O que pode acontecer após o pico da pandemia de coronavírus passar?
Autoridades questionam se o novo coronavírus vai desaparecer nos próximos meses ou se novas ondas da pandemia vão surgir
AFP
Publicado em 22 de março de 2020 às 12h53.
Última atualização em 24 de março de 2020 às 00h59.
Enquanto aguardam o pico da epidemia de coronavírus na Europa, ou seja, o número máximo de casos, os especialistas se perguntam o que acontecerá a seguir.
Depois que o "tsunami" passar, como descrito pela equipe médica na Itália, a questão é se o número de casos começará a cair ou, pelo contrário, haverá "réplicas secundárias" recorrentes.
A diretora geral da agência francesa de Saúde Pública, Geneviève Chêne, admite que "é muito cedo para ter certeza da dinâmica da epidemia".
Tendo em conta a experiência da China e da Coreia do Sul, os primeiros países afetados, "vemos que há uma dinâmica de um período entre dois e três meses com uma reversão do pico, após medidas muito rigorosas, entre o primeiro e o segundo mês", explicou em declarações à rádio France Info.
Nesse caso, a queda no número de casos na França começaria em maio.
Na China, a onda parece ter passado. Por vários dias, e até esse final de semana, o país não registrou nenhum caso de infecção local por Covid-19.
Mas o especialista em saúde pública e epidemiologista Antoine Flahault diz que pode ser um período de calma antes de uma nova onda de infecções.
"Será que a China experimentou apenas uma onda anunciadora (...) enquanto a grande onda ainda está por vir?", questionou na revista médica The Lancet.
Para entender o complexo funcionamento das epidemias, é preciso voltar à gripe de 1918, que, em três ondas sucessivas, deixou quase 50 milhões de mortos e depois desapareceu.
Por que a "grande gripe" desapareceu? É uma pergunta que intriga os matemáticos, incluindo os escoceses William Ogilvy Kermack e Anderson Gray McKendrick, que criaram modelos para entender sua evolução.
Em sua análise, descobriram que uma epidemia desaparece não por causa da "falta de combatentes" - uma situação em que um agente infeccioso desaparece junto com os pacientes que mata - mas por causa da aquisição de "imunidade de grupo", explica Flahault, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra (Suíça).
"A imunidade de grupo é a proporção de pessoas imunizadas contra o vírus (por infecção ou vacina quando existe) necessárias para bloquear qualquer risco de ressurgimento da epidemia", explica ele à AFP.
Essa proporção depende da facilidade com que o vírus é transmitido de uma pessoa infectada para uma pessoa saudável.
Esquematicamente, quanto mais contagiosa a doença, maior será a proporção de pessoas imunizadas para que a epidemia pare.
Flahault calcula que, no caso do coronavírus, "é necessário entre 50 e 66% de pessoas infectadas e imunizadas para eliminar a pandemia".
Mas o nível de contagiosidade (chamado 'R') varia ao longo do tempo em função das medidas sanitárias que se aplicam (quarentena, medidas de barreira, confinamento) e também das condições climáticas.
Se 'R' for inferior a um, é possível dizer que um doente contamina menos de uma pessoa, "então a epidemia é contida", explica Flahault.
Ressurgimento
Mas "não necessariamente desaparece, principalmente se a proporção de imunizados não atingir entre 50% e 66%. Pode fazer uma pausa. É o que está acontecendo agora na China e na Coreia", diz ele.
"Os freios sanitários ou meteorológicos são transitórios" e, quando desaparecem, a epidemia recomeça até atingir a imunidade de grupo, ressalta o especialista francês.
O chefe do serviço de doenças infecciosas do hospital de Paris Pitié-Salpêtrière, François Bricaire, também acredita que é possível um ressurgimento da epidemia.
"O reaparecimento da Covid-19 é uma possibilidade, com um ressurgimento sazonal", explica ele à AFP.
De acordo com a especialista australiana em doenças infecciosas Sharon Lewin, o novo coronavírus pode retornar após a onda atual.
"Não sabemos se ele voltará", reconhece, lembrando que a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), também causada por um coronavírus, matou 774 pessoas em 2002 e 2003 e desapareceu graças a medidas estritas de "distanciamento social".
Tudo isso pode mudar se, como a indústria farmacêutica promete, uma vacina for alcançada dentro de 12 ou 18 meses.
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