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Magalu, Via e Americanas: por que as ações de e-commerce estão subindo?

Sinalizações do Banco Central sobre a taxa Selic e alívio na tensão entre Rússia e Ucrânia impactam papeis de varejistas

Centro de distribuição do Magazine Luiza: ações são beneficiadas pela queda na curva de juros (Germano Lüders/Exame)

Centro de distribuição do Magazine Luiza: ações são beneficiadas pela queda na curva de juros (Germano Lüders/Exame)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 30 de março de 2022 às 06h30.

Após meses de queda, as ações de e-commerce estão de volta ao campo positivo do Ibovespa. No acumulado de março, as ações da Magazine Luiza (MGLU3) sobem 16%, enquanto os papéis de Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) registram alta próxima de 13%. No caso de Magalu e Via, as ações se encaminham para fechar seu primeiro mês em terreno positivo desde junho do ano passado.

Muitos investidores agora se perguntam: as ações ficaram tão descontadas que chegaram a um piso e agora a perspectiva é de valorização?

A explicação para a alta dos papéis acompanha as quedas nos principais contratos de juros futuros nas últimas semanas. Nesta terça-feira, os contratos DI para janeiro de 2023 recuaram de 12,74% para 12,70%, e o DI para 2027 caiu de 11,27% para 11,20%.

Vale lembrar que o desempenho das empresas de e-commerce tem forte relação com a Selic. Quando a taxa de juros sobe, o consumo dos clientes é prejudicado e, consequentemente, o balanço das companhias sofre. Juros mais altos também prejudicam empresas alavancadas, que financiam sua expansão com empréstimos, como é o caso das varejistas. Logo, a perspectiva de juros mais baixos beneficia os papéis.

O que está afetando a curva de juros?

Um dos principais fatores que tem derrubado a curva de juros é a própria sinalização do Banco Central. Na ata da última reunião do Copom, divulgada na semana passada, o BC afirmou que o ciclo de alta de juros será encerrado no começo de maio, quando a taxa básica de juros da economia, a Selic, deve chegar a 12,75% ao ano. 

A curva também mudou em reação à divulgação recente dos dados do Caged, que superou as estimativas do mercado. A criação de empregos formais em fevereiro ficou em 328.500 vagas, ante consenso da Bloomberg de 220.250, e o número foi mais do que o dobro dos 155.200 empregos criados em janeiro.

No cenário externo, a pressão negativa vem da guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez disparar o preço do petróleo e aumenta a preocupação com a inflação global. Porém uma nova rodada de negociações de paz entre os países, realizada ontem, dia 29, levou a uma nova queda nos contratos de juros futuros diante da expectativa de um cessar-fogo. 

Mesmo sem um acordo de paz firmado, a expectativa de um horizonte para resolução do conflito aumentou, derrubando o preço do petróleo para próximo de US$ 100 o barril e trazendo algum alívio para o cenário de inflação. Com isso, as ações de Magazine Luiza, Via e Americanas subiram 8% no último pregão.

Vale investir?

As recentes altas, no entanto, não apagam os desafios enfrentados pelas varejistas. Nos últimos 12 meses, as ações da Magazine Luiza e da Via recuam 67%, enquanto os papéis da Americanas registram perdas de 44%. 

Para Fernando Ferrer, analista da casa de análise Empiricus, a explicação está em uma quebra de expectativa do potencial de crescimento dessas companhias. Em sua avaliação, os fortes números conquistados pelo setor no ano de 2020 foram resultado mais de uma questão conjuntural causada pela pandemia do que de uma mudança estrutural de fortalecimento do e-commerce. 

“Não é favorável ter essas ações na carteira porque, mesmo com a queda acentuada dos últimos meses, os papéis ainda estão caros quando comparados com empresas de outros segmentos que não estão sofrendo tanto quanto o varejo”, afirmou Ferrer, em vídeo.

Por outro lado, os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli, Victor Rogatis e Luiz Temporini, do BTG Pactual, têm recomendação de compra para a ação do Magazine Luiza, com preço-alvo em 12 meses que implica um upside de cerca de 130%. Mas eles avaliam em relatório que as perspectivas de curto prazo continuam desafiadoras.

"Embora os resultados do MGLU, como esperado, tenham sido fracos, ainda esperamos que as ações continuem sob pressão nos próximos meses, apesar da grande correção, fortemente impactada por uma perspectiva top-down mais dura, representando riscos negativos para nossas estimativas", apontaram em relatório há duas semanas. Na ocasião, a queda da ação em 12 meses estava em 78%.

"O e-commerce continua sendo uma tese estrutural positiva para nós, mas com muito mais ruído de curto prazo, ao qual o MGLU não está imune", disseram os analistas do BTG Pactual.

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