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Rússia e Ucrânia se reúnem hoje e tentam cessar-fogo decisivo

A reunião acontecerá um dia após a queda da cidade portuária de Kherson, de 290.000 habitantes, no sul do país, às margens do Mar Negro. Tropas russas avançam em cidades do leste do país, como Kharkiv e Mariupol

Ucraniano diante de escombors após bombardeio na cidade de Zhytomyr (AFP/AFP)
Drc

Da redação, com agências

Publicado em 3 de março de 2022 às 06h33.

Última atualização em 3 de março de 2022 às 13h52.

A guerra na Ucrânia chega nesta quinta-feira, 3, a seu oitavo dia de combates. Uma segunda rodada de negociações começou nesta tarde, após uma primeira reunião nesta semana não ter avançado. A negociação entre as partes acontece em uma região de fronteira entre a Polônia e Belarus, aliado russo.

Enquanto isso, as Nações Unidas reportam que a guerra já levou à fuga de um milhão de refugiados. O governo ucraniano estima que o número de vítimas chegou a 2 mil civis.

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Durante a noite, os combates continuaram em todo o país. Ao sul, o prefeito de Kherson, Igor Kolykhayev, confirmou que a cidade de 290 mil habitantes está sob controle russo, após combates desde ontem. Esta é a maior vitória até o momento das tropas russas.

As tropas também prosseguem com a ofensiva em cidades do leste, sobretudo Kharkiv, a segunda maior da Ucrânia e a que tem sofrido alguns dos piores bombardeios até agora, e Mariupol, ponto estratégico perto da Crimeia, anexada em 2014.

A capital Kiev não teve vítimas nesta noite, segundo as autoridades. Veja abaixo as últimas atualizações.

Negociações sobre cessar-fogo

Os avanços militares da Rússia aconteceram poucas horas antes da segunda rodada de negociações entre as partes desde o início da ofensiva.

Os primeiros contatos na segunda-feira, também em Belarus, não registraram avanços. Um dos pontos mais sensíveis é uma exigência russa de desmilitarização da Ucrânia, o que o país considera inaceitável. Moscou também exige o reconhecimento da Crimeia como território russo - a península teve protestos separatistas e terminou anexada pela Rússia após referendo local, em 2014. Regiões de Donbas, Luhansk e Donestk, declaradas independentes pelo governo Vladimir Putin em fevereiro após oito anos de guerra, podem ir pelo mesmo caminho.

O grande entrave está, sobretudo, no restante da Ucrânia. Kiev acusa o governo Putin de querer instalar um comando fantoche no país, alinhado a Moscou, e retirar o presidente Zelensky. O Kremlin nega e diz que não irá interferir em eleições ucranianas no caso de uma desmilitarização.

Kiev também descarta uma rendição e exige um cessar-fogo, assim como a retirada das forças invasoras de seu território. O governo ucraniano tem questionado o fato de as negociações ocorrerem horas após ataques intensos russos nos últimos dias.

Em meios aos imbróglios, as expectativas não eram das melhores antes do início das negociações, uma vez que poucos avanços nos termos foram feitos após a primeira reunião, na segunda-feira, 28, em Minsk.

Antes da nova rodada, o governo dos Estados Unidos disse querer "apoiar os esforços diplomáticos" da Ucrânia para alcançar um cessar-fogo com a Rússia, embora "seja muito mais difícil de conseguir quando os tiros ressoam e os tanques avançam", segundo afirmou o secretário de Estado Antony Blinken.

Cerco a Mariupol

Nesta quinta-feira, além do controle sobre Kherson, as tropas invasoras já tomaram o controle de outro importante porto do país, Berdyansk, também ao sul.

Na cidade portuária de Mariupol, ao leste, ataques intensos continuaram durante a madrugada.

O local é estratégico para as tropas russas por estar isolado entre dois territórios já conquistados: a Crimeia, anexada em 2014, e as regiões separatistas de Donbas, das quais a Rússia reconheceu a independência em fevereiro e onde também estão parte das unidades russas de combate.

A Câmara de Mariupol disse que um "genocídio da população ucraniana" tem sido cometido na cidade, segundo reportado pela agência Reuters.

"Por sete dias, deliberadamente, eles têm destruído nossa infraestrutura vital. Não temos luz, água ou aquecimento novamente."

A situação "piora a cada hora", disse Maryna, de 28 anos, à AFP, antes de afirmar que o centro da cidade foi esmagado.

Outro ponto importante do conflito é Kharkiv, a segunda maior cidade do país, com 1,4 milhão de habitantes, cenário de intensos bombardeios e combates na quarta-feira, quando tropas aerotransportadas russas desembarcaram na localidade.

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) denunciou a morte de uma funcionária na cidade, onde afirmou que "mísseis, projéteis e foguetes atingem edifícios residenciais e centros urbanos, matando e ferindo civis inocentes".

Líderes religiosos citados pela agência Interfax afirmaram que uma igreja ortodoxa em Kharkiv foi atingida, mas sem provocar vítimas.

Autoridades locais também denunciaram ataques aéreos na cidade próxima de Izium que mataram oito pessoas, incluindo duas crianças.

Situação em Kiev

Na capital Kiev foram ouvidas fortes explosões durante a noite, de acordo com mensagens nas redes sociais, mas que as autoridades afirmam terem sido defesas aéreas. Dezenas de famílias permanecem refugiadas na estação de metrô de Dorohozhychi.

O prefeito Vitali Klitschko afirmou nesta quinta-feira que a situação é "difícil mas sob controle". Afirma que não houveram mortes ao longo da noite. De acordo com Klitschko, as explosões ouvidas foram sistemas de defesa aéreas contra mísseis russos, segundo a Reuters.

Um informe de inteligência do governo do Reino Unido reportou que as tropas russas seguem a 30 quilômetros de distância de Kiev, sem terem obtido avanços significativos nas últimas horas.

Em sua última fala nesta quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a mudança de estratégia russa, passando a bombardear redutos civis com mais frequência, mostra que o plano inicial do governo de Vladimir Putin, de tomar a Ucrânia rapidamente, falhou.

Zelensky afirmou que as linhas de defesa estavam resistindo aos ataques russos. Na fala, lembrou também que, há dois anos, a Ucrânia registrava seu primeiro caso de covid-19, e que, agora, "um vírus muito pior" atacou.

Número de refugiados já ultrapassa marca de 1 milhão

O isolamento de Moscou ficou patente na Assembleia Geral da ONU, que aprovou por grande maioria (141 votos a favor, 5 contrários e 35 abstenções) uma resolução para exigir a retirada das tropas da Rússia da Ucrânia e criticar a invasão.

Nesta quinta-feira, a ONU anunciou que mais de um milhão de pessoas fugiram da Ucrânia. "Em apenas sete dias, vimos o êxodo de um milhão de refugiados da Ucrânia para países vizinhos", tuitou o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, Filippo Grandi.

O ACNUR fez um apelo esta semana para arrecadar 1,7 bilhão de dólares para ajudar os 16 milhões de pessoas que precisarão de ajuda nos próximos meses devido ao conflito: 12 milhões de deslocados na Ucrânia e 4 milhões de refugiados no exterior.

A invasão provocou muitas sanções de governos, instituições e empresas ocidentais para isolar a Rússia nas áreas diplomática, econômica, cultural e esportiva.

Mas a guerra também provocou a disparada dos preços do petróleo e do alumínio. A moeda russa, o rublo, registrou desvalorização de mais de um terço desde o início da guerra.

(Com AFP)

*A matéria será atualizada ao longo do dia com os novos desdobramentos do conflito. Última atualização feita às 13h50.

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