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A aliança do etanol: o que procuramos pode estar bem diante de nós

Em artigo pautado pela discussão do etanol como combustível do futuro, Danilo Maeda fala sobre transição energética e as possibilidades que o Brasil pode aproveitar

O Brasil (Buda Mendes/Getty Images)

O Brasil (Buda Mendes/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 22 de agosto de 2023 às 13h00.

Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h45.

Semana passada, vivi uma dessas situações que até antes da pandemia eram inimagináveis. Fui convidado a ministrar uma palestra para estudantes da Woxsen University, na Índia. Pois é, cerca de 250 alunos e alunas que vivem quase do outro lado do mundo gastaram 1 hora e meia de seus dias ouvindo um suburbano brasileiro comum, que não tem conexões especiais, mas compensa na vontade de ver o tema da sustentabilidade sendo debatido em todos os espaços.

Mas mais do que comemorar o feito (que tem sua importância pessoal, mas isto não é um blog), a menção acima se justifica pelo fato de que um dos pontos mencionados na aula foi o seguinte: apesar das grandes diferenças, Brasil e Índia compartilham aspectos críticos em comum, sendo talvez o mais destacado deles o fato de serem potências do mundo em desenvolvimento com características que as legitimam como líderes destes países nas discussões globais.

Nos últimos anos a posição pode ter sido debilitada, mas o tamanho das economias, populações e recursos disponíveis não permite apagar a relevância de ambos os países no cenário internacional. E esta semana tomamos contato com uma notícia que exemplifica tal posição, a Aliança Global para os Biocombustíveis (Global Biofuels Alliance, GBA).

Uma aposta no conhecido

A iniciativa foi puxada pela Índia e busca acelerar a implantação de biocombustíveis sustentáveis em apoio à transição energética global. Brasil e Estados Unidos completam a trinca de precursores da frente, que deve reunir outros países do G20 e ser lançada oficialmente no começo de setembro pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden e o primeiro-ministro Narendra Modi

Diferente de outros candidatos a combustível do futuro, o etanol já tem produção com tecnologias conhecidas e amplamente utilizadas em mercados como o nosso. Sua aplicação em larga escala no restante do mundo passa pela ampliação da cooperação técnica e tecnológica para a expansão dos biocombustíveis, que é exatamente um dos papeis que a GBA se propõe a cumprir.

Outro fato interessante sobre a criação desta aliança, conforme reporta Assis Moreira no Valor Econômico, é a própria liderança indiana do processo. Isso porque o país perdeu há poucos anos uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) por turbinar ilegalmente exportações de açúcar e causar prejuízos de centenas de milhões de dólares a produtores brasileiros e de outros países.

O Brasil tentou por anos convencer a Índia a utilizar seu excesso de açúcar para produzir etanol, em vez de jogá-lo no mercado internacional e derrubar os preços. O processo avançou mais recentemente e teve como  um fator chave o compartilhamento de informações sobre a solução tecnológica brasileira dos veículos flex, que como nós bem conhecemos são altamente competitivos e eficientes.

Talvez nosso complexo de vira-latas impeça de reconhecer e louvar as conquistas do país. É comum ouvir lamúrias de que nos faltam heróis e espírito empreendedor para resolver os problemas globais, mas na realidade já temos boa parte destas soluções integrada ao dia-a-dia, de forma tão próxima que às vezes nem percebemos. Valorizar o que é nosso e gera impacto positivo é bom nos biocombustíveis, na biodiversidade, nas riquezas naturais usadas de maneira sustentável e no saber de nossos povos. Tradicionais, de grandes centros, das periferias, do campo e até dos suburbanos.

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