Abramovich tem sinais de possível envenenamento, diz jornal
Fontes ouvidas pelo Wall Street Journal acusam nomes "linha-dura" da Rússia de tentar sabotar negociações de paz
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2022 às 13h03.
Última atualização em 28 de março de 2022 às 14h28.
O bilionário russo Roman Abramovich e dois negociadores da Ucrânia teriam sofrido sinais de possível envenenamento no início do mês, segundo fontes próximas ao assunto. A informação foi publicada pelo jornal americano The Wall Street Journal.
Os sintomas podem estar ligados à presença dos nomes em uma reunião em Kiev, capital da Ucrânia.
Abramovich, segundo confirmado pelo Kremlin, participou de estágios iniciais das negociações de paz sobre a guerra. No começo da crise, ele esteve circulando entre Moscou, na Rússia, e Lviv, no oeste da Ucrânia, entre outros locais de negociação.
Apesar da participação nas conversas iniciais, o bilionário virou alvo de sanções do Reino Unido e da União Europeia por sua proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin. Abramovich tem uma fatia minoritária na empresa de aço Evraz e é dono do clube de futebol inglês Chelsea, que tenta vender às pressas (propostas têm de passar pelo governo britânico em meio às sanções).
Uma das suspeitas de fontes envolvidas é que o envenenamento possa estar ligado a uma frente "linha-dura" de Moscou, que tentava sabotar as negociações para acabar com a guerra, diz o Wall Street Journal. Já uma fonte próxima a Abramovich disse não saber quem teve o grupo como alvo, embora confirme a suspeita de envenenamento.
Os sintomas incluem olhos vermelhos, lacrimejamento constante e dolorido e descamação da pele, segundo as fontes. Todos os afetados estão hoje melhores em relação aos sintomas e sem riscos de vida.
Um dos negociadores envolvidos é o advogado e membro da Parlamento ucraniano Rustem Umerov, muçulmano de origem tártara da Crimeia, território anexado pela Rússia em 2014. Umerov é membro de uma comissão que trabalha pela reintegração da Crimeia ao território ucraniano.
A investigação sobre o caso foi liderada por Christo Grozev, mesmo nome que investigou o envenenamento do líder opositor russo Alexey Navalny em 2020.
Navalny passou mal durante um voo na Rússia e após ficar em coma, sua equipe negociou para que fosse transferido à Alemanha, onde profissionais confirmaram o envenenamento. Ele terminou voltando ao país e está hoje preso por fraude e outros crimes, enquanto acusa o governo Putin de perseguição à oposição e de ter sido responsável pelo envenenamento. O Kremlin tem histórico de outros opositores tendo aparecido envenenados.
Grozev disse ao Wall Street Journal que o veneno encontrado em Abramovich e nos negociadores "não teve a intenção de matar, foi somente um alerta". Como os exames demoraram a ser feitos, parte dos rastros também não pode ser identificado.
No início da guerra, Abramovich chegou a se encontrar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sendo ambos judeus. Zelensky mais tarde pediria para que europeus não sancionassem Abramovich, por seu papel nas negociações.
O Kremlin havia confirmado o envolvimento inicial de Abramovich na semana passada. “Ele participou no estágio inicial”, disse o porta-voz Dmitry Peskov a repórteres em 24 de março, antes das notícias sobre o envenenamento. “Agora as negociações são entre as duas equipes, os russos e os ucranianos.”
Novas negociações
A informação sobre o caso com Abramovich e os negociadores surge um dia antes de novas negociações de paz previstas para terça-feira, 29, na Turquia.
Reuniões presenciais já ocorreram também em Belarus, aliado russo, mas as últimas conversas têm sido por videoconferência ou na Turquia, vista como território mais neutro.
A Ucrânia disse estar disposta a declarar "neutralidade" em relação à Otan, aliança militar do Ocidente, de modo a não entrar na organização. Há pontos mais sensíveis sobre o status de territórios do país hoje ocupados pelos russos, e a exigência russa de "desmilitarização" da Ucrânia.
Um pedido do presidente Zelensky de um encontro presencial com Putin foi até o momento negado por Moscou. Nesta segunda-feira, 29, o ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, disse que o encontro seria "contraproducente" no momento.
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