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'Foi Apenas um Acidente': o olhar otimista de Jafar Panahi chega aos cinemas

Cineasta levou a Palma de Ouro em Cannes com a história que fez baseada em seu tempo de cárcere; preso novamente pelo regime iraniano, ele agora vai atrás do Oscar

'Foi Apenas um Acidente': o banho de humanidade de Jafar Panahi (MUBI/Divulgação)

'Foi Apenas um Acidente': o banho de humanidade de Jafar Panahi (MUBI/Divulgação)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de Casual

Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 14h31.

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Dez meses em uma prisão iraniana foi o material bruto que o cineas­ta Jafar Panahi usou para produzir um filme que trata, surpreendentemente, de otimismo.

Em Foi Apenas um Acidente (2025), filme com o qual o diretor estreou no Festival de Cannes deste ano e levou a Palma de Ouro, a reflexão segue um rumo oposto à busca de justiça pela força bruta, como se poderia esperar.

A trama acompanha um grupo de ex-detentos do regime iraniano que tentam descobrir se um desconhecido capturado é mesmo o homem que os torturou na prisão. E, claro, decidir o que fazer com ele.

Enquanto não se decidem, as pessoas — um homem que trabalha em uma oficina de carros, um casal de noivos, a fotógrafa do casamento e um simples trabalhador — se deparam com uma série de imprevistos tragicômicos. Muitos deles relacionados à vida pessoal do torturador, que colocam o caráter e a empatia dos personagens em xeque.

Com roteiro leve e final arrebatador, que narra os horrores do regime expostos na sutileza dos diálogos, o filme segue como uma das principais apostas para o Oscar de 2026.

Ilegal pelo Irã, concorrerá à estatueta de Melhor Filme Internacional como o representante da França. A produção chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 4 de ­dezembro, com distribuição da Mubi.

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Memórias do cárcere

Panahi foi preso duas vezes em Teerã, por suposta propaganda contra o sistema. Na primeira passagem, em 2010, foram três meses em cárcere. Na segunda, em 2022, foram sete. Poderiam ter sido mais se ele não tivesse iniciado uma greve de fome.

Mas o período foi mais que suficiente para que o cineasta colhesse depoimentos de detentos políticos, que serviram para a construção do roteiro de Foi Apenas um Acidente.

“Quando você trabalha com cinema social e sua essência é humana, se concentra no caminho para passar uma mensagem. Não queria dar nem falsa esperança nem falso desespero com esse filme”, disse o diretor à Casual EXAME na passagem por São Paulo para a 49a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “A proposta não era expor a violência na prática, mas compô-la com uma visão esperançosa de que as coisas podem ser mais otimistas.”

Para gravar o longa, o diretor utilizou uma equipe secreta, em locais e horários variados, para driblar o regime.

“Quando você decide não aceitar a censura, precisa saber que vai ter muitos problemas. Para mim, para a história que eu queria contar com o que eu vivi, não havia outra escolha a não ser encontrar caminhos. Minha equipe sabia dos riscos. Só foi possível fazer porque eles confiavam que era um trabalho importante e estavam dispostos a arcar com as consequências.”

Na última semana, o cineasta foi mais uma vez condenado à prisão pelo regime iraniano, desta vez por um ano. Está proibido de viajar para o exterior por um período de dois anos. Panahi foi acusado de realizar atividades de propaganda contra o regime

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