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Do moletom às roupas digitais. Como a pandemia impactou a moda em 2020

Se os hábitos sociais moldam a moda, o ano de 2020 impactou o segmento com resgate de tendências e criações digitais

Campanha da grife da Marina Ruy Barbosa, a Ginger (Divulgação/Divulgação)

Campanha da grife da Marina Ruy Barbosa, a Ginger (Divulgação/Divulgação)

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Julia Storch

Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 15h25.

Última atualização em 28 de dezembro de 2020 às 15h29.

Ficar em casa, devido à pandemia, trouxe mudanças no modo de se vestir. Roupas confortáveis, como conjuntos de moletom e técnicas de faça você mesmo, como crochê e tie dye, foram tendências neste ano. Grandes marcas e semanas de moda também tiveram que se adaptar aos novos hábitos, transformando grandes eventos físicos, como a London Fashion Week e apresentações para 2021 de grifes como Prada, Dior e Chanel, para o digital. 

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Conforto para dentro de casa

Escritórios convertidos para a sala e os quartos de casa. Reuniões nas quais, quando com a câmera ligada, mostra-se somente o torso e uma camisa. Com a pandemia, a mais profunda declaração do fim das calças jeans, cintos e sapatos apertados, e o império das roupas confortáveis, incluindo o casual friday das empresas, foi expandido para todos os dias da semana, dentro e fora dos horários comerciais. 

Pesquisas no Google pelo termo “moletom”, cresceram antes mesmo do inverno chegar. Nos últimos cinco anos, a busca fica em torno dos 40% entre maio e junho. Porém, este ano, pela primeira vez a pesquisa alcançou o ápice das buscas, chegando a 100% na última semana de maio. Mas não pense que os clássicos conjuntos em mescla e preto continuaram na moda. Marcas como Fendi, Gucci, Balenciaga, Karl Lagerfeld e Dolce & Gabbana, têm à venda casacos que variam de R$ 1.200 (Karl Lagerfeld) a R$ 16.630 (Fendi) na Farfetch.

Em meio a tudo isso, famosos decidiram utilizar a busca por conforto para aliarem seus nomes ao lançamento das próprias marcas. As atrizes Marina Ruy Barbosa e Thaila Ayala estrearam em 2020 com as lojas online Ginger e AMAR.CA.  

Em julho, foi lançada a marca Ginger e a primeira coleção da label de Ruy Barbosa, denominada “Prefácio”. O lançamento contou com conjuntos de shorts, casacos com capuz e calças com composição 100% algodão orgânico, e em cinco tonalidades: laranja, lilás, bege, verde oliva e branco. Todas as peças esgotaram em apenas um dia. Ainda neste ano, a atriz também foi nomeada diretora de moda na Arezzo&Co.

Com 37 milhões de seguidores no Instagram, Marina Ruy Barbosa divulga a própria grife (Divulgação/Divulgação)

No mês anterior, em junho, Ayala foi mais uma vítima da rede de cancelamentos, ao lançar a marca nomeada VIR.US, em plena pandemia. Após alguns dias, a atriz decidiu renomear a loja com AMAR.CA, e publicando sua coleção de camisetas, calças e casacos de algodão, estampados com a técnica tie dye.

Mãos à obra. As técnicas de “faça você mesmo” para roupas que bombaram no ano

Sem mencionar a confecção de máscaras, que transformaram o visual e renda de muitas pessoas no ano, outras técnicas reviveram seus dias de glória em 2020, foram elas o tie dye e o crochê. 

Falando sobre as estampas tie dye, a técnica teve um boom em 2020. Famosa nos anos 60 e 70, com o movimento hippie, a estampa retornou mais de 50 anos depois, com a quarentena, em tutoriais de vídeos no YouTube e Instagram. O tie dye, com tradução para “amarrar e tingir”, foi um “faça você mesmo” que, pela primeira vez, alcançou 100% das pesquisas pelo termo no Google, em agosto. Além de marcas, como a mencionada AMAR.CA, a C&A lançou uma coleção da estampa em parceria com a cantora e ex-BBB Manu Gavassi.

Thaila Ayala cria marca de roupa vir.us e recebe críticas (Instagram/Reprodução)

Ainda sobre roupas “faça você mesmo”, produzidas durante a quarentena, o crochê também teve seu destaque. A técnica, feita em linhas de algodão multicoloridas, deixou o estereótipo de senhoras tricotando, e passou para os tiktokers. Bastou que o cantor inglês Harry Styles vestisse um cardigan em fevereiro, para que seus fãs no TikTok, criassem um desafio: reproduzir a peça. O cardigan da marca JW Anderson é composto por quadrados nas cores primárias, laranja, preto e verde, e na rede social, os vídeos com a #harrystylescardigan, possuem mais de 48.8 milhões de visualizações de jovens tricotando o casaco.

Em fevereiro, o cantor Harry Styles vestiu o cardigan da JW Anderson, e virou febre no TikTok (JW Anderson/Reprodução)

Jonathan Anderson, criador da marca, não só disponibilizou em seu site, um pdf com o passo a passo de como produzir a peça, como também doou o cardigan para o Museu Victoria & Albert, em Londres. No site do museu, ele diz que “tem sido incrível ver todo mundo tricotando o cardigã por conta própria”, e que a doação da peça para o museu significa “reconhecer a incrível criatividade e habilidade de todos, especialmente durante um período tão desafiador da história.” O casaco fará parte da coleção do museu que possui mais de cinco séculos de história da moda, mas ainda não foi informado quando o item será exposto ao público. 

Sustentabilidade: da revenda de produtos à confecção natural

Comprar de segunda mão é uma maneira menos poluente de se consumir, afinal, a peça já foi fabricada e está apenas sendo trocada de dono. Os brechós, podem ser tantos de luxo, como o da atriz Fiorella Matheis, quanto por pessoas físicas que constroem suas lojas nas redes sociais.

A apresentadora e ativista, Giovanna Nader fundadora do Projeto Gaveta (Reprodução/Instagram)

Além de consumir roupas de brechós, ressignificar as peças faz jus ao consumo consciente, e o termo “upcycling”, muito utilizado no segmento, se refere em dar uma nova cara à peça de roupa. Giovanna Nader, uma das fundadoras do Projeto Gaveta, é quem dá o tom em seu Podcast “O Tempo Virou”, e em sua conta no Instagram, com informações de consumo, ativismo ambiental, dicas de moda e de upcycling. Para 2021, o evento de trocas de roupa do projeto será online, no dia 20 de fevereiro, como revelado esta semana no Instagram do projeto. 

A pauta da sustentabilidade, que consome e assombra as lojas de departamento, tem demonstrado ser cada vez mais relevante para a moda. Marcas como as gigantes do fast fashion, a espanhola Zara e a sueca H&M, se propuseram a utilizar somente materiais reciclados ou de origens sustentáveis até 2025 e 2030 respectivamente. Assim como a Adidas, se comprometeu em utilizar apenas poliéster reciclado em seus produtos até 2024. 

Porém, em um país como o Brasil, com uma flora que disponibiliza recursos naturais e sustentáveis para a confecção, marcas nacionais despontam no quesito sustentabilidade. Exemplos como a marca Flavia Aranha, pioneira em sustentabilidade na moda, com o seu certificado no Sistema B, e tingimentos naturais, feitos como urucum, jabuticaba e casca de cebola. E a Aluf, da paraense Ana Luisa Fernandes, lançada em 2017 teve sua estreia em 2018 no São Paulo Fashion Week. A marca utiliza apenas tecidos 100% sustentáveis e ou naturais, como por exemplo, a seda, proveniente do descarte da indústria no sul do país. 

Além do Brasil Eco Fashion Week, que este ano virtualizou o evento com o tema “Conectar para Regenerar: Moda e Planeta”, em novembro. E contou não só com desfiles online, mas também com cinco dias de palestras e workshops. Fora do país, marcas e eventos de moda também converteram os eventos físicos para as telas. 

Moda digital

Milão e Londres, duas das capitais que se transformam e recebem grande público durante as semanas de moda, mas não em 2020. Epicentro do Covid-19 na Europa, Milão ficou abalada durante o ano, e um dos seus principais eventos, a semana de moda, foi convertida para o digital. Para além das passarelas, a semana de moda de Londres pôde imergir seus convidados nas concepções dos estilistas para as criações, como suas anotações, além de playlists, podcasts, fashion films e é claro, lives. 

Porém, a moda digital não configura somente aos eventos transmitidos por câmeras. Roupas digitais fizeram a vez este ano. A marca Hanifa, colocou o Congo em evidência, com a apresentação hipnotizante da nova coleção digital “Pink Label”, em que corpos invisíveis, modelam vestidos, calças e macacões. A estilista Anifa Mvuemba, utilizou da plataforma para que a coleção “inspire as  mulheres a se levantarem, assim como na República Democrática do Congo, a usarem sua voz, seja bonita ou dolorida, para redesenharem seu futuro”.

Dos jogos virtuais, os usuários criam seus avatares e estilos. Sejam estes uma personificação, ou uma invenção. Hoje em dia, é possível ir além, e vestir roupas de grife, muitas vezes pouco acessíveis no mundo físico. Marcas como Moschino, que em 2019 lançou uma coleção para os avatares do The Sims, trouxe à realidade virtual, um guarda-roupa da marca italiana por apenas R$ 39. Já no jogo Animal Crossing, onde personagens e animais convivem em uma vila, são combinadas atividades como pesca, escavação de fósseis e colheita de legumes, com a possibilidade de vestir de Valentino a Dior e Balenciaga. 

Em um ano cheio de adjetivos negativos, houve um resgate de confecção como "nos velhos tempos", em que produzir as próprias peças era mais do que um passatempo. Também foi um ano de adaptação para antigos eventos, criando novos formatos e ideias que poderão ser levados para os próximos anos, e melhorados a cada edição.

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