Entre 2010 e 2024, a produção de energia da China aumentou mais do que a de todo o resto do mundo somado, tornando o país o maior gerador de eletricidade globalmente (Aly Song/Reuters)
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Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 21h35.
Última atualização em 21 de dezembro de 2025 às 21h36.
Enquanto os Estados Unidos lideram o desenvolvimento de modelos avançados de inteligência artificial e ainda controlam o acesso a chips de ponta, a China tem se destacado por sua vantagem estratégica em um aspecto cada vez mais crucial para o futuro da tecnologia: com a maior capacidade energética instalada, o país oferece energia barata para suas empresas.
Entre 2010 e 2024, a produção de energia da China aumentou mais do que a de todo o resto do mundo somado, tornando o país o maior gerador de eletricidade globalmente. No ano passado, a China gerou mais do que o dobro da eletricidade dos Estados Unidos. Assim, com subsídios governamentais, as contas de alguns data centers chineses saem por menos da metade do que os rivais norte-americanos pagam.
Enquanto nos EUA o custo da eletricidade pode chegar a 9 centavos por kWh, na China ele pode ser tão baixo quanto 3 centavos, um fator determinante para a competitividade do setor de IA local.
Com energia barata, empresas chinesas têm desenvolvido modelos de IA de alta qualidade, como o R1, da DeepSeek, de forma mais acessível e se aproximado da performance dos chips mais avançados da Nvidia. Como ainda não são vendidos para a China, as empresas locais utilizam versões alternativas de Huawei, Baidu ou Alibaba, por exemplo. Embora demandem mais energia por serem conectados em maior quantidade, eles entregam a capacidade computacional necessária para que as empresas chinesas se mantenham competitivas.
A expansão da rede elétrica chinesa remonta aos anos 1970. Mesmo já possuindo a maior capacidade do mundo, com 3,75 terawatts, a China segue investindo fortemente na ampliação de sua infraestrutura. A previsão do Morgan Stanley é que o país gaste cerca de US$ 560 bilhões em projetos ligados a ela até 2030. Naquele ano, estima-se que os data centers chineses consumam tanta eletricidade quanto a França inteira.
Assim, a combinação de uma rede elétrica expandida e barata, junto com investimentos maciços em energias renováveis e nucleares, coloca a China à frente de muitas nações no que tange à infraestrutura energética necessária para sustentar o avanço de IA, desafiando os próprios Estados Unidos a se adaptarem para não ficarem para trás nessa corrida.
Ao mesmo tempo, as previsões relativas aos Estados Unidos não são animadoras. Além da alta nas contas de energia, puxada pela demanda dos data centers, o Morgan Stanley prevê que, nos próximos três anos, essas instalações norte-americanas possam enfrentar um déficit energético de 44 GW – o equivalente ao consumo do estado de Nova York no verão.
No ano passado, data centers dos EUA foram responsáveis por 45% do consumo energético global do setor, enquanto os chineses contabilizaram 25%.
Para manter a liderança na corrida da IA, a OpenAI já alertou a Casa Branca sobre a necessidade de adicionar 100 GW anuais de capacidade à rede elétrica dos Estados Unidos. A Microsoft também sinalizou essa necessidade: no começo de novembro, o CEO Satya Nadella afirmou que, atualmente, não faltam chips para treinar e rodar modelos de IA, mas sim infraestrutura elétrica para conectá-los aos data centers.