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Tim Cook: os introvertidos também brilham

Sucessor de Steve Jobs, Tim Cook não investe seu tempo na construção de uma grande imagem, mas com certeza tem pilotado a Apple com segurança e maestria

Cook, em lançamento de produto, assumindo o papel de Jobs com responsabilidade e inovação ((Karl Mondon/Digital First Media/The Mercury News/Getty Images)

Cook, em lançamento de produto, assumindo o papel de Jobs com responsabilidade e inovação ((Karl Mondon/Digital First Media/The Mercury News/Getty Images)

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Publicado em 21 de agosto de 2023 às 14h00.

Por Luis Claudio Allan*

Assim que Steve Jobs perdeu a batalha para o câncer em 2011, a conversa no Vale do Silício era uma só: sem seu genial fundador, a poderosa Maçã iria, enfim, cair do pé! Ninguém seria capaz de manter a empresa dos Macs e iPhones no mesmo nível de excelência de seu criador.

Lá se vão quase 12 anos, mesmo tempo durante o qual Jobs ficou afastado da companhia criada em sua garagem em 1976 e da qual foi demitido em 1985. Só que, ao contrário do que motivou sua volta em 1997, a Apple hoje bate sucessivos recordes e se consolidou como a mais valiosa empresa do mundo, a primeira a alcançar valor de mercado de US$ 3 trilhões. Fosse um país, seria a quinta economia do mundo, à frente de Reino Unido e França.

Quem rege todo esse sucesso nunca aderiu às megalomanias dos bilionários do Vale do Silício. Tim Cook, aos 62 anos, é um executivo de cabelos brancos, discreto, um típico introvertido. Mas quem disse que introvertidos não podem ser brilhantes?

Aliás, enquanto fanáticos aguardavam a reencarnação de Jobs, cabe o questionamento: precisa?

Por algum tempo, Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos, se candidatou ao posto, até seu castelo de cartas desmoronar em uma condenação por fraude. Holmes chegou até a adotar a blusa preta de gola alta, marca registrada de Steve Jobs, para dar mais credibilidade à sua história pessoal. Mas, ao ver que tudo que ela criou foi uma mentira bem contada, ninguém mais ousou almejar o posto de “sucessor” do criador do iPhone.

Tim Cook, se não tem a verve e o talento para showman, surpreende por seu poder de gestão e estabilidade. Tim é boring? Talvez. Longe de polêmicas, ele tem pilotado a Apple com segurança.

Quando Jobs morreu, o iPhone estava em sua versão 4S e o iPad na 2. Já sem a sombra de Jobs, a Apple de Tim Cook desenvolveu dispositivos de sucesso, como o Apple Watch e os populares earPods. A marca de "gênio inventor", contudo, não colou em Cook.

Jobs é mesmo insubstituível?

Mas será que uma empresa do tamanho da Apple consegue sobreviver apenas dos arroubos de um gênio ou de personalidades com atuação errática de um Elon Musk ou um Mark Zuckerberg? O modelo de executivo que trabalhe duro, é sério e pacato, mas se cerca de uma equipe competente e confiável não funciona? Eis uma marca possível para Tim Cook, a fortaleza da Apple. Com ele, o iPhone chega ao modelo 15!

O aguardado anúncio e a estrondosa recepção aos “óculos de Realidade Aumentada/Virtual da Apple” fugiram do tom. Com o Vision Pro já considerado revolucionário mesmo em sua versão conceito, Cook e seu time de engenheiros e desenvolvedores estariam saindo da sombra do iPhone e do iMac com um lançamento audacioso, que pode revolucionar o modo como nos relacionamos com a internet tal e qual o iPhone fez em 2007.

“Hoje marca o início de uma nova era para a computação”, disse Tim Cook ao apresentar o dispositivo. “Assim como o Mac nos apresentou a computação pessoal e o iPhone nos apresentou a computação móvel, o Apple Vision Pro nos apresentou a computação espacial. Construído com base em décadas de inovação da Apple, o Vision Pro está anos à frente e diferente de tudo o que foi criado antes”, disse ele sem modéstia nem afetação.

Quem é Tim?

E quem é o cidadão Tim Cook? Não usa roupas de grife, não quer dar rolês no espaço nem na Fossa das Marianas, mal aparece em sites de fofoca, não marca lutas de MMA com executivos de concorrentes

Tim Cook é o que na mitologia moderna americana chamam de “self-made man”. Não veio de uma família de classe média do Alabama, formou-se em Engenharia Industrial e fez mestrado em Administração de Empresas pela Duke University. Ingressou na Apple em 1998, após ter trabalhado para Compaq e IBM. Também foi do conselho da Nike, algo que combina com sua paixão por trilhas e caminhadas.

Como líder, abandonou o microgerenciamento de Jobs e deu asas aos times. No lançamento dos produtos, ele não é o único a falar. Cook, o primeiro CEO abertamente gay da lista das 500 empresas mais ricas dos EUA elaborada pela revista Fortune, investiu em Diversidade e também envolveu a empresa com questões ambientais e doações substanciais para a caridade.

Sob a sua supervisão, a Apple construiu ainda um robusto negócio de serviços, incluindo produtos pagos de música, TV e jogos, dando à empresa um fluxo constante de receita desvinculada da natureza cíclica das vendas de hardware.

Vision Pro: o grande legado?

Quando assumiu o cargo de CEO, a ideia geral era de que a empresa estava no auge. Sob Cook, o valor de mercado da Apple aumentou mais de 700% e segue com perspectiva de alta. A exosfera é o limite?

Com números assim porque Cook não é endeusado? Faltava uma inovação capaz de mudar a forma como as pessoas interagem com a tecnologia. Bem, o “computador espacial” será o maior e mais arriscado lançamento de produto da Apple em anos.

Cook seria a marca do gênio subestimado? Ele pouco fala de vida pessoal ou se vangloria por seus bilhões de dólares de receita. A maçã de Cook tem, definitivamente, outro sabor.

*Luis Claudio Allan é CEO da FirstCom Comunicação e da People2Biz

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