Painel de cotações da B3: Ibovespa opera em queda acompanhando exterior (Germano Lüders/Exame)
Publicado em 24 de fevereiro de 2023 às 10h23.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2023 às 18h24.
A semana foi mais curta para a bolsa brasileira, que ficou fechada para dois dias de Carnaval e começou a operar apenas a partir das 13h da quarta-feira de cinzas. Porém, os dois pregões e meio já foram suficientes para registrar uma forte queda. O Ibovespa, principal índice da bolsa, fechou a semana em baixa de mais de 3%, com queda de 1,6% apenas nesta sexta-feira, 24.
O viés vendedor veio principalmente dos Estados Unidos, onde investidores estão preocupados com dados mais fortes que o esperado para a inflação desde o início da semana. O receio dos investidores é que os preços mais altos mantenham os juros mais altos também o que, por sua vez, tira atratividade de investimentos em renda variável como as ações.
No pregão de hoje, novos dados de inflação superaram as estimativas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Por aqui, a surpresa negativa ficou com o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) da primeira quinzena de fevereiro. Considerado a prévia da inflação oficial do País, o IPCA-15 do mês ficou em 0,76%, levemente acima do consenso de 0,72%. No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira caiu de 5,87% para 5,63%, pouco acima da projeção mediana do mercado, de 5,60%.
"A alta de 0,76% ainda mostra um IPCA salgado. Não é pouca coisa. As expectativas de inflação para este ano caminham para próximo de 6%, considerando os dados do boletim Focus. Não está fácil, dado que a meta de inflação é de 3,25%. Podemos chegar ao fim do ano com o dobro da meta", avaliou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
A surpresa foi ainda maior no mercado americano. Os Preços sobre Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) não desaceleraram como o esperado, e o indicador é o principal termômetro da inflação observado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Pelo contrário, o PCE voltou a subir. No acumulado de 12 meses, o PCE de janeiro acelerou de 5,3% para 5,4%. Já o núcleo do PCE foi de 4,6% para 4,7% ante expectativa de queda para 4,3%. Na comparação mensal a alta foi de 0,6% contra o consenso de 0,4%.
Índices de Nova York, que já operavam em queda, estenderam as perdas após a divulgação do PCE.
"O PCE exclui itens mais voláteis que o Índice de Preço ao Consumidor. Esse dado mais forte piorou o desempenho da bolsa e aumentou a expectativa de novas altas de juros nos Estados Unidos", comentou Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos.
Juros futuros apresentam firmes altas nesta sexta nos Estados Unidos, com investidores precificando taxas mais altas ao longo do tempo. O PCE desta manhã, por sinal, deu um novo gás para as apostas de um Fed mais duro já na próxima reunião, em março.
Segundo o monitor de probabilidade do CME Group, investidores já precificam 35% de chance de o Fed ter que voltar a subir o juro em 0,50 ponto percentual. Essa proporção era de 18% há uma semana, quando a alta mais branda, de 0,25 p.p. era tida como certa.
A alta dos juros futuros nos Estados Unidos aumenta a busca por dólar, que se valoriza no mundo inteiro. Contra o real, a divisa americana subiu mais de 1%, encerrando o dia negociada a R$ 5,19.
Na bolsa, apenas 8 das 88 ações do Ibovespa fecharam a semana em terreno positivo. A maior alta ficou com a Petz (PETZ3), que subiu mais de 4% no acumulado dos últimos três dias.
Na ponta negativa, a maior queda foi da Via (VIIA3). Ações mais dependentes da economia local – e, portanto, da trajetória dos juros – foram as mais prejudicadas no índice nesta semana.