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Nicolas Ballian: Os impactos da crise alimentar mundial

Brasil tem a oportunidade de minimizar a crise, internamento e mundialmente

Fome (Reprodução/Youtube/Reprodução)

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Publicado em 9 de novembro de 2022 às 21h00.

O risco geopolítico é constante, mas ainda sob os efeitos de uma pandemia, guerra Rússia e Ucrânia e de uma transição climática, que não está tão avançada quanto os próprios governos, agências, organizações não governamentais e demais participantes de mercado, a ligação entre geopolítica, economia e negócios está se estreitado.

Os EUA continuam sendo a maior potência econômica, militar e diplomática, porém a China está crescendo em iminente ameaça a cada um desses domínios. Tudo isso em um cenário econômico de baixo desempenho e recessão global.

A Ucrânia e a Rússia são responsáveis por mais de um décimo de todas as calorias negociadas em nível global, produzem 30% das exportações mundiais de trigo (bem como 60% de seu óleo de girassol) e fornecem pelo menos metade dos grãos para mais de 26 países.

Os grãos já colhidos na Ucrânia ficaram retidos, por conta dos portos foram bloqueados e militarizados. Do ponto de vista da produção de matérias para insumos agrícolas ou ainda fertilizantes, tem ambos tem destacada posição mundial.

Em 22 de julho deste ano, Ucrânia e a Rússia assinaram um acordo (mediado pela ONU e pela Turquia) para desbloquear três portos ucranianos no Mar Negro. No último dia 29 de outubro, a Rússia se retirou do acordo. Até agora, mais de 30 navios exportaram insumos e alimentos da Ucrânia, aliviando a pressão sobre os preços dos commodities. Indústrias e produtores russos ainda podem produzir, mas as exportações foram prejudicadas pelas sanções internacionais.

Com Rússia e China impondo limitações e restrições de fornecimento de insumos e fertilizantes, há agora uma escassez global que reduzirá o rendimento das próximas colheitas.

A China pode intensificar ainda mais a crise no fornecimento de alimentos, pois além as restrições ainda implementadas por consequência da COVID-19, e dos impactos nas cadeias de fornecimento e questões logísticas, seis das províncias atingidas pela seca neste verão representaram cerca de metade da produção de arroz da China em 2021.

De acordo com o índice de preços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês), os preços dos alimentos aumentaram 7,9% em agosto em relação ao ano anterior, abaixo dos 16,6% em julho e 23,1% em junho.

A insegurança alimentar causou a Primavera Árabe em 2011. O aumento dos preços dos alimentos e da energia (que vemos atualmente na Europa) provocou protestos no Sri Lanka que resultaram na renúncia do presidente e do primeiro-ministro. Custos de capital em elevação, e um dólar mais forte tornam mais difícil para os mercados continuarem subsidiando alimentos, mas sem esses subsídios, pode surgir fome e agitação social e política.

As economias desenvolvidas também estão expostas à crise de insegurança alimentar. Da mesma forma estão expostos a questões inflacionárias que vimos recentemente, impulsionada também pelo aumento de preços de alimentos, combustíveis, energia, logística.

Você já deve ter ouvido a frase: Brasil, celeiro do Mundo. Sozinho, o país alimenta cerca de 900 milhões de pessoas por ano e destaca-se mundialmente como principal exportador de grãos e outros commodities de alimentação.

Apesar do reconhecimento alcançado pelo país em ser uma potência na produção de alimentos, vimos que esta afirmação não é de todo verdadeira, principalmente durante a pandemia. Segundo pesquisa do Centro de políticas Sociais FGV Social, o número de famílias sem dinheiro para se alimentar passou de 30% em 2019, para 36% em 2021, o que colocou o Brasil, pela primeira vez na história, acima da média mundial.

Segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 33 milhões de brasileiros passam fome. Se olharmos a questão das pessoas em vulnerabilidade alimentar, 56% têm falta de alimentos e nutrientes por não ter como comprar comida.

Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor agrícola do planeta, ficando atrás apenas da China e Estados Unidos. Contudo, a ONU, através de sua seção de agricultura e alimentação, afirmou em seu relatório de perspectivas agrícolas de 2015, que o Brasil se tornará o maior exportador de produtos agrícolas do mundo em 2024. Diante deste cenário, o Brasil tem a grande oportunidade de minimizar os impactos da crise alimentar, seja internamente ou mundialmente.

*Por Nicolas Ballian é Managing Director de Avaliação de Empresas da Kroll

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