Meta (M1TA34) (AFP/Getty Images)
Se fosse possível resumir em uma palavra como foram os últimos 12 meses para a Meta (M1TA34), controladora do Facebook, a escolha seria univoca: dramáticos.
Desde o anúncio da mudança de nome e do lançamento do Metaverso, em outubro de 2021, há exatamente um ano atrás, a empresa já perdeu mais de 70% de seu valor de mercado na Nasdaq, tirando-a da lista das 20 mais valiosas dos EUA.
As ações passaram de US$ 372 para menos de US$ 100, o mesmo patamar de 2016, "queimando" mais de US$ 730 bilhões em 365 dias. Uma das mais rápidas destruições de valor da história do mercado financeiro, superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de um país como a Suécia, e que relembra os momentos da crise das pontocom, no começo do século.
Todavia, essa contração do valor tão expressiva está concentrada em uma única empresa. Mesmo se as ações de todas as Big Techs estão caindo há meses, os papéis do Facebook estão perdendo muito mais. Por exemplo, as ações da Alphabet (GOGOL34), controlado do Google, perderam 36,95% no mesmo período. A Amazon (AMZO34) perdeu 34%. A Apple (APPL34), caiu 20,59%. A Netflix (NFLX34) caiu 54,40%. E o Twitter (TWTR34) perdeu apenas 1,64%.
Nesta quarta-feira, as ações chegaram a cair mais de 25% no pregão, um dia seguinte a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2022, que registraram uma queda de 52% no lucro líquido, que passou de US$ 9,19 bilhões no terceiro trimestre de 2021 para US$ 4,39 bilhões no mesmo período de 2022.
O fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg, não conseguiu estacar a sangria e todas as vezes que se manifesta publicamente parece piorar as coisas. Zuckerberg insiste que futuro da empresa é o Metaverso, um universo virtual em 3D de trabalho, diversão e educação. Mas os investidores só veem isso como um poço sem fundo onde estão desaparecendo bilhões de dólares, em um momento em que o negócio principal da empresa - a publicidade – está progressivamente encolhendo. Após dois trimestres consecutivos de redução das receitas publicitárias, o Facebook está prevendo uma terceira queda consecutiva nos números do quarto trimestre.
No balanço divulgado na última quarta-feira, 27, o próprio CEO reconheceu que “há muitas coisas acontecendo no momento no mercado e no mundo”.
“Há questões macroeconômicas, muita concorrência, desafios de anúncios especialmente vindos da Apple, e há algumas das coisas de longo prazo que estamos assumindo nas despesas porque acreditamos que elas fornecerão maiores retornos ao longo do tempo”, escreveu Zuckerberg, “Agradeço a paciência e acho que quem tiver paciência e investir conosco será recompensado".
De fato, a controladora do Facebook está enfrentando uma ampla desaceleração nos gastos com anúncios online, desafios oriundos das atualizações dos sistemas de privacidade do iOS da Apple e aumento da concorrência do TikTok. Todavia, o maior peso nos resultados é oriundo dos gastos gigantescos do Metaverso.
A Meta já investiu mais de US$ 27 bilhões no desenvolvimento do Metaverso nos últimos três anos. E essa semana lançou um novo óculos de realidade aumentada (VR) Quest Pro ao preço de US$ 1.500, anunciando uma parceria com a Microsoft.
No entanto, entre os colegas e concorrentes no mercado de tecnologia, a reação é sarcástica. O CEO da Appe, Tim Cook, declarou que as pessoas comuns não sabem o que significa Metaverso. Para o fundador do Snap, Evan Spiegel, a concepção do Meta permanece “ambígua e hipotética”.
As receitas da Reality Labs, a unidade de negócios de Metaverso, caíram quase pela metade no terceiro trimestre, para US$ 285 milhões, enquanto as perdas foram de US$ 3,7 bilhões em comparação com US$ 2,6 bilhões um ano atrás. A empresa disse esperar que as perdas operacionais na unidade “cresçam significativamente ano a ano” em 2023.
Todavia, Zuckerberg tem certeza que existem fortunas a serem construídas no Metaverso, acreditando que, um dia, esse universo digital se tornará a principal forma de viver as nossas vidas e passar nosso tempo. O problema é que para muitos analistas e investidores parece cada vez mais improvável que Meta seja o principal beneficiário dessa mudança. A "desvantagem dos pioneiros", muito comum no setor tecnológico, onde o desenvolvedor de uma tecnologia nem sempre é quem mais ganha com ela.
O caso dos buscadores ilustra bem essa desvantagem. Se nos anos 90 o Yahoo foi um dos primeiros a desenvolver um programa para realizar pesquisas na internet, uma empresa que sequer tinha sido criada até 1998, o Google, acabou dominando o mercado em poucos anos e se tornando essencialmente um monopolista do setor.
Existem muitas razões que levam os investidores a duvidar sobre a possibilidade da Meta consiga ganhar dinheiro com o Metaverso. Em primeiro lugar, o fato que os óculos de realidade aumentada foram pensados para o consumidor final, enquanto nesse setor os lucros iniciais são sempre oriundos de empresas. Sem contar que o produto ainda não caiu nos gostos dos consumidores, que aparecem relutantes em utilizar esse tipo de produto.
Além disso, o resto da indústria de tecnologia está se movimentando para criar outros metaversos, diferentes do desenvolvido pela Meta. Um cenário inédito para Zuckerberg, acostumado a ser o dominador das redes sociais, sem nenhum rival que pudesse ameaçar seu predomínio (até a chegada do TikTok).
Uma posição dominante que foi possível graças a inatividade das agências de proteção da concorrência, que não impediram a criação de um gigante com a compra do Instagram e do WhatsApp. Dessa vez, as agências públicas americanas e europeia não cometerão os mesmos erros. Nem deixarão que o Metaverso - ou metaversos - se transformem em terras sem lei como era a Internet até pouco tempo atrás. Por isso já estão trabalhando para criar regras claras para resolver disputas sobre direitos de propriedade intelectual, tributação, cyberbullying e desinformação.
Tudo isso questiona as potencialidades da aposta estratégica da Meta e as oportunidades comerciais que poderá explorar no Metaverso. Mesmo se muitos especialistas consideram essa tecnologia fundamental para a economia criativa do futuro, e muitas empresas já encomendaram centenas de milhares de óculos de realidade aumentada (até as Forças Armadas dos EUA já pediram 120 mil VR), ainda existem questões relevantes sobre a evolução dessas novas tecnologias.
Por isso, em muitos se perguntam se essa estratégia seria mais adequada para fundos de venture capital de elevado risco do que para empresas listadas, como a Meta.