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Com queda de Assad na Síria, Turquia e Israel redefinem jogo de poder no Oriente Médio

Relações turco-israelenses também representam outro desafio para o novo mandato de Donald Trump nos EUA

(FILES) Syrian President Bashar al-Assad waits for the arrival of his French counterpart in Damascus on September 3, 2008. Islamist-led rebels declared that they have taken Damascus in a lightning offensive on December 8, 2024, sending Assad fleeing and ending five decades of Baath rule in Syria. (Photo by Louai BESHARA / AFP) (Louai BESHARA/AFP)

(FILES) Syrian President Bashar al-Assad waits for the arrival of his French counterpart in Damascus on September 3, 2008. Islamist-led rebels declared that they have taken Damascus in a lightning offensive on December 8, 2024, sending Assad fleeing and ending five decades of Baath rule in Syria. (Photo by Louai BESHARA / AFP) (Louai BESHARA/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 16h39.

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Com o colapso do regime de Bashar al-Assad na Síria, a Turquia e Israel emergiram como os maiores beneficiários estratégicos da região,
marcando o declínio da influência iraniana nos países do Oriente Médio.

Contudo, suas relações já tensas, especialmente com a guerra em Gaza, agora estão em rota de colisão, representando um desafio a mais para o novo mandato de Donald Trump e podendo impactar as alianças dos Estados Unidos no Oriente Médio e Europa.

— As autoridades turcas querem que a nova Síria seja um sucesso para que a Turquia possa dominá-la, e elas acham que os israelenses podem simplesmente arruinar tudo — disse ao Wall Street Journal Gönül Tol, diretor do programa da Turquia no Instituto do Oriente Médio.

Enquanto a Turquia busca consolidar influência sobre a Síria pós-Assad, Israel teme a formação de um eixo de islâmicos sunitas liderado por Ancara, podendo se tornar um perigo igualmente grave ao representado até então pelo chamado "Eixo da Resistência", liderado por Teerã e enfraquecido nos últimos meses por Israel.

O líder de facto da nova Síria, Ahmed al-Sharaa, conhecido por seu nome de guerra, Abu Mohammed al Jawlani, afirmou não ter interesse nos conflitos locais, tendo como foco a reconstrução do país. Apesar disso, ele e outras figuras de destaque em Damasco já fizeram parte da al-Qaeda e Estado Islâmico (EI) no passado, ambos designados como grupos terroristas por Washington.

— As relações com a Turquia estão definitivamente em um lugar ruim, mas sempre há potencial para se deteriorar mais — disse Yuli Edelstein , presidente do comissão de Relações Exteriores e Defesa do Parlamento de Israel, em uma entrevista também citada pelo WSJ. — Não é que estejamos ameaçando um ao outro neste estágio, mas isso pode se transformar em confrontos no que diz respeito à Síria, com representantes que são inspirados e armados pela Turquia.

Além disso, parceiros regionais dos EUA, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, também manifestam preocupações sobre o impacto de um renascimento do islamismo político na segurança regional com a Turquia na liderança.

Porém, apesar de diferenças políticas significativas, especialistas consultados pelo WSJ afirmam que uma Síria dominada pela Turquia seria menos ameaçadora para Israel do que a presença iraniana de outrora.

— Ainda existem canais de comunicação entre os dois países, e a Turquia ainda é uma aliada dos Estados Unidos, então as questões entre eles podem ser resolvidas — disse ao jornal Eyal Zisser, presidente do Departamento de História Cntemporânea do Oriente Médio na Universidade de Tel Aviv. — A Turquia não almeja a destruição de Israel, não desenvolve armas nucleares, não fornece ao Hezbollah um arsenal impressionante de mísseis e não envia dezenas de milhares de milícias para a Síria.

Especular sobre um possível confronto turco-israelense na Síria é "alarmista demais", concordou Ömer Önhon, analista político que serviu como embaixador da Turquia em Damasco até o fechamento da embaixada em 2012, reaberta recentemente.

— São as políticas do governo de Benjamin Netanyahu que a Turquia rejeita, e, se essas políticas mudarem, as relações poderiam voltar ao normal novamente, como sempre foram ao longo da história — disse ele.

Questão curda

Mas a cooperação militar do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan com a Rússia e alegações de apoio ao Estado Islâmico (EI) têm, há muito tempo, incomodado administrações americanas. E a recente ofensiva turca contra as Forças Democráticas Sírias (FDS), considerada uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), organização proibida no país, no nordeste da Síria, área com presença militar americana, também agrava tensões dentro da Otan, liderada por Washinton.

— O que está acontecendo no momento é que um país da Otan está apoiando uma organização terrorista que opera contra outro país da Otan — disse Mehmet Șahin, parlamentar da sigla governista AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento) da Turquia, acrescentando que esperava que Trump interrompesse esse apoio em seu novo mandato.

O chanceler israelense Gideon Saar sugeriu nesta semana que Israel fortaleça os laços com os curdos e outras minorias do Oriente Médio, chamando-os de "aliados naturais" contra opressões da Turquia e do Irã.

Apesar disso, é improvável que Israel apoie os curdos sírios contra a Turquia. O ex-diplomata turco Aydin Selcen afirmou que tal atitude seria insensata e destacou que tanto Ancara quanto Israel se beneficiaram dos recentes desenvolvimentos, descartando a possibilidade de um conflito aberto entre os dois países.

— Ancara é a vencedora e Israel é o vencedor nos desenvolvimentos recentes. Não vejo a possibilidade de um conflito aberto entre Israel e Turquia. Simplesmente não faz sentido — afirmou ao WSJ.

Com agências internacionais.

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