Investimentos: queda da Selic beneficia ativos de risco ( oatawa/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 2 de novembro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 2 de novembro de 2023 às 11h56.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu na quarta-feira, 1, a principal taxa de juros da economia, a Selic, para 12,25%. O corte de 0,50 p.p. (pontos percentuais) foi o terceiro seguido e não pegou o mercado de surpresa. Apesar disso, a nova queda proporciona uma oportunidade para o investidor rebalancear a carteira.
“Para o investidor que não tem exposição a ativos de risco, seria interessante aumentar gradualmente o peso neles. Importante que a alocação deve estar dentro do perfil de risco do investidor, que, para incluir ativos de risco na carteira, precisa ter uma certa tolerância à volatilidade (oscilação do patrimônio)”, explica Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
Os ativos de risco ganham força, mas não roubam a atratividade toda para si, visto que a Selic ainda segue elevada. Lucas Constantino Di Colla, diretor da GCB Capital, enfatiza que os juros reais do Brasil são os maiores do mundo e, mesmo que o corte gere um impacto, segundo o especialista “ainda é possível encontrar bons títulos [de renda fixa], com alta rentabilidade e baixo risco.”
Di Colla também destaca que, embora a queda dos juros seja positiva à economia e aos investimentos no mercado financeiro, este não é o único fator que o investidor deve se atentar. A política monetária mundial também chama a atenção, com destaque para os Estados Unidos. Na quarta-feira, 1, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) manteve o atual nível da taxa básica de juros na faixa entre 5,25% e 5,5% - o mais alto desde 2001.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, traz os fundos imobiliários como uma boa opção com a queda de juros. Os fundos de tijolo, tradicionalmente, têm uma relação inversa a Selic, já que juros mais baixos impulsionam o consumo da população, aumentando os lucros dos negócios que integram a carteira dos fundos, além de elevar seus dividendos.
Outro investimento que passa a ser interessante, segundo Ana Paula Carvalho, planejadora financeira CFP e sócia da AVG Capital, é o crédito privado. “No início do ano, o caso da Americanas (AMER3) fez com que os bancos restringissem crédito, pois naquele momento havia o receio de que outras empresas e setores tivessem problemas ou fossem contaminadas. Passado aquele momento, os bancos voltaram a liberar operações desse tipo. Como o mercado de emissões de títulos voltou, temos também novas oportunidades em papéis de crédito privado”, comenta.
Os especialistas explicam que o mercado acionário tende a se beneficiar da queda dos juros de duas formas. A primeira são as empresas alavancadas que muitas vezes têm dívidas atrelados a uma porcentagem do CDI e veem o custo desses débitos diminuírem. No entanto, Di Colla afirma que o efeito da política monetária requer alguns meses para ser sentido e, portanto, faz parte do processo que haja uma ‘demora’ até que se perceba um reflexo nos preços dos ativos de risco.
Já o segundo impacto é que juros baixos beneficiam, principalmente, setores do ciclo doméstico, como construção civil, varejo e educação. “Com os juros caindo e agora com Black Friday e Natal, esses setores têm grandes possibilidades de subirem”, destaca Cohen. Porém, ele ressalta que é preciso analisar outros fatores além da Selic. No setor de varejo, ele cita a concorrência de empresas chinesas que trouxeram desafios para as empresas brasileiras.
Quaresma concorda com a visão sobre o investidor levar em consideração outros fatores, mas também destaca que a bolsa continua em um ponto de entrada interessante, com o Índice Preço/Lucro agregado do Ibovespa, excluindo-se Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), em 9x, o que é mais de 1 desvio-padrão abaixo da média. “Historicamente, o investidor pessoa física só migra para a bolsa quando a Selic vai muito abaixo de dois dígitos, momento em que, geralmente, a bolsa já está cara demais. O trabalho é justamente tentar trazer o investidor de varejo para a bolsa nos momentos certos, quando o valuation ainda está barato e pouca gente acredita no investimento em ações”, diz.
Se tratando de curto prazo, Carvalho ilustra que para proteger a carteira, os papéis de renda fixa pós-fixados ainda se mantêm interessantes para investimentos de até dois anos. “Para o investidor que dispõe de um horizonte mais longo, prefiro os papéis remunerados por juros mais correção do IPCA, como no caso dos títulos públicos (NTN-B) ou crédito privado (debêntures, CRA, CRI, LCA e LCI)."
Já Di Colla cita os treasuries americanos, que atingiram recentemente patamares recordes históricos, além de outros investimentos de renda fixa nos EUA. “Neste contexto, pensando em proteção da carteira, faz sentido aproveitar as oportunidades provenientes do mercado de renda fixa norte americana. É possível encontrar ótimos títulos, como bonds corporativos de baixo risco, com rentabilidades superiores a 6% - 7% em dólar”, destaca.