Pesquisa: oito em cada 10 não se lembraram de ter tido educação financeira na escola (Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 10h06.
O brasileiro acredita ter mais conhecimento de finanças do que realmente tem. É o que revela um estudo do Santander em parceria com o instituto Ipsos UK. As perguntas tiveram o mesmo ponto de partida: não ter recebido educação financeira na escola. O resultado foi que há uma incompatibilidade entre a alfabetização financeira alegada e a real.
Na média, 61% dos entrevistados afirmam ter conhecimento sobre questões financeiras. Ao mesmo tempo, ao testar o conhecimento dessas pessoas sobre inflação, 32% conseguiram responder corretamente à pergunta. No Brasil, 49% dizem que têm conhecimento financeiro, enquanto apenas 27% acertaram a pergunta corretamente.
O questionamento foi: “Presumindo que a taxa anual da inflação em seu país caia pela metade, mas permaneça acima de zero, qual das opções a seguir será verdadeira sobre o custo geral de bens e serviços em geral nesta época do ano que vem?” A resposta: haveria um aumento nos preços.
A segunda pergunta abordava juros: “Quanto dinheiro você esperaria ter se colocasse US$ 100 em uma conta poupança com juros anuais de 2%, após um ano?”. A alternativa correta era que o valor seria mais de US$ 100, considerando o rendimento. Na média global, 52% dos entrevistados acertaram a resposta, mas esse índice cai para 33% no Brasil.
O objetivo do estudo foi compreender como pessoas em diferentes países lidam com o dinheiro, aprendem sobre finanças e percebem a importância da educação financeira. Ao todo, foram ouvidas 19.906 pessoas em 10 países na Europa e nas Américas. No Brasil, foram 2.028 entrevistados. O trabalho de campo foi realizado entre 25 de abril e 21 de maio de 2025.
Onde investir o 13º? Veja o que fazer com o dinheiro ‘extra’Quando questionados se lembram de ter tido aulas de educação financeira na escola, na média, oito em cada 10 não se lembraram — incluindo o Brasil. Entretanto, os Estados Unidos, onde a educação financeira nas escolas é decidida pelo Estado, aparecem com o menor número: seis em cada 10.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 59 economias em todo o mundo estão implementando estratégias nacionais para a educação financeira. Nos mercados que a pesquisa se debruçou, cinco têm educação financeira incorporada no currículo no nível do ensino médio e dois no nível do ensino fundamental.
Mas não é porque não existe que não há demanda. Na média, 84% dos entrevistados que não se lembram de receber educação financeira na escola disseram que gostariam de ter tido, subindo para 91% no Brasil, afirmando que uma melhor educação financeira os teria ajudado a gerenciar melhor o dinheiro com os aumentos atuais no custo de vida em todo o mundo.
Essa vontade também se traduz em importância: o brasileiro acredita que educação financeira deve ser a segunda disciplina mais importante na escola, atrás apenas de matemática e à frente de língua/literatura, ciências, línguas estrangeiras, geografia, história e artes (em ordem de importância).
Embora a participação em ações formais de educação financeira ainda seja baixo, o Brasil aparece acima da média: 27% dos entrevistados afirmam ter feito algum curso sobre o tema, ante apenas 20% no conjunto dos países.
Os principais benefícios de receber educação financeira, para os entrevistados do Brasil, é a ter a capacidade de tomar decisões financeiras melhores (66%), gerir de forma eficaz o dinheiro e as dívidas (61%) e ter maior capacidade para atingir metas financeiras (57%).
No mundo, 79% dos entrevistados tendem a monitorar as despesas mensais, enquanto 59% têm um orçamento familiar a ser seguido. “Embora existam níveis variados de conhecimento quando se trata de questões financeiras, há um desejo dos entrevistados de gerenciar e entender as finanças”, diz o estudo.
De modo mais positivo, o público também não se envergonharia de buscar ajuda para tomar uma decisão financeira: 91% procurariam informações se necessário. Um consultor financeiro ou especialista é a fonte mais popular (41%) para buscar informações. Por outro lado, 30% consultariam empresas ou organizações que oferecem produtos financeiros relevantes.
No Brasil, 35% apontam que buscariam um consultor financeiro ou especialista, enquanto 30% disseram que buscariam auxílio em membros da família e 29% em redes sociais.
Entre as principais áreas para aprender, 67% dos brasileiros falam que gostariam de entender sobre poupança, na mesma proporção que gostariam de aprender sobre investimento no geral. Cinco em cada 10 queriam compreender sobre orçamento e 48% sobre impostos.
Há também um forte desejo de controle e autonomia: no Brasil, 84% dos entrevistados disseram acompanhar seus gastos mensais (acima da média global de 79%). Contudo, apenas 47% dos brasileiros declararam poupar recursos suficientes para honrar suas despesas por um período de três meses.
O levantamento também evidencia o protagonismo do Brasil na digitalização financeira. O Brasil é o único país do levantamento no qual a confiança no uso de ferramentas online para gerir as finanças pessoais se equipara a outros meios de gestão.
Além disso, mais da metade dos brasileiros (59%) utilizam ferramentas digitais semanalmente para acompanhar suas finanças, enquanto apenas 13% nunca usam recursos on-line para esse fim.
A explicação é que o Pix é o responsável pela abertura ao uso da tecnologia na área financeira, sendo utilizado pela maioria absoluta (87%) da população.