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Clássicos não morrem: a coquetelaria afetiva

Existe uma vida de bares incrível na Itália, muita novidade, design etc. mas não era isso que procurava

 (Peter Adams/Getty Images)

(Peter Adams/Getty Images)

Publicado em 18 de junho de 2023 às 08h00.

Fui para Milão a trabalho mês passado. Minha primeira vez na Itália, tinha essa dívida moral com meus antepassados, aproveitei então para estender um pouco mais essa viagem e me conectar com o antigo.
Na mesma semana que cheguei, infelizmente, perdemos uma grande referência para a coquetelaria daqui, Mestre Derivan. Uma figura importante, que quando eu estava começando na área era a grande referência. Visitei muitas vezes o balcão dele, sempre foi muito gentil, gostava muito de ouvir suas histórias, foi um desbravador. Um clássico. Ele flanava no balcão, nunca vi ele nadar, mesmo com muito movimento, não perdia a estatura, o terno jaquetão creme sempre estava limpo.

Foi triste receber a notícia, mas temos que encontrar alguma beleza nessa vida, saber que estamos de passagem. Me lembrou ano passado quando perdi um grande amigo. No caminho para o velório estava tentando entender o porquê dessa injustiça, é um exercício encontrar alguma poesia nessas situações. Mas libertador também. Ocorre uma conexão, podemos dizer, interna, com sua essência. Disso que quero falar, foi um privilégio poder me conectar com o antigo.

Existe uma vida de bares incrível na Itália, muita novidade, design etc. mas não era isso que procurava, estava atrás de história, da minha pessoal, isso inclui família, mas também minha vida etílica!

Da pessoal podemos falar numa mesa de bar um dia desses se tiverem a sorte de me encontrar em um balcão por aí. Da etílica que quero falar, frequentei praticamente todos os dias o Camparino, foi inaugurado 1915 pelo filho do fundador da gigante italiana, que lugar! Sim, extremamente turístico, está na galeria Vittorio Emanuelle, em frente ao Duomo, não poderia ser diferente. O cardápio é pequeno, obviamente que todos as receitas vão Campari, e tem comidas também. O atendimento é eficiente, mesmo cheio as mesas rodam, realmente tudo flui muito bem. O bar é relativamente pequeno, balcão lindo, garçons e bartenders de jaqueta branca, serviço clássico feito por jovens, a tradição é mantida. Copos exclusivamente desenhados, nem isso incomodou. Cumpre lindamente o papel que entendo por um bar, pode ser apenas uma passagem ou um lugar para ficar. Claro que se comparado a lugares modernos, vai perder feio, principalmente pela oferta de coquetéis, porém, ano passado o coquetel mais vendido no mundo foi o Negroni, tem uma sabedoria aí.

A questão não é comparar, mas saber ver o valor, o quão inovador foi um lugar há mais de cem anos e que continua mantendo o padrão. Isso é para poucos.

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