Vinícius Aleixo, sócio-diretor da Tordesilhas Capital: "esse deverá ser o melhor momento para viajar para a Argentina" (Tordesilhas Capital/Divulgação)
Repórter
Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 11h00.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2024 às 11h13.
Com o dólar caro e o peso extremamente desvalorizado, a Argentina se tornou o principal destino internacional de brasileiros nos últimos anos. Pesquisa recente do buscador de viagens Kayak mostrou que, em 2023, as buscas por destinos argentinos subiram 46%. Mas o melhor do período de bonança dos brasileiros na Argentina já ficou para trás. Isso é o que afirma Vinícius Aleixo, sócio-diretor da gestora Tordesilhas Capital.
A gestora, braço da americana Fourth Sail na América Latina, tem acompanhado de perto as movimentações no país vizinho e está relativamente otimista com os rumos que o país pode tomar, caso parte das medidas do novo governo tenha sucesso. Mas, na avaliação de Aleixo, viajar para a Argentina tende a ficar cada vez mais caro.
"Já está mais caro para o brasileiro fazer turismo pela Argentina. Isso porque o governo descongelou o câmbio oficial, que serve de referência para vários setores da economia. Isso tem feito a inflação acelerar, o que, naturalmente, reduz o poder de compra", explicou.
Uma das estratégias de quem ia para Argentina era fazer a conversão da moeda no câmbio paralelo, que tem como referência a cotação do "dólar blue". O dólar blue seria a cotação mais coerente com a oferta e demanda e, usualmente, mais vantajoso para quem buscava comprar pesos argentinos.
Antes da eleição do presidente Javier Milei, de viés liberal, a cotação oficial do dólar era de 350 pesos argentinos, enquanto o dólar blue era vendido pelo triplo do valor no mercado paralelo. Acontece que essa relação já está bem diferente. Hoje, a cotação oficial do dólar na Argentina é próxima de 836 pesos, enquanto o dólar blue está próximo de 1.170 pesos.
A tendência, afirmou Aleixo, é a cotação oficial se aproximar ainda mais do preço em que o dólar é negociado paralelamente. "O governo tem a intenção de desvalorizar a moeda local para atrair mais dólares via exportação, especialmente de soja. Isso tende a fortalecer o peso argentino, sem deixar o paralelo tão depreciado. Só que isso gera inflação no curto prazo, o que torna a viagem de brasileiros mais cara."
A inflação da Argentina está no pior patamar desde a década de 1990, quando o país passava por uma hiperinflação. No acumulado de 12 meses, o Índice de Preço ao Consumidor (IPC) da Argentina bateu 211%. Ou seja, o mesmo produto, há um ano, custava um terço do que custa hoje.
Essa alta de preço, no entanto, não foi acompanhada do câmbio paralelo, que segue quase estável desde a eleição de Milei.
Embora acredite que o melhor da farra dos brasileiros na Argentina já tenha ficado para trás, Aleixo ainda vê uma janela de oportunidade para visitar o país vizinho. "Deverá ser em abril. Há interesse do governo em desvalorizar o peso nessa época do ano porque é a época da colheita de soja e isso deverá contribuir para as exportações. Esse deverá ser o melhor momento para viajar para a Argentina."
Ainda que esteja mais confiante na retomada da Argentina, Aleixo também vê a possibilidade de o país entrar em um cenário binário, em que tudo pode ir bem ou tudo irá mal. O sinal negativo, afirmou, veio com a derrota no Congresso da "lei ônibus", que previa uma série de medidas econômicas. "A derrota foi tão grande, que o projeto voltará à estaca zero. Temos que ver como o governo reagirá, As próximas semanas prometem ser importantes para o futuro do país."
Com teses de investimentos voltadas aos países latinos, a Tordesilhas vinha se posicionando na Argentina por meio de títulos de dívida de províncias do país. Na avaliação da casa, esses títulos, dependendo de qual, são ainda mais seguros que os títulos do governo federal