Esporte

Cruz Azul, rival do Flamengo, está dentro de uma 'revolução' no México

Investimentos e até presença de Messi elevam patamar e podem transformar o país num grande negócio

Angel Marquez comemora gol com seus companheiros em partida contra o Chivas pelo Torneio Apertura (Manuel Velasquez/Getty Images))

Angel Marquez comemora gol com seus companheiros em partida contra o Chivas pelo Torneio Apertura (Manuel Velasquez/Getty Images))

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 12h02.

O futebol mexicano voltou a ficar no centro das atenções nesta semana com o confronto entre Cruz Azul e Flamengo, que se enfrentam na quarta-feira pela Copa Intercontinental da Fifa, no Catar.

O futebol daquele lado da América tem cifras pesadas. As equipes de lá têm um valor de mercado considerado de alto padrão, que chegam perto dos US$ 3 bilhões no total, de acordo com dados da última temporada divulgados pela plataforma ‘El Míster’.

Isso, claro, teve reflexo direto no poder de contratação dos times da liga, que já foi a segunda mais bem paga da América, atrás apenas do Brasil, em 2023, de acordo com a FIFA, com salário médio anual de US$ 402.000 (R$ 2,2 milhões, na cotação atual).

Os times de maior impacto são América, Deportivo Guadalajara (Chivas) e Monterrey, enquanto o Cruz Azul aparece no meio da tabela, com o elenco avaliado em 82 milhões de euros (R$ 508 milhões), segundo o Transfermarkt.

Ousado nas contratações

O México sempre foi ousado financeiramente, o que fica evidenciado nas contratações - atualmente, são mais de 250 atletas estrangeiros atuando no país -mais do que o dobro do Campeonato Brasileiro, sendo que a maioria deles são sul-americanos, assim como no Brasil.

A equipe do Cruz Azul que encara o Flamengo hoje tem no plantel argentinos, colombianos e uruguaios. Nesta temporada, realizou a quarta maior contratação de sua história ao trazer o meia José Paradela, que veio do Necaxa por 10 milhões de euros (R$ 62 milhões). Já o centroavante grego Giakoumakis deixou o time e foi para o PAOK, da Grécia, ex-clube do técnico Abel Ferreira.

Transações consideradas ousadas aconteceram nas últimas temporadas, entre elas a negociação de dois atletas da Premier League para a Liga Mexicana. Foi assim com o zagueiro Samir, revelado pelo Flamengo, e que em agosto de 2022 deixou o Watford para atuar no Tigres. Já o atacante Léo Bonatini, revelado pelo Cruzeiro, deixou o Wolves naquele mesmo ano para jogar no San Luis. Destaque também para os asos do zagueiro Joaquim, ex-Santos, e do volante Rômulo, ex-Internacional, que foram para o Tigres.

"O futebol sempre foi o esporte mais popular no México e a economia do país cresceu muito nas últimas décadas. Além disso, muito mexicanos enriqueceram nos Estados Unidos, gerando grande audiência por lá, sem contar que a maioria dos seus grandes clubes é parte de um conjunto de propriedades de grandes empresas, e já vem sendo administrados de forma profissional faz tempo, sendo reconhecidos mundialmente como bons pagadores, o que ajuda no conhecimento dos atletas a se mudarem para o país", explica Renato Martinez, vice-presidente da Roc Nation Sports, empresa de entretenimento norte-americana.

Fator Messi

O crescimento do futebol mexicano também passa por alguns movimentos que passam até mesmo pela chegada de Messi e outros craques aos Estados Unidos. Isso porque a Leagues Cup, torneio que reúne os principais times dos dois países, proporciona embates importantes e eleva a audiência da competição.

O torneio conta com 47 times - incluindo os campeões da MLS Cup e da Liga MX. Os outros 45 times são divididos em grupos de três equipes e brigam pelas vagas no mata-mata.

"É um mercado robusto, organizado, além de ter profissionais de alto nível em vários segmentos, e não apenas dentro de campo. O fato de também trabalharem com a moeda americana é um diferencial no mercado", complementa Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM.

Lionel Messi se prepara para cobrar escanteio diante de torcedores do Monterrey em partida válida pela Champions da CONCACAF (Hector Vivas/Getty Images)

 

“É um país muito bem estruturado, que sempre importou muitos jogadores de fora, especialmente argentinos. E tem um povo que desde sempre ama e consome muito futebol. Acredito que essa expansão internacional possa ser acelerada com a disputa da Copa de 2026 e pela quantidade de eventos que envolvem todo aquele entretenimento bem trabalhado que conhecemos do mercado dos Estados Unidos. Como a presença de mexicanos por lá é muito grande, as oportunidades de intercâmbio cultural e de negócios entre os países aumente, fazendo com que a gama de marcas interessadas no produto futebol aumente também em solo mexicano, respingando na força da liga local e das equipes”, aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

A força da Liga Mexicana

O futebol mexicano passa por uma transformação que deve modificar o modelo de estrutura entre os clubes e prepará-lo para a entrada de outros mercados.

Nos últimos meses, o Querétar foi vendido para um grupo de investidores liderado por Marc Spiegel, fundador e sócio-gerente da firma de investimentos Innovatio Capital. O acordo avalia o clube em mais de US$ 120 milhões (R$ 667,2 milhões), segundo informações da Forbes.

De acordo com a publicação, a principal razão para essas negociações está ligada a um investimento de grande impacto que está sendo negociado com a Liga MX pela Apollo Global Management. A empresa de private equity propôs um aporte de US$ 1,25 bilhão em troca de uma porcentagem dos lucros futuros com direitos de mídia.

Hoje, a elite do futebol mexicano tem a participação pesada de quatro grandes grupos em rivais de forma simultânea: Grupo Caliente (dono do Querétaro e do Tijuana), Grupo Orlegi (Atlas e Santos Laguna), Grupo Pachuca (León e Pachuca) e Grupo Salinas (Mazatlán e uma parte do Puebla). Na teoria, a FIFA proíbe que múltiplos clubes com o mesmo proprietário participem de competições interligadas.

"Quando uma liga passa a atrair investimentos em larga escala, como ocorre hoje no México, a exigência por governança se torna inevitável. Operações estruturadas e investimento relevante só se concretizam quando há de fato uma Liga no controle da maior competição nacional, pois há mais transparência e segurança jurídica para investidores. A Liga MX está justamente nesse momento de virada: ajustar sua estrutura para competir globalmente, reduzir conflitos entre os clubes e prepará-los para um mercado em que capital internacional e FairPlay financeiro caminham juntos”, explica o advogado especializado em direito esportivo, Cristiano Caús, sócio do CCLA Advogados.

“O processo de venda dos clubes avança para um modelo de governança mais alinhado às melhores práticas internacionais. A eliminação das participações cruzadas atende diretamente às normas de integridade competitiva da FIFA. Quando a liga corrige esses desvios estruturais, reduz riscos jurídicos, fortalece a segurança contratual e cria bases mais sólidas para operações dessa natureza. É esse ambiente regulatório mais estável que viabiliza aportes como o da Apollo e tende a acelerar a valorização dos clubes no México”, acrescenta Talita Garcez, especialista em direito desportivo e sócia do Garcez Advogados e Associados.

Acompanhe tudo sobre:FutebolMéxico

Mais de Esporte

Copa do Mundo e Olimpíadas: 2026 será o ano dos megatorneios; veja calendário

Brasil: qual será o fuso horário dos jogos na Copa?

Onde assistir à Copa do Mundo 2026? Guia de canais de TV e streaming

Copa do Mundo 2026: como funciona a classificação? Entenda o novo sistema