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Repórter do Future of Money
Publicado em 10 de novembro de 2023 às 09h00.
Última atualização em 13 de novembro de 2023 às 14h38.
O próximo sábado, 11, contará com o primeiro aniversário de um evento que marcou, e mudou, o mercado de criptomoedas: a quebra da FTX. Em uma série de revelações que chocaram o mercado, a segunda maior exchange do mundo acabou tendo uma falência completa em poucos dias, com revelações sobre uso indevido de fundos de clientes e falta de liquidez.
O evento teve impactos imediatos significativos no mercado: criptomoedas despencaram, investidores tiveram prejuízos milionários e outra empresas faliram em um efeito dominó. Um ano depois, o momento no setor é bastante diferente, com ativos em alta, interesse crescente de grandes empresas e perspectivas positivas para o futuro. Mas a FTX ainda deixa suas marcas.
À EXAME, líderes de algumas das principais corretoras que atuam no mercado brasileiro revelaram quais foram as surpresas, lições e efeitos marcantes desse episódio, em uma novela que, na verdade, ainda não acabou: o ex-CEO da empresa, Sam Bankman-Fried, foi recentemente julgado como culpado nos Estados Unidos, enquanto os novos controladores da empresa não descartam um retorno à ativa, e milhares de clientes ainda esperam para receber seus fundos de volta.
Thales Freitas, CEO da Bitso Brasil, avalia que a falência da FTX fez com que toda a indústria cripto passasse "por um processo importante de restabelecer confiança e transparência entre clientes e a comunidade. Ficou mais evidente e urgente a necessidade das empresas priorizarem princípios como conformidade regulatória, gerenciamento de riscos e due diligence. E o que aconteceu com a FTX mostrou que somente as empresas que adotarem elevados padrões de segurança e transparência sobreviverão".
"Embora a prova de reserva e a prova de fundos sejam tentativas válidas de reprimir os medos dos indivíduos, à medida que nosso setor passa por mudanças e desafios rápidos, tentativas apressadas de transparência se mostrarão inúteis nos próximos meses e anos", opina.
Ao mesmo tempo, ele avalia que, "com todo esse cenário, o mercado cripto deve se atentar que, ao tomar medidas cuidadosas e ponderadas em direção à transparência completa, é exigido muito mais trabalho, mas os benefícios e resultados para usuários, empresas e todo o mercado de criptomoedas serão imensos".
Para o executivo, as empresas de criptomoedas enfrentaram um dos seus maiores desafios com a falência da FTX: "comprovar sua solvência indo além de um discurso convincente de ser regulada e auditada". Um ano depois, ele acredita que esse movimento tem dado bons resultados, com a maioria das exchanges encontrando "formas mais profundas e contundentes de comprovar a seus clientes que seus investimentos estejam protegidos e também maneiras de restaurar a confiança na comunidade".
Já Sebastian Serrano, CEO e cofundador da Ripio, empresa de tecnologia blockchain multiprodutos, acredita que a quebra da FTX foi a insolvência "mais chocante" desde a quebra da Mt. Gox em 2014. Naquele momento, a empresa era a maior corretora do mercado. Ao mesmo tempo, ele afirma que "o evento da FTX representou uma falha em uma entidade centralizada, e não na tecnologia blockchain. Vale ressaltar que não houve danos para os criptoativos em si, e o episódio trouxe como efeito colateral a eliminação de todos os excessos e da má conduta de um caso isolado".
"O acontecimento gerou um alerta e uma oportunidade para toda a comunidade analisar o que aconteceu, ter a possibilidade de melhorar e garantir que isso não aconteça novamente. Um mundo descentralizado também implica maior responsabilidade para cada um dos atores envolvidos, e temos que estar cada vez mais conscientes disso, caso contrário, cometeremos os mesmos erros que já foram cometidos na economia tradicional", opina.
Para Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin, o impacto significativo na confiança dos investidores em relação ao ecossistema de criptomoedas foi uma surpresa negativa, em especial considerando o interesse de grandes empresas: "Foram vários meses até que notícias como a do ETF da Blackrock, por exemplo, voltassem a aparecer", lembra.
"Um segundo efeito foi a lentidão na adoção de regulamentações mais robustas em algumas jurisdições, em especial nos Estados Unidos, que ainda vive um clima terrível do ponto de vista regulatório", destaca. Por outro lado, ele considera que o episódio foi essencial para acelerar a aprovação do Marco Legal das Criptomoedas, uma regulamentação brasileira para o setor que foi aprovada apenas um mês depois da falência da FTX.
Serrano, da Ripio, lembra que, desde então, as criptomoedas continuaram avançando ao redor do mundo. É o caso da América Latina, onde "as criptomoedas se tornaram uma parte importante da vida cotidiana em muitos países da região, especialmente naqueles que enfrentam desvalorização de moeda".
Como grande lição da quebra da FTX, ele afirma que "o que ocorreu há um ano com a FTX fez com que as pessoas refletissem sobre os aspectos envolvidos na regulamentação das corretoras de criptoativos, pensando na importância das exchanges respeitarem a segregação patrimonial para proteger os usuários. Segundo a Associação Brasileira de Criptoeconomia, se a FTX atuasse com segregação patrimonial, os clientes conseguiriam ter retirado seus criptoativos sem problema algum".
"Houve também o amadurecimento nos debates, ressaltando a importância da segurança jurídica e confiança no mercado cripto, rumo a um ecossistema mais transparente, seguro e íntegro", avalia. Já Tota, do Mercado Bitcoin, afirma que o mercado voltou a ser beneficiado pela retomada de interesse de investidores institucionais, com foco em especial na tokenização.
"Além disso, é notável um maior escrutínio aos players com práticas questionáveis, ou que praticam a chamada arbitragem regulatória. Os reguladores mostram sinais claros que algumas das práticas adotadas pela FTX não serão toleradas", diz. Como lição, ele ressalta que se uma empresa de cripto "parece suspeita e tem indícios de problemas, provavelmente algo está errado".
"A FTX dava alguns sinais, em especial o conflito de interesse entre a Alameda, uma empresa de trading proprietário, e a FTX, uma bolsa. Pairava no mercado uma desconfiança de que as práticas não eram equitativas, mas que acabaram sendo 'esquecidas' em virtude da suposta qualidade do serviço oferecido. No final, se provou que tamanho conflito de interesse não pode ser superado pelos executivos, que se aproveitaram de tal privilégio para fazer dinheiro", comenta.
Para Freitas, da Bitso, as empresas do mercado cripto ainda "têm enfrentado o desafio de criar soluções que realmente comprovem que os fundos do cliente estão seguros. O mercado entendeu que as empresas que não adotam altos padrões de segurança e transparência não oferecem a confiança e sustentabilidade necessárias para operar nesse setor".
"O exemplo da FTX deixou claro que as tradicionais provas de reservas - em que as empresas divulgavam publicamente somente as reservas, sem demonstrar os passivos - não são suficientes. Ainda que seja importante comprovar que os fundos estão na exchange, só isso não adianta para os clientes, se eles não tiverem certeza de que podem sacar seu dinheiro quando quiserem. Essas soluções também não garantem que os ativos digitais na wallet de um usuário sejam suficientes para cobrir os ativos da exchange", destaca.
Ele classifica a falência da FTX como "um momento difícil e triste para a indústria e, especialmente, para aqueles diretamente afetados pelo não cumprimento da FTX". Como lição, considera que "é cada vez mais importante o desenvolvimento de soluções que permitam que qualquer pessoa possa provar que os seus próprios fundos estejam, devidamente, guardados sem ter de recorrer a terceiros. Uma prova de conhecimento zero pode ajudar a fazer exatamente isso. É importante ter um padrão de mercado que mantenha as empresas totalmente responsáveis perante seus clientes em todos os momentos".
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