mas não especificou quem estaria recebendo tal ajuda.

Gang defendeu a decisão chinesa de não rejeitar a ação da Rússia na ONU afirmando que "respeita a soberania nacional e integridade territorial de todos os países", mas que "por outro lado, nós de fato vemos que há complexidade na história da Ucrânia."

A declaração acontece após uma conversa de duas horas entre Biden e o presidente chinês, Xi Jinping, na última sexta-feira. Biden afirmou que haveria "consequências" se a China ajudasse a Rússia militarmente no conflito, sem especificar quais seriam as medidas.

Ucrânia diz que China tem "papel importante"

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, também levantou o assunto chinês nesta segunda-feira em rede social, ao afirmar que a China é parceira comercial ucraniana e deve desempenhar "um papel importante" no esforço diplomático pelo fim da guerra.

"Por décadas, as relações sino-ucranianas tem sido baseadas em respeito mútuo, compreensão e benefícios", escreveu.

"Nós compartilhamos da posição de Pequim sobre a necessidade de encontrar uma solução política para a guerra contra a Ucrânia e chamamos a China, como uma potência global, a desempenhar um papel importante neste esforço."

Zelensky volta a pedir conversa com Putin

Diante da intensificação da ofensiva de Moscou, o presidente ucraniano Zelensky voltou a sugerir uma conversa direta com o presidente russo, Vladimir Putin.

Após uma mensagem ao Parlamento de Israel, o ucraniano também agradeceu o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett (que substituiu Benjamin Netanyahu no ano passado) por tentar atuar como mediador nas negociações.

"O primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, tenta buscar um caminho para a negociação com a Rússia e nós o agradecemos (...) Pode ser em Jerusalém, é um bom local para encontrar a paz", disse. Na fala Zelensky também pediu sanções israelenses contra a Rússia.

Praça em Tel Aviv: fala de Zelensky ao Parlamento israelense no fim de semana (Amir Levy/Getty Images)

Turquia diz que há avanço em negociações

Enquanto isso, autoridades de Turquia, onde delegados da Rússia e da Ucrânia estão negociando, afirmaram no domingo que os dois lados estão próximos de um acordo para acabar com o confronto.

A Turquia foi palco neste mês de um dos encontros de negociação, e o país, que é próximo da Rússia mas também membro da Otan, tem atuado como mediador.

O ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, disse ao jornal local Hurriyet que houve "reaproximação" em "questões críticas".

Na semana passada, as partes saíram de nova rodada de negociações também afirmando que houve avanços, e Zelensky chegou a fazer discurso afirmando que a Otan nunca aceitou sua entrada e era preciso aceitar que possivelmente não fosse mais fazê-lo.

À Al Jazeera, o porta-voz da Presidência turca, Ibrahim Kalin, também citou que houve avanços na busca de um potencial equilíbrio entre proteção da Ucrânia e a não entrada do país na Otan.

Mas afirmou que um cessar-fogo permanente viria apenas com um encontro entre o presidente russo Vladimir Putin e Zelensky, o que, segundo ele, o Kremlin ainda não está pronto a fazer. 

Um dos empecilhos parece ser o reconhecimento de territórios como independentes. Além da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014 após um referendo, as regiões de Luhansk e Donetsk em Donbas estão em guerra civil com o governo central há oito anos, e têm apoio da Rússia.

"Não é possível simplesmente exigir que a Ucrânia reconheça alguns territórios como repúblicas independentes", declarou Zelensky ao canal americano CNN no domingo. "Temos que pensar um modelo no qual a Ucrânia não perca sua soberania, sua integridade territorial".

Mísseis hipersônicos

As forças russas têm usado cada vez mais mísseis de longo alcance, enquanto na frente de batalha suas tropas enfrentam uma dura resistência ucraniana e sofrem escassez de armas e materiais, segundo relatos coletados pela agência de notícias francesa AFP.

O ministério russo da Defesa russo anunciou no domingo que disparou mísseis hipersônicos "Kinzhal" ("punhal" em russo), que destruíram um depósito de combustível na região sul de Mykolaiv.

No sábado, o ministério informou que usou o armamento para destruir um depósito de armas próximo da fronteira da Ucrânia com a Romênia, mas o Pentágono questionou a versão russa.

Em Chernihiv, cidade cercada, o major ucraniano Vladislav Atroshenko afirmou que dezenas de civis morreram em um bombardeio contra um hospital.

Impacto econômico

As consequências econômicas da guerra na Ucrânia mundo afora devem seguir sendo sentidas após o fim do conflito, declarou no domingo a economista chefe do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, Beata Javorci.

"Mesmo se a guerra terminar hoje, as consequências do conflito serão sentidas nos próximos meses", disse.

A Rússia é um grande exportador de petróleo, gás e produtos básicos, enquanto a Ucrânia é um importante fornecedor de trigo.

Os preços de insumos no mundo dispararam, gerando mais inflação. Um dos principais afetados é o preço dos combustíveis. No Brasil, a guerra fez a Petrobras anunciar reajuste de 19% na gasolina e 25% no diesel em 10 de março, e há preocupação com o suprimento de fertilizantes para a agricultura.

Nova onda de alta de juros para conter a inflação também começa a se tornar realidade no mundo, o que tende a derrubar a atividade econômica e geração de empregos. O Fed, banco central dos EUA, subiu a taxa de juros na semana passada pela primeira vez em três anos. O Banco Central brasileiro elevou a taxa Selic para 11,75%.

(Com AFP, Reuters)

*A reportagem será atualizada com os novos desdobramentos da guerra na Ucrânia nesta segunda-feira, 21. Última atualização às 14h31.


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