O mercado teve um pregão de desespero nesta quinta-feira, 10, com derretimento da bolsa e salto no dólar em meio a preocupações com o novo governo Lula. 

O Ibovespa caiu 3,35%, na maior queda do ano, ignorando completamente a forte alta de mais de 7% nas bolsas americanas. Na mínima, o índice caiu 4,46%, aos 108.516 pontos. O índice perdeu a marca dos 110 mil pontos pela primeira vez desde o fim de setembro.

Já o dólar encerrou a sessão a R$ 5,394. Na máxima, a moeda subiu a R$ 5,41.

• Ibovespa: - 4,27%, 109.775 pontos
• Dólar comercial: +4,14%, R$ 5,394

O clima negativo vinha se arrastando desde o início do dia com preocupações com a PEC da Transição, mas as perdas se aprofundaram com o discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. 

Na sede da transição, Lula criticou as pressões por responsabilidade fiscal, dizendo que "os mesmo que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social deste país". A leitura de investidores sobre o discurso é de que o novo governo irá gastar muito mais, haja o que houver.

Lula também afirmou que o Banco do Brasil (BBAS3) não será privatizado e criticou a antecipação de dividendos da Petrobras (PETR4).

"Lula manteve a mesma linha dos debates, que é um discurso para os pobres. O mercado financeiro não gosta, pois esbarra no furo no teto de gastos O mercado está preocupado com a quebra do teto fiscal, já que Lula não tem mostrado preocupação em relação ao cumprimento de gastos", afirmou Rodrigo Cohen, educador financeiro, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos.

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O efeito foi sentido especialmente nas taxas de juros futuras, com investidores precificando maior dificuldade do governo em conseguir empréstimos nos próximos anos devido a uma situação fiscal fragilizada.

• DI janeiro 2024: de 13,05% no ajuste anterior para 13,65%
• DI Janeiro 2027: de 11,90% no ajuste anterior para 12,93%

Juros de longo prazo são os mais afetados pela piora da perspectiva fiscal.  "Não me lembro a última vez em que vi uma movimentação dessa nos juros", afirmou Nicolas Merola, analista da Inv. 

O que está dando o tom é a curva de juros, que explodiu e desde o início do dia não para de subir. Isso rebate em praticamente todos os setores da bolsa", afirmou André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.

Para piorar o estresse no mercado de juros, a inflação de outubro voltou a sair acima das expectativas do mercado, encerrando a sequência de três meses de deflação . O Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta manhã, ficou em 0,59% ante consenso de 0,48%.

"A aceleração da inflação no mês, ainda que pontual, serve de alerta nesse momento em que se discute proposta de aumento de gastos para 2023", disse Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.

No final da tarde, o índice aprofundou as perdas e atingiu a mínima do dia após o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), anunciar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como integrante do grupo técnico da equipe de transição do governo Lula. Mantega integrará o comitê responsável pelo planejamento, orçamento e gestão na equipe.

Alckmin também tentou minimizar a reação do mercado ressaltando que o presidente eleito "teve responsabilidade fiscal" nos governos anteriores.

O vice lembrou que Lula assumiu o governo, em 2003, com uma dívida sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de 60% e, quando deixou o Planalto, estava em menos de 40%. Também disse que, em todos os anos de gestão Lula, o país registrou superávit primário. Ao final do pregão, o Ibovespa se afastou das mínimas.

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Bolsas disparam em NY

O clima na bolsa local destoou completamente do mercado americano, onde as bolsas entraram em seu maior rali desde a recuperação da pandemia em 2020. O motivo para a disparada foi a inflação, que deu uma trégua.

O Índice de Preço ao Consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) saiu abaixo do esperado para outubro, com alta de 0,4% contra consenso de 0,6%. No comparativo anual, a inflação americana desacelerou de 8,2% para 7,7%. A projeção era de queda para 8%. 

As bolsas de Nova York, que já operavam em leve alta no mercado de futuros, ganharam um novo impulso após a divulgação e dispararam. O grande destaque é o índice Nasdaq, que chega a subir mais de 5%.

• Dow Jones (EUA): + 3,70%
• S&P 500 futuro (EUA): + 5,54%
• Nasdaq (EUA): + 7,35%

A forte alta das bolsas americanas é impulsionada, especialmente, pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) seja mais brando no controle da inflação, suavizando a alta de juros para 0,50 ponto percentual já na reunião de dezembro. As apostas, antes do CPI, estavam divididas entre mais uma alta de 0,75 p.p. e uma de 0,5 p.p. para a próxima decisão.

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Queda generalizada na bolsa

Entre as 92 ações do Ibovespa, apenas seis encerraram o pregão em alta. As maiores beneficiadas são as exportadoras, que são beneficiadas pela variação cambial.

• CSN Mineração (CMIN3): + 2,77%
• Suzano (SUZB3): + 2,29%
• Vale (VALE3): + 1,91%
• Embraer (EMBR3): + 0,75%
• Klabin (KLBN11): + 0,71%
• Gerdau (GGBR4): + 0,14%

Na ponta oposta, Azul e Hapvida estão entre as maiores quedas do dia após a divulgação dos balanços do terceiro trimestre. A Azul teve prejuízo de R$ 1,65 bilhão no período, prejudicada pelo aumento de custos com a valorização do dólar. 

Já a Hapvida teve lucro líquido de R$ 35,2 milhões no terceiro trimestre, queda de 19,5% frente ao mesmo período do ano passado.

• Azul (AZUL4): - 17,83%
• Hapvida (HAPV3): - 13,92%