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Anticoagulante reduz em 70% a infecção de células pelo novo coronavírus

O medicamento heparina parece também ser capaz de dificultar a entrada do novo coronavírus nas células

Coronavírus: a heparina é um medicamento multialvo, pois além do seu efeito na prevenção da coagulação do sangue pode se ligar a diversas proteína (fotograzia/Getty Images)

Karla Mamona

Publicado em 10 de maio de 2020 às 11h39.

Última atualização em 12 de maio de 2020 às 12h34.

Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e por pesquisadores da Inglaterra e da Itália apontou um possível novomecanismo de ação do medicamento hepari na, um anticoagulante, no tratamento do coronavírus ( covid-19 ).

Além de inibirdistúrbios de coagulação que podem afetar vasos do pulmão e prejudicar a oxigenação, o medicamento parece também ser capaz de dificultar a entrada do novo coronavírus nas células.Os pesquisadores realizaram testes de laboratório em linhagem celular proveniente do rim do macaco-verde africano ( Cercopithecus aethiops ) e a heparina reduziu em 70% a invasão das células pelo novo coronavírus.

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Em entrevista à Agência Fapesp,Helena Bonciani Nader, professora da Unifesp e coordenadora do projeto entre os brasileiros, afirmou que existiam indícios de que a heparina também tinha capacidade de prevenir infecções virais, incluindo por coronavírus, mas as evidências não eram muito robustas. Entretanto, os pesquisadores conseguiram comprovar essa propriedade do medicamento em ensaios in vitro.

A pesquisadora estuda há mais de mais de 40 anos os glicosaminoglicanos – classe de carboidratos complexos à qual a heparina pertence – e desenvolveu as primeiras heparinas de baixo peso molecular, usadas clinicamente como agentes anticoagulantes e antitrombóticos, inclusive em pacientes com covid-19.

Uma das descobertas feitas ao longo deste período foi que a heparina é um medicamento multialvo, pois além do seu efeito na prevenção da coagulação do sangue pode se ligar a diversas proteínas. Entre elas, fatores de crescimento e citocinas que se ligam a receptores específicos na superfície de células-alvo.

Nos últimos anos, estudos feitos por outros grupos sugeriram que as proteínas de superfície de outros coronavírus até então relatados poderiam se ligar a um glicosaminoglicano das células de mamíferos, chamado heparam sulfato, para infectá-las.

Com o surgimento do novo coronavírus, os pesquisadores da Unifesp tiveram a ideia de avaliar se a proteína de superfície do novo coronavírus responsável pela infecção das células – chamada proteína spike – se liga à heparina, uma vez que a molécula do fármaco tem estrutura muito semelhante à do heparam sulfato.

Os experimentos confirmaram a hipótese. Por meio de técnicas de ressonância plasmônica de superfície e de espectroscopia de dicroísmo circular, observou-se que a heparina, ao se ligar às proteínas spike da covid-19, causa nessas moléculas uma alteração conformacional. Dessa forma, avaria a “fechadura” para entrada do vírus nas células.

Os pesquisadores também avaliaram quais formas estruturais da heparina apresentam melhor interação e são capazes de mudar a conformação das proteínas spike do novo coronavírus, com base em uma biblioteca de derivados e em diferentes fragmentos da molécula, definidos por tamanho.

Agora, os pesquisadores estão fazendo mudanças estruturais em heparinas para identificar uma molécula que apresente o mesmo efeito de ligação e mudança conformacional da proteína spike do novo coronavírus, mas que cause menos sangramento – um potencial efeito colateral do fármaco. Além disso, também estão testando outros compostos chamados de heparinas miméticas – que mimetizam a ação da heparina.

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