Elon Musk e Sam Altman: entenda o que está por trás da relação entre os dois (Mike Windle/Getty Images for Vanity Fair/Getty Images)
Repórter
Publicado em 1 de março de 2024 às 12h31.
Última atualização em 1 de março de 2024 às 12h32.
Março começa com o que deve ser uma longa batalha de gigantes nos tribunais americanos. O bilionário Elon Musk está processando a OpenAI, detentora do ChatGPT, e o CEO Sam Altman. As acusações são de quebra de contrato, violação do dever fiduciário e práticas comerciais desleais.
Segundo a ação judicial, Musk alega que o "acordo fundador da empresa" foi quebrado com a aproximação à Microsoft. “Sob sua nova direção, ela não está apenas desenvolvendo, mas realmente aprimorando uma [inteligência artificial geral] para maximizar os lucros da Microsoft, em vez de para o benefício da humanidade”.
Mas a situação não é tão simples quanto o que está no papel. Além de ser um dos homens mais ricos do mundo, Musk foi um dos fundadores da OpenAI em 2015, ao lado de Altman e Greg Brockman, e afirma ter doado US$ 44 milhões para a companhia. Hoje ele também é (ou tenta ser) um competidor direto: ano passado, o fundador da SpaceX e Tesla criou uma nova empresa de IA, chamada X.AI. Entenda por que Elon Musk está processando a dona do ChatGPT:
A estrutura de negócios da OpenAI mudou de 2015 para cá. A empresa foi criada inicialmente como uma organização sem fins lucrativos para fomento de pesquisas e aplicações de inteligência artificial.
Atualmente, a OpenAI é administrada pela organização sem fins lucrativos, mas com um braço com fins lucrativos que conta com funcionários, gestores de capital de risco e a Microsoft, que se comprometeu a investir US$ 13 bilhões na empresa em troca de uma participação de 49% nos lucros, como investidores.
Musk já havia criticado, em uma entrevista de maio de 2023, a situação atual da empresa. Ele disse que a companhia de Satya Nadella "exerce controle" sobre a criadora do ChatGPT e chegou até a falar que foi ele mesmo quem pensou no nome OpenAI.
Vale ressaltar que o acordo com a Microsoft foi feito um ano após a saída de Musk, que só foi resumida a "desetendimentos" com Altman sobre a direção que as pesquisas deveriam seguir.
De acordo com o bilionário, a ideia que ele teve ao criar a empresa era desenvolver "o oposto do Google", com uma companhia sem fins lucrativos e cuja tecnologia fosse de código aberto, disponível para qualquer interessado. Foi essa ideia que deu origem ao nome da empresa que hoje tem Sam Altman como CEO.
Por pouco menos de duas semanas em 2023, Altman ficou fora do cargo após ser demitido pelo conselho, e voltou com apoio de investidores financeiros e os funcionários da companhia. A semana turbulenta acabou indicando que a empresa estava dividida internamente, mas a situação foi deixada em panos quentes.
Além da governança ambígua, a OpenAI tem valor de mercado estimado na faixa dos US$80 bilhões, o que triplicaria seu tamanho em menos de 10 meses. Segundo o New York Times, a empresa deve vender ações existentes em uma oferta pública liderada pela empresa de capital de risco Thrive Capital para oficialmente alcançar o valor.
Investidores querem um pedaço da startup mais quente do Vale do Silício, mas o SEC, outros órgãos reguladores pelo mundo e até o jornal New York Times, também:
Então, apesar do sucesso monetário, a OpenAI está enfrentando uma leva de acusações nos últimos meses enquanto continua soltando novas versões do GPT e até preparando o lançamento do Sora, que cria vídeos a partir de comando de texto.
Estaria Elon Musk só aproveitando o momento fragilizado da OpenAI com a parceria da Microsoft para atacar? Na ação, ele pede uma liminar obrigando a OpenAI a tornar toda a sua pesquisa e tecnologia abertas ao público, e que a empresa e Altman sejam obrigados a renunciar a todo o dinheiro recebido como resultado das práticas que chama de ‘ilegais’.
O processo de Musk alega que o mais recente modelo de IA da OpenAI, GPT4, lançado em março do ano passado, violou o limite da inteligência artificial geral. A "AGI" é definida pela própria OpenAI como "sistemas autônomos que superam os humanos nas tarefas economicamente mais valiosas", mas, em suma, pode ser definido como uma IA superinteligente.
Segundo o processo, o acordo com a Microsoft apenas dá à gigante uma licença para a tecnologia pré-AGI da OpenAI. A ação busca uma decisão judicial sobre se o GPT4 já deveria ser considerado uma AGI, argumentando que o conselho da OpenAI estava “mal equipado” para tomar tal determinação.
“O Sr. Musk reconhece há muito tempo que a AGI representa uma grave ameaça para a humanidade – talvez a maior ameaça existencial que enfrentamos hoje”, diz o processo.
O documento acrescenta que a OpenAI também está construindo outro modelo, Q*, que será ainda mais poderoso e capaz que o GPT4. Segundo a OpenAI, o Q-learning é um passo na direção da AGI.
A OpenAI afirma que ainda não alcançou a AGI, apesar do sucesso dos seus modelos, e que quer construí-la de forma gradual, a fim de beneficiar toda a humanidade. Isso significa que, caso se comprove que a OpenAI não construiu ainda uma AGI, o processo de Musk perde força.