Bolsonaro: ex-presidente foi condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado (Mateus Bonomi/AFP)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 22 de novembro de 2025 às 06h54.
Última atualização em 22 de novembro de 2025 às 16h01.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso na manhã deste sábado, 22, pela Polícia Federal (PF). A informação foi divulgada inicialmente pelo portal G1 e confirmada pela EXAME.
Segundo informações, o ex-presidente foi preso preventivamente. Não se trata ainda do cumprimento de pena.
Bolsonaro já estava em prisão domiciliar desde agosto, mas a nova decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a detenção de Bolsonaro na PF.
A ordem de prisão determinou que Bolsonaro não fosse algemado e nem que ocorresse qualquer exposição midiática.
A EXAME apurou que ex-presidente foi levado para Superintendência da Polícia Federal. Ele ficará em uma sala de Estado, espaço reservado para autoridades como presidentes da República. O espaço é semelhante ao que ficou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Curitiba quando foi preso pela Lava Jato.
Veja vídeo da cela especial que Jair Bolsonaro está preso na PFMoraes justificou a prisão de Bolsonaro pela Garantia da Ordem Pública. O ministro citou a convocação de uma vigília realizada pelo senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente. O evento aconteceria neste sábado, às 19h, na frente na casa de Bolsonaro.
Vamos invocar o Senhor dos Exércitos!
A oração é a verdadeira armadura do cristão. É por meio dela que vamos vencer as injustiças, as lutas e todas as perseguições. Tenho um convite especial para você: assista ao vídeo até o final!VIGÍLIA PELA SAÚDE DE BOLSONARO E PELA… pic.twitter.com/cYeWu7WG6p
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) November 21, 2025
O ministro afirma que o chamamento poderia causar aglomeração, com riscos para terceiros e para o próprio preso, com "consequências imprevisíveis".
"Os elementos informativos apresentados evidenciam a possibilidade concreta de que a vigília convocada ganhe grande dimensão, com a concentração de centenas de adeptos do ex-presidente nas imediações de sua residência, estendendo-se por muitos dias, de forma semelhante às manifestações estimuladas pela organização criminosa nas imediações de instalações militares, especialmente no final do ano de 2022, com efeitos, desdobramentos e consequências imprevisíveis", afirmou.
Moraes afirmou ainda que a vigília representava um risco de fuga, uma vez que foi informado pela PF que a tornozeleira eletrônica de Bolsonaro foi violada na madrugada deste sábado.
"O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta SUPREMA CORTE a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu JAIR MESSIAS BOLSONARO, às 0h08min do dia 22/11/2025. A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho", disse.
O ministro disse ainda na decisão que o vídeo de Flávio Bolsonaro usa o mesmo "modus operandi da organização criminosa que tentou um golpe de estado em 2022".
"Utilizando a metodologia da milícia digital para disseminar por múltiplos canais mensagens de ataque e ódio contra as instituições", disse.
Bolsonaro foi condenado, no dia 11 de setembro, a 27 anos e três meses de prisão, por tentativa de golpe de Estado. Os demais sete réus também foram considerados culpados e condenados a penas entre dois e 26 anos de prisão.
A ordem de prisão ocorre após o STF rejeitar os recursos da defesa do ex-presidente e os advogados pedirem que o cumprimento da pena ocorra em prisão domiciliar.
A defesa de Bolsonaro informou à EXAME que ainda não teve acesso ao documento que decretou a medida e por isso não iria comentar.
Na semana passada, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou por unanimidade o recurso contra a condenação a 27 anos e três meses de prisão. O colegiado recusou o chamado embargos de declaração, recurso que serve para rever eventuais erros, omissões ou contradições na análise da ação penal.
Com isso, a tendência era que a prisão de Bolsonaro fosse determinada ainda neste mês, segundo pessoas próximas ao relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, ouvido sob reserva pela EXAME.
Nos recursos ao Supremo, os advogados têm repetido as alegações apresentados ao longo do curso do processo. Uma das linhas argumentativas sustenta que Bolsonaro não pode ser considerado responsável pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 porque centenas de pessoas que estavam no local no momento da invasão das sedes dos Três Poderes já foram condenadas por "dolo direto" e ele sequer estava no Brasil.
Em sessão virtual, porém, os ministros divergiram dos advogados e mantiveram a condenação. Segundo Moraes, que foi acompanhado pelos ministros Flavio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia, os argumentos da defesa no recurso reproduzem apenas "inconformismo" com o desfecho do julgamento, sem apresentar de fato situações de omissões e contradições.
Moraes disse ainda que ficou "amplamente comprovado" que os atos de 8 de janeiro de 2023 foram mais uma etapa do plano de golpe liderado por Bolsonaro.
Na sexta-feira, 21, a defesa de Bolsonaro pediu ao ministro Alexandre de Moraes a concessão de prisão domiciliar humanitária ao ex-presidente. Os advogados decidiram apresentar o pedido e não entraram com novo recurso.
A defesa alegou que Bolsonaro tem doenças permanentes, que demandam "acompanhamento médico intenso" e, por esse motivo, o ex-presidente deve continuar em prisão domiciliar.
O pedido da defesa pretende evitar que Bolsonaro seja levado para o presídio da Papuda, em Brasília.
De acordo com a defesa, a ida de Bolsonaro para o presídio terá "graves consequências" e representa risco à vida do ex-presidente.
Os advogados apresentaram exames e disseram que Bolsonaro apresenta saúde debilitada e quadro diário de soluço gastroesofágico, falta de ar e faz uso de medicamentos com ação no sistema nervoso central.
Bolsonaro foi alvo de uma facada em 2018, no dia 6 de setembro em Juiz de Fora (MG), durante a sua primeira campanha à presidência.
Apesar do tempo do atentado, ele continua convivendo com problemas de saúde. Além das cirurgias, ele precisou ser internado em pelo menos 13 ocasiões.
Segundo a decisão de Moraes, Bolsonaro foi preso após o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, convocar uma vigília na frente da casa do ex-presidente. O ministro citou o risco de aglomerações e de fuga de Bolsonaro, uma vez que foi detectado que a tornozeleira foi violada na madrugada deste sábado.