Candidaturas brasileiras individuais para estudar em universidades francesas começam em outubro, de acordo com o Campus France. (Aurélia Blanc – Campus France/Divulgação)
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Publicado em 6 de setembro de 2023 às 10h16.
Um levantamento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aponta que 5.300 estudantes brasileiros realizaram, em 2022, algum tipo de formação acadêmica na França. No intercâmbio entre universidades, um dos cursos mais procurados é o de Engenharia, mas as Ciências Humanas também despertam interesse dos universitários.
Na avaliação da coordenadora nacional de Comunicação e Eventos do Campus France Brasil, Thaís Cardim, o fato de as universidades francesas serem públicas, subsidiadas pelo governo, estimula os brasileiros a se candidatarem a uma vaga.
“É um atrativo bem interessante para os brasileiros, porque acaba tendo um custo acessível para realizar um curso de formação na Europa, o que já é um sonho. Tem muita gente que acha que não tem condições, mas existem diversas opções de bolsas de estudos e, assim, de ter a possibilidade de financiar as formações. A gente faz essa indicação, mapeia tudo o que a pessoa vai precisar, desde orçamento, documentação e escolha da universidade. A gente dá todo esse auxílio”, explica.
O Campus France é a agência oficial do governo francês responsável pela promoção do Ensino Superior. No Brasil, o órgão coordena as diferentes iniciativas de cooperação científica e universitária com a França. “A gente acaba sendo o canal de comunicação privilegiado, gratuito, de qualquer brasileiro que tenha um projeto de estudos para a França”, ressalta a coordenadora.
Brasileiros e estrangeiros que moram no Brasil poderão se candidatar a vagas em universidades francesas a partir de 1º de outubro. É possível fazer a graduação na França por três anos em qualquer curso ou solicitar a transferência dos estudos feitos no Brasil. Outro foco de atuação do Campus France é a pós-graduação, em qualquer especialidade.
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Há ainda o intercâmbio acadêmico em acordos bilaterais entre as universidades do Brasil e da França, mas também cursos de curta estadia, como para aprimoramento da língua, mestrado e doutorado.
O Campus France tem quatro escritórios no Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Para se candidatar a uma vaga, alguns pré-requisitos são comuns:
“Na maior parte dos projetos de estudo, o processo de candidatura ou aplicação se dá por meio de um dossiê, que é o envio de uma documentação específica. É isso que as instituições vão avaliar, então não tem uma prova ou um processo seletivo que não seja a avaliação da documentação”, diz Thaís Cardim.
As candidaturas individuais para graduação vão até o dia 15 de dezembro e, para a pós-graduação, até janeiro de 2024. O ano letivo europeu vai de setembro a junho. O processo seletivo é feito pelo site. Segundo a coordenadora do Campus France, são, em média, mil candidaturas por processo seletivo, e o número de vagas varia ano a ano.
A universitária brasileira Isabel Weinberg Lima tem 23 anos e há mais de três anos vive em Paris. Ela cursa Letras e Audiovisual na Sorbonne Université. A passagem pela França começou com um intercâmbio pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Decidi fazer a graduação aqui porque cheguei para fazer um intercâmbio pela UFRJ e, logo depois, veio a pandemia. A UFRJ fechou. Ao mesmo tempo, amei as aulas, então decidi transferir o curso para cá”, conta.
Entre as vantagens apontadas por Isabel estão a qualidade do ensino e o custo, que cabe no bolso do estudante. “A universidade pública francesa é bem mais acessível, ao ponto de que pode ser mais fácil entrar na Sorbonne do que na USP [Universidade de São Paulo] ou UFRJ. Custa € 170 por ano, mas é bem mais estruturada. Se você provar que não pode pagar, pode ser reembolsado”, afirma.
Com o visto de estudante, é possível receber uma ajuda do governo francês para custear o aluguel ou ter acesso às residências estudantis, com preços mais acessíveis. De acordo com a universitária, no custo anual já está incluso o pagamento de atividades, como aulas de esporte e restaurante universitário.
Para ser aceita na graduação, ela precisou provar que sabia a língua, tinha boas notas e apresentou uma carta de motivação. “A minha experiência tem sido boa, com acadêmicos renomados. Apesar de que também há problemas: no ano passado, tivemos três meses de greve por causa da reforma da aposentadoria”, lembra Isabel.
De acordo com Thaís, faz parte da política de governo a atração de estudantes estrangeiros. “Existe uma política do governo francês de reestruturação do acolhimento nas universidades para o público internacional. Há toda uma preocupação na recepção dessas pessoas, na organização dos cursos e adaptação de metodologias, porque a França tem um grande interesse em aumentar a quantidade de estudantes internacionais em território nacional”, destaca a coordenadora.
A estimativa é que são necessários € 800 mensais para viver fora de Paris e € 1.000 ao mês para morar na capital francesa. Os estudantes estrangeiros têm autorização para trabalhar até 17 horas semanais para atenuar o custo de vida. Há ainda benefícios, como o reembolso de até 40% do valor do aluguel, restaurantes populares e acesso ao sistema público de saúde francês.
No Brasil, são 900 empresas francesas em atuação. Boa parte delas privilegia a contratação de estudantes que tiveram uma experiência acadêmica na França. Por isso, o Campus France criou uma rede de ex-alunos, hoje com mais de 12 mil inscritos, que mantém contato com recrutadores dessas empresas e instituições parceiras.
“Não existe uma revalidação automática de qualquer diploma estrangeiro. Mas isso não significa que o diploma não seja reconhecido. Existem diversas áreas de atuação em que a pessoa consegue trabalhar com o diploma francês pelo reconhecimento do mercado brasileiro ou, eventualmente, atuar nas empresas francesas aqui presentes”, indica Thaís.