André Jakurski, sócio-fundador da JGP: o establishment pensante americano é todo contra Trump (Dado Galdieri/Bloomberg via/Getty Images)
Repórter
Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 13h25.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2024 às 15h34.
Uma voz dissonante soa em meio ao otimismo do mercado financeiro. Enquanto a maior parte dos investidores traçam um cenário de crescimento aliado à inflação baixa, André Jakurski, sócio-fundador da JGP, vê riscos explosivos no horizonte.
"A dívida dos Estados Unidos me preocupa por um período indeterminado. Eles continuam com um déficit fiscal de 6% do PIB em uma economia em pleno emprego. Isso nunca aconteceu. É um bomba atômica com pavio curto que pode explodir em 6 meses ou em um ano. É uma trajetória muito ruim", afirmou Jakurski.
Os Estados Unidos estão com uma dívida de US$ 34 trilhões, equivalente a 120% do Produto Interno Bruto (PIB), próxima do maior patamar da história. Mas o gestor vê uma alta probabilidade de essa relação piorar significativamente neste ano, tendo em vista as eleições presidenciais em novembro.
"O establishment pensante americano é todo contra o [ex-presidente Donald] Trump, pela perspectiva de que ele possa desestabilizar a geopolítica dramaticamente e até a democracia, segundo alguns. Por isso, deve haver um esforço intenso para derrubar Trump. Então, o Fed está mais propenso a baixar o juro e o Biden vai gastar mais dinheiro do que é possível imaginar."
As declarações foram feitas a uma plateia de investidores em painel do CEO Conference mediado por André Esteves, presidente do Conselho de Administração do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame), que realizou o evento, nesta terça-feira, 6.
A consequência desses incentivos econômicos, avaliou Jakurski, é a possível volta da inflação. "Os políticos não estão preocupados com isso. Eles aceitariam 0,3% ou 0,2% de inflação a mais para reeleger Biden."
Jakurski também foge do consenso quanto à sua visão sobre a China. Segundo ele, o país asiático está muito mais forte que avaliado por seus pares, enquanto o Ocidente, afirmou, "está enfraquecendo."
Para o gestor, a China deverá alcançar o patamar de igualdade militar com os Estados Unidos entre 5 e 10 anos e que, em 2027, poderia ter "condições tranquilas" para invadir Taiwan.
"Apesar de a China ter seus problemas, ela é líder em tantas coisas que um conflito severo desligaria o Ocidente. A penicilina, o microchip, o parafuso do avião da Boeing são todos feitos na China."
O sócio-fundador da JGP ainda pontuou que os países ocidentais têm gerado "pessoas fracas" e com "objetivos que não são interessantes para a democracia e o desenvolvimento". "É diferente da Ásia, especialmente da China, que tem se desenvolvido em áreas importantes."
Temas que vêm amplamente sendo discutidos no mercado, como custo inflacionário do desglobalização da cadeia produtiva, até estão em seu radar, segundo Jakurski, mas tem um peso menor em sua análise. "Não é importante como esses temas. O Ocidente está em declínio. A democracia e o capitalismo também."
A visão de Jarkurski fugiu às de Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX, e Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde, que também participaram do painel com André Esteves. Ambos, assim como Jakurski, são considerados grandes lendas do mercado.
"Não acho que a dívida americana seja um problema de curto prazo", afirmou Xavier. Para o sócio-fundandor da SPX, o maior risco do mercado é a China, e não a dívida pública americana. Segundo ele, há riscos elevados de a dívida do mercado imobiliário contaminar o sistema financeiro do país, especialmente por meio dos shadow banks, que são instituições que funcionam como um banco paralelo, sem o mesmo controle dos bancos estatais. Enquanto isso, para o Ocidente, Xavier afirma que o cenário é o que "pediu a Deus", com crescimento, juro mais baixo e a inflação sendo exportada pela China, devido ao excesso de oferta de bens.
Já Stuhlberger avalia que os agentes geopolíticos tem agido "racionalmente" e que isso reduz os riscos potenciais do mercado, enquanto a China "tem passado por uma crise de modelo". Segundo ele, no entanto, não deverá haver um colapso da economia local, mas uma queda gradual de preços de ativos, como imóveis e terrenos. O foco da Verde, disse, está nas quedas de juros dos principais bancos centrais, que, segundo Stuhlberger, deveriam cortar os juros de forma mais acelerada. "Eles foram desmoralizados por atrasarem a alta de juros. Agora estão sendo 'lerdos' para baixar os juros".