ESG

O frio no Brasil está ligado a uma plantação de abacate na Itália. Entenda

Mudanças climáticas estão provocando fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes, e até permitindo cultivar frutas tropicais na Europa

Onda de frio atinge o Brasil: chegou a nevar em diversas cidades do Rio Grande do Sul (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

Onda de frio atinge o Brasil: chegou a nevar em diversas cidades do Rio Grande do Sul (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 29 de julho de 2021 às 11h32.

Última atualização em 29 de julho de 2021 às 12h01.

Está nevando no Brasil. E não é aquela neve ralinha, insuficiente até para fazer um pequeno boneco com nariz de cenoura. Está nevando muito. O que passa na cabeça do brasileiro, diante de um frio tão extremo, é: “nem roupa eu tenho para ir nesse inverno”.

Mas o que faz um país tropical vivenciar temperaturas tão baixas? A resposta para essa pergunta pode ser encontrada nas terras férteis ao redor do vulcão Etna, na Sicília, Itália. É lá que o agricultor italiano Andrea Passanisi mantém uma plantação de abacates nas terras que pertenciam ao seu avô, plano desenvolvido após uma viagem ao Brasil.

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O avô de Passanisi plantava uvas, como a grande maioria dos fazendeiros da região. O problema é que, nos últimos 20 anos, a temperatura subiu muito. “Do nosso lado da montanha está muito quente para uvas, é preciso ir mais para cima”, afirmou Passanisi ao jornal britânico Financial Times. O novo clima, no entanto, é perfeito para frutas tropicais, como o abacate, o maracujá e a lichia.

A ligação entre o frio no Brasil e a plantação de abacates de Passanisi está nas mudanças climáticas.

Eventos climáticos extremos estão mais frequentes

Quando se fala em aquecimento global, não está se falando sobre uma elevação constante na temperatura em todo o planeta. O primeiro efeito das mudanças climáticas são os eventos climáticos extremos, como tempestades, furacões, ondas de frio e calor intensas e queimadas fora de época – no ano passado, por exemplo, a temporada de incêndios florestais na Austrália durou o ano inteiro (não confundir com as queimadas na Amazônia, que são criminosas e não estão relacionadas com as mudanças climáticas).

A indústria de seguros já percebeu isso há algum tempo. Grandes resseguradoras (as seguradoras das seguradoras) monitoram os prejuízos decorrentes dos eventos climáticos. Segundo a Munich Re, desde 1980, as perdas relacionadas ao clima ultrapassam 4 trilhões de dólares, sendo que cerca de 1 milhão de pessoas morreram em decorrência desses eventos.

Os prejuízos estão aumentando. No primeiro semestre de 2021, as seguradoras terão de pagar aproximadamente 42 bilhões de dólares em indenizações geradas por desastres naturais, o maior valor em mais de 10 anos.

Onda de frio causa prejuízo

Um dos eventos mais custosos foi a onda de frio que atingiu os Estados Unidos no início do ano. No Texas, as temperaturas, mais baixas que o normal, congelaram equipamentos de energia e causaram um blecaute.

Os efeitos econômicos e os impactos sociais do apagão ainda estão sendo calculados, mas a expectativa é de que levará meses, ou anos, para recuperar.

Este ano, ao que parece, traz um cenário fora da curva, mesmo considerando a tendência crescente para os desastres naturais.

Alemanha, Bélgica, Holanda e China enfrentaram inundações nunca vistas, que devastaram cidades e mataram 150 pessoas. Brasil e Estados Unidos enfrentam frio intenso. Se o mundo não conseguir conter o aumento da temperatura global, renovar o guarda-roupa será o menor dos problemas.

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