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O aviso de proibido fumar está sendo desrespeitado

A indústria do tabaco passa por uma transformação impulsionada por inovações que trouxeram alternativas sem combustão

Cigarros: fabricantes teriam que reduzir nicotina a níveis não viciantes. (mariusFM77/Getty Images)

Cigarros: fabricantes teriam que reduzir nicotina a níveis não viciantes. (mariusFM77/Getty Images)

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Publicado em 5 de janeiro de 2023 às 06h30.

Algumas indústrias vêm se transformando de forma acelerada, causando impacto direto sobre os hábitos de consumo. O maior exemplo é o da descarbonização da indústria automobilística. O estado da Califórnia definiu data para o fim da venda de carros com motor a combustão: sozinha, se fosse um país, a Califórnia seria a quinta maior economia do mundo. Isso reforça o peso da decisão, sem contar a influência que o Vale do Silício tem sobre o resto do ocidente. No Brasil, montadoras correm contra o tempo para ampliar a linha de montagem de carros elétricos. É um movimento sem volta.

Na esteira da inovação e de novos hábitos de consumo, desponta a transformação da indústria do tabaco. A Philip Morris Brasil, segunda maior empresa de tabaco do país, está determinada a fazer algo drástico: parar de vender cigarros em um futuro próximo. Este movimento já foi iniciado em 71 países, entre eles Estados Unidos, Japão e quase a totalidade da Europa, chegando a 30% da receita global da empresa. A meta é alcançar 100 países e obter 50% da receita líquida proveniente de produtos sem fumaça até 2025.

Como o setor automotivo, a indústria do tabaco também passa por uma transformação. A inovação tecnológica permitiu desenvolver alternativas ao cigarro que, ao contrário deste, não tem combustão. Entre os diversos tipos de novos produtos, o tabaco aquecido, em particular, remove a combustão ao mesmo tempo em que preserva o ritual e sabor do tabaco – características que reforçam o fato de que se destina ao adulto já fumante. Como resultado da ausência de combustão, embora não livre de risco, o produto demonstra ser menos tóxico do que o cigarro, de acordo com estudos científicos.

É importante ressaltar que o tabaco aquecido em nada se assemelha aos chamados cigarros eletrônicos. O produto, como o nome sugere, envolve o aquecimento de um bastão de tabaco. Não há aqui a vaporização de um líquido ou a possibilidade de manipulação da nicotina e das substâncias a serem inaladas pelo usuário. O produto contém folha do tabaco e, portanto, tem cheiro de tabaco e gosto de tabaco. Não despertou assim, o interesse de jovens para o consumo do produto nos países em que já é comercializado.

Comparando o Brasil a outras economias mais desenvolvidas, a construção de regras para este mercado se faz urgente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2025 o número de pessoas fumantes se mantenha superior a 1 bilhão. Dados da pesquisa Vigitel sinalizam 19 milhões de fumantes no Brasil. A essas pessoas deve ser garantido o acesso a novas e melhores alternativas de consumo do tabaco sem combustão, como é o caso do tabaco aquecido. Não só isso. A simples proibição tem se mostrado absolutamente ineficaz para barrar a proliferação desordenada de cigarros eletrônicos advindos do mercado ilegal e vendidos sem qualquer controle sanitário, conforme demonstram dados da Polícia Federal (ou um simples caminhar nas ruas das grandes cidades do país).

Na outra ponta do setor, não podemos ignorar as pequenas propriedades que respondem pela produção do tabaco. No Brasil, são cerca de 150 mil pequenas propriedades inseridas em um modelo bem-sucedido de geração de renda contínua, que nos coloca na posição de um dos maiores produtores do mundo. Tudo monitorado por diagnósticos socioambientais, que promovem a melhoria contínua dos indicadores de sustentabilidade do campo, sempre em conformidade com as legislações ambientais e trabalhistas. O cultivo do tabaco é uma atividade econômica relevante para as cidades do Sul do País, região que mantém altos índices de desenvolvimento econômico e para os pequenos produtores de tabaco desta região, exemplo para outras culturas, ao buscarem garantir a agricultura do futuro baseada no respeito ao meio ambiente.

Discutir a regulação de produtos sem fumaça não é uma tarefa simples, mas estamos convencidos de que é o correto a se fazer. O modelo atual de proibição tem se mostrado ineficaz, favorecendo o comércio ilegal de produtos sem qualquer controle de qualidade e de procedência, impedindo que a indústria já regulada possa oferecer alternativas para o adulto fumante. Nossa mensagem como companhia é clara: se você não fuma, não comece; se fuma, pare; mas, para aqueles que continuam a fumar, é essencial que tenham informação e acesso a alternativas menos tóxicas do que o cigarro.

O Brasil, a exemplo de outros países signatários da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, precisa continuar atento à proteção da sua população. E foi, justamente, a regulação que colocou o Brasil em posição de referência quando o assunto é o controle do tabagismo. Quando se trata de alternativas ao cigarro, é novamente a regulação que pode garantir uma efetiva proteção da saúda pública. Não há outra saída senão a regulamentação. Até que isso aconteça, o mercado informal continuará desrespeitando o aviso que diz: “é proibido fumar”. *Carolina Figueiredo é diretora de Estratégia na Philip Morris do Brasil

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