Carreira

Mais da metade dos profissionais tem medo de perder o emprego para a IA. Como acompanhar os avanços?

Desemprego e privacidade estão entre as maiores preocupações dos profissionais latinos com o avanço da IA no trabalho, segundo estudo da Page Interim

Mexicanos e brasileiros aparecem na pesquisa como aqueles que mais utilizaram ferramentas de IA para busca de emprego (48,7% e 46,9%, respectivamente) (Divulgação: zhuweiyi49/Getty Images)

Mexicanos e brasileiros aparecem na pesquisa como aqueles que mais utilizaram ferramentas de IA para busca de emprego (48,7% e 46,9%, respectivamente) (Divulgação: zhuweiyi49/Getty Images)

Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 12h34.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2024 às 15h30.

Três em cada quatro profissionais brasileiros acreditam que a inteligência artificial substituirá seus empregos. É o que aponta o estudo da Page Interim, unidade de negócio do PageGroup especializada em recrutamento, seleção e administração de profissionais terceirizados e temporários. De acordo com a pesquisa, 76,6% dos brasileiros respondentes creem que a IA afetará parcialmente os postos de trabalho na área em que atuam. Também acreditam nessa possibilidade os respondentes do Panamá (69%), México (68%), Peru (66%), Colômbia (65%), Chile e Argentina (63%, cada).

Os dados fazem parte de um levantamento realizado de novembro a dezembro de 2023, contando com a participação de 5.354 profissionais da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Panamá). A pesquisa procurou entender como a inteligência artificial tem impactado na vida, no trabalho e busca por emprego de profissionais da região.

A maior preocupação com a IA

Um dos questionamentos da pesquisa foi identificar por meio desta amostra de profissionais latinos se há alguma preocupação em relação à implementação da inteligência artificial no trabalho.

Entre os itens que mais se destacaram em quase todos os países, exceto na Argentina, onde há maior preocupação no uso da IA com implicações éticas do que com o desemprego, estão:

  • Desemprego,
  • Privacidade,
  • Segurança de dados,
  • Falta de julgamento humano.

Quando questionados sobre o uso da inteligência artificial dentro de sua área de atuação, os profissionais de todos os países destacaram que a tecnologia tem potencial para ser benéfica, mas apresenta riscos significativos (61,5%). Também afirmaram que é um divisor de águas e que vai revolucionar a indústria (32,1%). Aqueles que acham que é exagerado e não terá um impacto significativo somaram 3% e os que ainda não sabem, 3,4%.

“O uso da inteligência artificial não está revolucionando apenas a forma como as pessoas lidam com a tecnologia, mas também abrindo novas oportunidades no mercado de trabalho. Novas posições devem surgir e outras já estão sentindo os reais impactos que a IA traz logo de cara”, afirma Victoria Quintella, diretora da Page Interim, que reforça que a inteligência artificial pode trazer tanto riscos quanto benefícios.

“Os profissionais já perceberam que a IA pode e vai trazer muitos benefícios, como produtividade e novas oportunidades no mercado, mas também já enxergam os eventuais riscos que ela pode causar, inclusive atingindo diretamente seus postos de trabalho”, diz Quintella.

Inteligência artificial e a busca por emprego

Outro assunto abordado no levantamento foi sobre familiarização dos profissionais com inteligência artificial e suas aplicações no processo de busca por emprego. Metade dos respondentes (50,4%) afirmou que já ouviu falar sobre IA, mas não sabe muito sobre suas aplicações. Aqueles que se declararam familiarizados com IA somaram 24,2%. Já os que não estão por dentro do assunto representaram 25,4% dos respondentes.

Mexicanos e brasileiros aparecem como aqueles que mais utilizaram ferramentas de IA para busca de emprego (48,7% e 46,9%, respectivamente). Na sequência aparecem panamenhos (42,9%), argentinos (42,7%), colombianos (41,2%), chilenos (39,8%) e peruanos (37%).

Entre os benefícios mais destacados pelos respondentes no uso da IA para buscar um emprego, os que mais apareceram foram:

  • Economia de tempo (70,2%),
  • Personalizar aplicativos de forma mais eficiente (67%),
  • Encontrar posições mais relevantes (63,2%),
  • Melhorar o currículo (60,1%),
  • Melhorar a entrevista (50,1%).

“Ainda há muito a ser conquistado e explorado por meio da IA no mercado de trabalho. A tecnologia, por mais que tenha trazido muitos ganhos num curto espaço de tempo, ainda não conta com o domínio de boa parte dos profissionais. Assim que essa barreira for rompida, veremos novos formatos e experiências a partir do uso da inteligência artificial”, afirma Quintella.

O que fazer para se destacar no mercado usando a IA?

Globalmente, estima-se que as competências necessárias para os empregos mudem pelo menos 65% até 2030, à medida que os rápidos desenvolvimentos na Inteligência Artificial aceleram as mudanças no local de trabalho, segundo estudo do LinkedIn divulgado em 2023.

Assim como no estudo da PageGroup, o estudo do LinkedIn traz um recorte interessante sobre o interesse dos brasileiros em conhecer a IA: segundo o estudo do LinkedIn, quase todos os profissionais brasileiros (97%) estão entusiasmados em usar IA no trabalho.

O interesse dos brasileiros em conhecer e praticar a IA traz uma boa expectativa sobre o que esperar do mercado de trabalho nacional, mas por onde começar?

  • Acompanhe quem entende do assunto

O primeiro passo é acompanhar quem se destaca na área de IA, afirma Thomas Costa, head comercial do Infojobs e especialista em software de RH no Pandapé.

“Para se envolver no mundo da IA sugiro olhar para os grandes players internacionais, principalmente potências na China e EUA. Hoje, já existem alguns especialistas em IA no Brasil e acredito que o ponto de partida é segui-los nas redes sociais e entender o pensamento e o que eles indicam. Aprofundar em artigos e estar atento aos novos lançamentos de cursos focado nas linguagens específicas também pode ajudar.”

  • Crie uma cultura de proximidade com a tecnologia

Outra medida que pode ser adotada para não ficar desatualizado é desenvolver uma cultura de proximidade e inovação com a tecnologia, segundo Maiara Muraro, vice-presidente de Marketing, Inovação e Comercial da Avivatec, consultoria de tecnologia e inovação com destaque em negócios, que reforça que esse “sentimento” de cultura é tão importante que, segundo o Relatório do Futuro dos Empregos, 75% das empresas pesquisadas pelo Fórum Econômico Mundial planejam adotar IA em suas operações até 2025.

“O ideal é começar com a compreensão de conceitos básicos, como machine learning, deep learning, cloud Computing e algoritmos de IA. Além disso, pode ser muito positivo explorar como a IA está impactando diferentes setores de atuação e identificar as oportunidades de aplicar essa tecnologia no dia-a-dia.”

  • Coloque em prática

Para quem não é da área, Rose Ramos, CEO e fundadora da MatchIT, uma deeptech com soluções de IA aplicadas à gestão da inovação, apoiou a transformações digital de diferentes empresas ao longo dos seus 15 anos de carreira e recomenda aos profissionais buscar conhecimento em cursos introdutórios em universidades reconhecidas no mercado, além de experiências práticas onde caiba inserir a vivência da IA no trabalho. “É interessante também compor grupos de discussão e co-construção setoriais e participar dessa evolução desde o princípio.”

Assinar jornais, revistas e newsletters reconhecidas por sua credibilidade no tema também ajudará a separar informação útil e confiável do que é menos relevante ou potencialmente falso, afirma a executiva da MatchIT.

Os desafios do Brasil com a IA

O executivo da Infojobs reforça que o Brasil tem potencial para ser um dos países que pode revolucionar o mercado de trabalho por meio da IA, mas a qualificação profissional é um grande desafio no país hoje. No relatório "Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil", lançado pela Academia Brasileira de Ciências, há um alerta sobre a possibilidade do Brasil em se tornar apenas um usuário de tecnologias desenvolvidas no exterior.

“Pensando em termos de negócio e analisando um panorama mundial, sabemos que Estados Unidos e China são grandes potências no assunto, mas a Academia Brasileira de Ciência está otimista de que o Brasil não fique de fora desse movimento, principalmente porque fornece dados, ajuda com mão de obra qualificada e coloca luz na infraestrutura.”

“Na avaliação final, a Academia constatou que para o país deslanchar nesse sentido é preciso ter mão de obra qualificada”, afirma Costa, que reforça a importância das empresas em dar insumos para que seus funcionários se desenvolvam no setor.

Dados recentes mostram que o mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI) está em expansão globalmente.  Segundo a projeção do IDC, o setor deve crescer 11% na América Latina em 2024. O número representa uma desaceleração em relação ao avanço estimado para o ano passado de (15%). Ainda assim, o Brasil deve se destacar, apresentando um crescimento do setor de 12%, superior em relação à média da região, e passando até mesmo os Estados Unidos (9%), segundo a executiva da Avivatec.

“O mercado brasileiro tem vivido um crescimento expressivo na área da tecnologia e está se consolidando como um polo de inovação na América Latina, desafiando até mesmo grandes potências. Essa competitividade deve impulsionar ainda mais o desenvolvimento de soluções pioneiras e a expansão para novos horizontes.”

“Olhando para frente, as tendências apontam para uma maior integração de tecnologias como inteligência artificial e machine learning, elevando a experiência do usuário a um novo patamar”, diz Muraro.

Quais áreas serão as mais afetadas pela IA?

Um estudo publicado pelos criadores do ChatGPT, da empresa norte-americana OpenAI, mostrou que 80% dos empregos nos EUA podem ser afetados pelo ChatGPT em pelo menos 10% das tarefas de rotina, e quase 20% da força de trabalho norte-americana podem assistir a 50% do trabalho serem modificados pela tecnologia.

“O que ficou evidente é que há menos probabilidade de habilidades científicas e de pensamento crítico serem afetadas pelas tecnologias atuais, enquanto habilidades de programação e escrita são mais suscetíveis”, diz Costa.

Por outro lado, o executivo da Infojobs reforça que é preciso entender que novas profissões surgem a partir da IA e esses novos lançamentos chegam para somar com as empresas. “Há um enorme ganho no recrutamento e seleção, por exemplo, com a possibilidade de descrever vagas com maior eficiência, apoiar em testes e perguntas para entrevistas e até mesmo na comunicação com candidatos e funcionários, reduzindo inclusive a taxa de turnover.”

O destaque do mercado será para o profissional criativo e que precisa desenvolver um pensamento crítico em sua atividade, diz a fundadora da MatchIT.

“Não vejo a IA com um olhar de preocupação, mas de transformação. Algumas atividades profissionais deixarão de existir, mas outras novas gerarão mais oportunidades, em trabalhos onde o potencial único humano pode agregar mais valor. Escopos que envolvam pensamento crítico, criatividade, empatia e visão sistêmica tendem a ganhar muito espaço, enquanto escopos de cunho repetitivo sistêmico ganharão eficiência e acurácia com a IA.”

Para a executiva da Avivatec, a tecnologia já é uma realidade em muitos setores, principalmente em áreas como o de telecomunicações, serviços financeiros e seguro que dependem de tarefas repetitivas e análises de dados; mas a executiva reforça que todas as áreas serão um dia impactadas ou pautadas por essa tecnologia que veio para analisar e processar informações de forma mais rápida e precisa.

“As pessoas não deveriam ficar preocupadas sobre quais áreas serão afetadas, afinal todas as áreas precisarão estar por dentro da IA. Hoje, usar a IA como aliado em seu dia a dia já é papel de qualquer profissional que busca ‘não parar no tempo’.  A IA já é uma realidade e só temos a opção de torná-la parte da nossa rotina. Ao contrário disso quem ficará para trás somos nós.”

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