Economia

Apesar de fala de Bolsonaro, Petrobras deve ter novo aumento em breve

A única opção para que a Petrobras não suba os preços seria o governo abdicar da Política de Paridade de Importação. Em live na quinta-feira, Bolsonaro chamou lucro da petroleira de "estupro"

Petrobras: preços praticados no mercado interno estão defasados em 17% para a gasolina e mais de 20% para o diesel (MAURO PIMENTEL/AFP/Getty Images)

Petrobras: preços praticados no mercado interno estão defasados em 17% para a gasolina e mais de 20% para o diesel (MAURO PIMENTEL/AFP/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 6 de maio de 2022 às 11h33.

Última atualização em 6 de maio de 2022 às 11h48.

O presidente Jair Bolsonaro usou a transmissão de quinta-feira, 5, em suas redes sociais para criticar a Petrobras e os preços dos combustíveis. Na fala, Bolsonaro disse que a estatal não poderia mais aumentar o preço, ou iria "quebrar o Brasil". Também chamou o lucro divulgado ontem pela empresa de um "estupro".

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso. Tudo por menos de R$ 0,37/dia

Apesar das declarações, os preços da Petrobras terão de subir em breve se o governo Bolsonaro quiser manter a Política de Paridade de Importação (PPI), que equipara o preço interno ao mercado internacional.

A defasagem atual no preço da Petrobras em suas refinarias é de 17% no caso da gasolina e 21% no óleo diesel, com base nos preços de fechamento do mercado na quinta-feira, 5. Os cálculos são do relatório diário da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

(Ontem, como a EXAME mostrou, a defasagem era de 17% na gasolina e 25% no diesel, de acordo com os preços de mercado do dia anterior).

Os preços da Petrobras em suas refinarias não sobem há 56 dias, desde 11 de março. Na ocasião, a gasolina aumentou 19%, o diesel, 25%, e o GLP, usado no gás de botijão, subiu 16%.

VEJA TAMBÉM

Na época do aumento de março, os preços também chegaram a ficar congelados por 57 dias. Mas passados novamente mais de 50 dias desde o último aumento, não corrigir o valor atual em patamares de dois dígitos seria, na prática, abdicar da PPI, o que teria de ser uma decisão do governo junto à Petrobras comunicada aos acionistas, e geraria amplas críticas no mercado.

Há expectativa para sinalizações da petroleira sobre os preços nos próximos dias. A Petrobras divulgou em seu balanço lucro de R$ 44,6 bilhões referente ao primeiro trimestre, e pagará aos acionistas dividendos totalizando R$ 48,5 bilhões, que incluem saldos acumulados do último trimestre.

“Petrobras, estamos em guerra! Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis! O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo! Vocês não podem mais aumentar o preço dos combustíveis”, disse Bolsonaro na live de quinta-feira, minutos antes da divulgação do resultado da estatal.

Horas após a fala do presidente, em conferência com analistas na manhã desta sexta-feira, 6, o novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, disse que a estatal vai manter os preços de mercado, mas não anunciou um novo aumento. 

"Não é só preço do barril. É gestão responsável que tem sido feita nos últimos anos. Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado", disse Coelho, afirmando também que o Brasil importa parte dos derivados que consome.

Indicado por Bolsonaro, Coelho tomou posse após a demissão do ex-presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna.

O modelo de paridade de importação foi instaurado no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), e Bolsonaro optou por não alterá-lo ao assumir, em meio às promessas liberalizantes feitas durante sua campanha e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Em meio à polêmica, Bolsonaro chega nesta sexta-feira à Guiana, país sul-americano que descobriu vastas reservas de petróleo em seu litoral e faz fronteira com Roraima. José Mauro Coelho foi convidado para acompanhar o presidente, mas não viajou, segundo a assessoria de imprensa da Petrobras. 

VEJA TAMBÉM

Os preços da Petrobras valem para suas refinarias, que representam cerca de 80% dos combustíveis consumidos no Brasil. O restante é importado, a preços de mercado.

Além da fatia referente à Petrobras, o preço final dos combustíveis depende também de outros componentes do preço, como tributos federais e estaduais, custos de distribuição e revenda, além do preço do etanol anidro (misturado à gasolina) e do biodiesel (misturado ao diesel).

Segundo a última pesquisa de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de 24 a 30 de abril, os preços médios dos combustíveis ao consumidor no Brasil foram de R$ 7,283 para a gasolina e R$ 6,610 para o diesel. Para fazer valer a PPI, os preços teriam de ser aumentados em R$ 1,02 para o diesel e R$ 0,47 para a gasolina. 

 

 

Acompanhe tudo sobre:GasolinaGoverno BolsonaroJair BolsonaroPetrobras

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor