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Comprada pela Arezzo, Reserva diz que vai manter cultura e programas ESG

O estilo antissistema da marca e os projetos sociais serão levados para a Arezzo, segundo Rony Meisler, fundador da Reserva

Rony Meisler, fundador da Reserva: “A ideia é permear a nova companhia com as melhores práticas ESG da Reserva” (Leo Aversa/Reprodução)

Rony Meisler, fundador da Reserva: “A ideia é permear a nova companhia com as melhores práticas ESG da Reserva” (Leo Aversa/Reprodução)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 30 de outubro de 2020 às 13h49.

O mundo da moda e a Reserva possuem uma relação, no mínimo, conflituosa. A marca de roupas, que acaba de ser comprada pela Arezzo, surgiu com um espírito questionador, evidente desde o seu primeiro desfile no Fashion Rio. A reserva entrou na passarela apenas com roupas de mostruário. Para dar um toque inusitado ao show, as modelos carregavam nas costas uma estrutura de metal na qual foram penduradas fantasias de desenhos animados, como Bob Esponja, Flintstones e Homem Aranha, compradas no Saara, um conhecido centro de comércio popular no Rio de Janeiro. 

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A ideia do protesto foi de Rony Meisler, um dos fundadores da empresa. Sua intenção era chamar atenção para a futilidade os desfiles e questionar o processo de criação das varejistas, inteiramente baseado numa ideia de primazia e poder. “Toda lógica do mercado da moda está baseada numa noção de superioridade. O varejista de vestuário atribui a si mesmo a condição de ‘diretor criativo’. Ele quer dizer, com isso, que o lifestyle dele é mais legal que o dos outros. Mas, como ele é bonzinho, permite que o público compre um pedacinho desse estilo, mas só um pouquinho por semestre”, afirma Meisler. 

Esse espírito questionador e polêmico, com a aquisição, será colocado à prova. A Reserva tem uma cultura única e forte. A dúvida é se a Arezzo irá manter a postura e os programas socioambientais da companhia. “Tudo mantido e mais um pouco”, afirmou Meisler à EXAME. “A ideia é permear a nova companhia com as melhores práticas ESG da Reserva.” 

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Não será uma tarefa fácil. A subversão e a experimentação são dois pilares da Reserva, características que Fernando Sigal, o Nandão, outro fundador da empresa, resume na frase “hackers de si mesmo”. “Quando você deixa de se questionar, não percebe as mudanças. E o mundo está sempre se transformando”, diz Sigal. “Precisamos atuar como hackers do nosso próprio sistema.”

A Reserva mantém 95% da sua produção em território nacional. Financeiramente, não compensa. O mesmo produto, comprado da China, poderia custar perto da metade. Porém, Meisler e seus sócios acreditam que a empresa tem um papel social importante a cumprir na geração de empregos. Para que o consumidor entenda por que está pagando mais caro, a empresa informa na nota fiscal o quanto do valor pago fica para ela -- algo que a Arezzo não faz.   

Meisler também tem uma visão diferente sobre a filantropia. Para ele, fazer filantropia é, sim, uma questão de marketing. “Praticamos o bem olhando a quem sim. Isso é sustentável. Tem tanto mau exemplo por aí, tanta gente roubando, destruindo o meio ambiente”, afirma. “E se isso vai fazer com que eu tenha um relacionamento mais profundo e duradouro com o consumidor, e aumentar as vendas, melhor ainda.” O maior projeto filantrópico da Reserva é o 1P5P: para cada peça de roupa vendida (1P), a Reserva doa cinco pratos de comida (5P). A empresa tem parceria com a ONG Banco de Alimentos. 

Aquisições nem sempre dão certo e, frequentemente, o maior problema é a incompatibilidade de culturas. Mas, se tem uma coisa que Meisler não desperdiça é a oportunidade de encarar um desafio. “Será uma enorme e maravilhosa aventura”, conclui o empresário, com entusiasmo. 

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